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Segurança dos Brigadistas de Solo Durante Operações Aéreas

Em meus 35 anos como brigadista de solo, estive envolvido e tomei conhecimento de muitas histórias sobre experiências de quase-morte. Estas histórias muitas vezes envolviam brigadistas de solo sendo atingidos por uma parte de 12 toneladas de retardante lançado a 150 nós ou de aeronaves de combate a incêndio atingindo fios e perdendo metade de suas caudas Infelizmente, é verdade que brigadistas de solo tem sido seriamente feridos ou mesmo mortos durante operações aéreas, sendo atingidos por lançamentos de retardante e água.

Conheci alguns brigadistas de sorte que se viram desorientados e sem fôlego. Quando eles se deram conta, eles tinham sido lançados para trás da linha,estavam cobertos de retardante ou água, e estavam embaixo de qualquer coisa que estivesse próxima, como um caminhão ou uma árvore. Digo “de sorte” porque eles sobreviveram para contar o caso. Infelizmente, em  2018, os bombeiros de solo tiveram um brigadista morto devido à queda de uma árvore atingida por um lançamento aéreo de retardante.

A segurança dos brigadistas de solo em operações aéreas tem sido descrita como se deitar de cara no chão, com sua cabeça coberta e na direção do lançamento, com sua ferramenta ao seu lado. Dezessete anos atrás, deixei de ser brigadista no solo para ser piloto-bombeiro. Tendo feito as duas coisas, agora me dou conta de que é necessário muito mais para se sobreviver durante um lançamento aéreo. O uso deste conhecimento irá ajudar aqueles de nós envolvidos durante o combate aéreo ao fogo. Também tornará mais fácil e mais seguro aos pilotos-bombeiros apoiar operações no solo . 

O objetivo de todo piloto-bombeiro é fornecer a operação mais segura e efetiva para apoiar os brigadistas de solo e suas táticas. Estar seguro significa manter boa comunicação; saber a localização de outras aeronaves e dos riscos no solo tais como fios, torres e estaiamentos; estar ciente da localização dos brigadistas no solo; ter objetivos operacionais objetivos claros e atingir alturas de lançamento seguras. Ser efetivo significa fazer o lançamento ideal: sem “sombreamento”, em linha contínua, sem esburacar o chão, com boa penetração da vegetação, com o nível de cobertura apropriado, resultando em uma linha que contém o fogo conforme esperado.

Então, por que precisam os brigadistas de solo contatar e se comunicar com o supervisor do grupo aéreo tático ou coordenador de helicóptero comandando o combate aéreo sobre o fogo? A resposta é simples: os bombeiros-aéreos tem uma visão geral do fogo sendo combatido. Nós podemos aconselhar os brigadistas no solo sobre o comportamento do fogo, razão de crescimento, tamanho, localização, acesso e equipamento que pode ser necessário ser chamado ou cancelado. Nós podemos identificar linhas de fogo secundárias ou sanar qualquer outra dúvida tática que o pessoal no solo possa ter. E mais, estamos próximos quando alguém se vê em risco e precisa de ajuda. Nós podemos direcionar apoio adicional no local.

Já nós no ar precisamos de ajuda na identificação de obstáculos no solo ou comunicação a respeito de algo fora do lugar ou caindo do avião. Pilotos-bombeiros têm colidido com obstáculos do solo tais como fios de energia elétrica ou de telefone, postes e torres, antenas, cabos atravessados sobre vales e riachos, outras aeronaves, mato, árvores e outros obstáculos escondidos pela fumaça. Todos estes obstáculos do solo precisam ser informados aos pilotos-bombeiros.

Então como contatar o supervisor aéreo, avião-líder, bombeiro-aéreo ou helicóptero? Todas as aeronaves têm duas frequências de rádio de escuta obrigatória. Essas duas frequências são geralmente monitoradas por nós no ar. O primeiro canal de escuta obrigatório para a maior parte das agências é o AIR GUARD, uma frequência que nunca muda em aviões-bombeiros e que deve ser usada como chamada geral. 

A segunda frequência de escuta obrigatória é geralmente a chamada “Air to Ground”. Esta frequência é geralmente designada por região e pode mudar de um fogo para o outro. “Air to Ground” é a frequência mais apropriada para se contatar alguém no ar e deve ser monitorada continuamente. Se brigadistas de solo decidem não monitorar o “Air to Ground”, eles se arriscam a não ser localizados pelo supervisor aéreo para lhes dar instruções ou identificar um perigo.

O supervisor aéreo monitora até cinco ou seis rádios simultaneamente e pode ficar saturado, priorizando aqueles a responder. Isso torna essencial que se anuncie a frequência ao se chamar uma aeronave.

Então como fica quando não somos seguros e efetivos?  

As considerações de segurança de pilotos-bombeiros e de brigadistas de solo devem ser identificadas e comunicadas conforme necessário. Para evitar ferimentos em brigadistas no solo ou mesmo mortes em lançamentos de retardante, a carga de retardante lançada por bombeiros-aéreos tipos 1 e 2 deve ser lançada a uma altura de 50 metros; as lançadas por bombeiros-aéreos de muito grande porte a 70 metros acima da vegetação mais alta, conforme política e contrato. Isso ajuda a garantir a segurança de operações aéreas e terrestres, já que a proximidade com a vegetação e o terreno pode afetar o tempo de reação dos pilotos. Não se engane; helicópteros também feriram brigadistas no solo com lançamentos de água. 

A altura de lançamento é crítica, não apenas para segurança de brigadistas no solo como de pilotos, mas também para a efetividade do lançamento. Temos observado ao longo dos anos uma propensão para se fazer lançamentos mais baixos quando as coisas parecem precisar de mais efeito. Como dizemos na comunidade de pilotos-bombeiros, “na linha, no alvo, nem sempre significa que estamos sendo efetivos”. 

Se o vento é tão forte que o retardante não está sendo efetivo, pergunte-se a si mesmo: “deveríamos estar pedindo às tripulações que cumpram essa missão?” Eu desafio você a proativamente levantar essa questão com o comandante no incidente ou coordenador aéreo .Embora seja uma decisão difícil, é uma excelente hora para se pensar em parar as operações aéreas naquela parte do incidente.

Então como você sabe se um lançamento de retardante será efetivo? Primeiro, precisamos entender o que acontece ao retardante quando ele sai do avião. O retardante dentro do avião viaja na mesma velocidade dele. Quando a comporta abre, o retardante é lançado para fora, por gravidade ou pressão do ar dependendo do sistema de lançamento. Assim que ele sai do avião, o retardante começa a perder velocidade ao atingir o vento relativo, quebrando-se de uma grande massa para gotas menores. O ideal é que todo retardante atinja a área alvo como uma chuva suave, direto para baixo, sem movimento para frente.

O retardante caindo como chuva, direto para baixo, terá a melhor penetração na copa de vegetação combustível, resultando na melhor cobertura da vegetação combustível. Retardante com velocidade para frente, por outro lado, irá causar o que se chama de “sombreamento”, onde apenas um lado da matéria combustível é coberta, e o outro lado é deixado intocado enquanto o retardante passa por ele. Seria o equivalente de se lavar alguém com uma mangueira na horizontal. A pessoa só se molha onde o jato d’água atinge, enquanto que se a água fosse jogada para cima e deixada cair, haveria uma cobertura mais tridimensional . 

Para determinar se a velocidade para frente da carga lançada foi eliminada, precisamos observar a frente do lançamento. Se uma linha de falhas é visível, é provável que ainda houvesse velocidade para frente na carga de retardante. Espaços criados dentro do jato de retardante causam essas falhas, ou massas individuais de retardante viajando com tanta velocidade que o ar não teve tempo de quebrá-las em gotas para eliminar sua velocidade para a frente. Aqui estão algumas fotos para ajudar a ilustrar a dinâmica de lançamento . 

Agora que entendemos a dinâmica de lançamento, podemos falar de efetividade. Nem todos os lançamentos serão efetivos, e muitas variáveis devem ser consideradas ao se avaliar o resultado. Se o lançamento fez o que você esperava, ele foi efetivo. Se não, o que aconteceu? A primeira coisa a se avaliar é o nível de cobertura usado no lançamento – a quantidade de retardante usada. Este nível de cobertura é calculada pelo número de galões espalhados em 100 pés quadrados –  um quadrado de 10 por 10 pés. Se quisermos cobertura nível 1, calculamos um galão de cobertura em 100 pés quadrados, cobertura nível 2 equivalendo a 2 galões por 100 pés quadrados, e assim por diante. Os pontos básicos de partida para determinar a cobertura adequada são como se segue:  

  • Níveis de Cobertura 1-2 são bons para grama.
  • Níveis de Cobertura 3-4 são bons para grama/vegetação baixa 
  • Níveis de Cobertura 4-5 são bons para vegetação baixa
  • Níveis de Cobertura 6-8 são bons para vegetação baixa e florestas

Às vezes, a matéria combustível e o comportamento do fogo são tais que nenhuma quantidade de retardante o detém. O que pode estar sendo esquecido é que o retardante é chamado de retardante porque é isso que ele faz – do contrário, nós o chamaríamos de extintor de fogo. Outras indicações de lançamento inadequado incluem mas não se limitam às seguintes:

  • Rendilhamento, onde há partes mais largas e mais finas na linha de retardante. Isto pode ocorrer por um mau alinhamento de lançamentos paralelos ou por ventos de través.
  • Sombreamento, quando o retardante atinge a copa com velocidade para a frente. É necessário aumentar a altura de lançamento.
  • Muita deriva devido ao vento, onde o retardante cai fora do local onde seria útil.
  • A linha é muito estreita, o que pode indicar que o avião-bombeiro estava muito baixo, ou as condições do material combustível e as condições do fogo são tais que necessitam de uma linha de dupla largura.
  • O solo e a vegetação estão fisicamente alterados (incluindo galhos quebrados), o que é um sinal definitivo de que o avião-bombeiro estava muito baixo.
  • O retardante não está penetrando na copa da mata. Isto é difícil de superar, mas um retardante com menor viscosidade ou um maior nível de cobertura podem aumentar a penetração. Solicite um nível de cobertura maior.
  • As consequência de lançamento inefetivos podem acabar se acumulando se correções não forem feitas e comunicadas aos bombeiros aéreos, com estes resultados potenciais:
  • O fogo atravessando as linhas de retardante
  • Aumento do fogo, exigindo mais lançamentos
  • Maior exposição de brigadistas de solo e de bombeiros aéreos
  • Maior potencial de ferimentos em brigadistas no solo
  • Danos a equipamento e brigadistas

A segurança dos brigadistas do solo é prioritária. Existem várias maneiras pelas quais os brigadistas no solo podem ser informados de que um lançamento de retardante é iminente. Uma pode ser um aviso por rádio do supervisor aéreo ou do piloto-bombeiro. Outra pode ser uma passagem “a seco” de um avião-líder,  o qual indica ao avião-bombeiro o local do lançamento, ou pelo próprio avião-bombeiro. Quando um avião-líder ou bombeiro sobrevoa acima, deve ser sempre entendido que um lançamento de retardante ocorrerá em 5-6 segundos naquele local. Os brigadistas no solo que se encontrem no caminho de um lançamento sem tempo de sair dali devem assumir a posição de lançamento. 

Mesmo os mais experientes pilotos estão sujeitos a erros humanos e às forças da natureza, na forma da fadiga, correntes descendentes e turbulência. Lançamentos a baixa altura têm lesionado gravemente brigadistas de solo, derrubado árvores e mata, amassado e seriamente danificado equipamentos no solo e movimentado grandes pedras. Os brigadistas no solo não podem ficar complacentes quando próximos a locais de lançamentos de aviões e helicópteros bombeiros . 

Outro risco invisível de operações aéreas é a turbulência dos vórtices. Estas são perturbações no ar causadas pelos vórtices gerados pelas pontas de asas de aeronaves em voo. Eles são redemoinhos horizontais que podem ter velocidades de 40 km por hora ou mais. Eles podem causar mudanças súbitas, violentas e erráticas no comportamento do fogo, tais como espalhamento e reignição do fogo.

Muitos brigadistas de solo se sentem confortáveis trabalhando em operações com helicópteros. Estas operações podem ocorrer com helicópteros usando tanques ou baldes. Baldes são pendurados naquilo que é chamado de  gancho de carga, o qual pode ser alijado remotamente. Os baldes variam de 300 a 5.600 litros, e podem pesar toneladas quando cheios. Não é comum que estes baldes sejam acidentalmente alijados, mas pode acontecer, assim os brigadistas no solo devem estar alertas.

Helicópteros com tanques usam um snorkel para sugar ou puxar água para um tanque fixado na fuselagem. Estes tanques variam em capacidade, de centenas a milhares de galões. A carga  pode ser dividida em múltiplos lançamentos ou lançado o total da carga de água. O perigo sob qualquer helicóptero ocorre quando os lançamentos são feitos em alta velocidade com uma carga “g” acrescentada ao lançamento. Esta manobra ajuda o piloto de helicóptero a lançar a água no fogo ou no material combustível. Também há risco quando uma quantidade substancial de água é lançada de uma vez só, como quando o helicóptero está pairando ou se movendo em velocidade muito baixa.

Então, o que deve um brigadista de solo fazer quando se encontra no caminho de um lançamento? Faça todo o possível para sair da área. Fique longe de árvores mortas, grandes ou velhas. Nunca, nunca fique no caminho de um lançamento para observá-lo. Os 5-6 metros centrais da faixa é onde a maior concentração de retardante irá estar. Ache algo sólido e fique atrás dele; se nada estiver disponível, assuma a posição de lançamento: de rosto para baixo na direção do lançamento, cobrindo sua cabeça e com sua ferramenta ao seu lado

Quando o alvo está encoberto, muitos brigadistas de solo ficam próximos, usando a si mesmos como referência para trazer o piloto. Tendo estado nesta situação, tanto no solo como no ar, conclui que usar um sinalizador, espelho, ou painel é a melhor opção. Após o lançamento, tome cuidado, já que retardantes são água com supressores que costumam ser muito escorregadios. Cuidado com onde pisa, e limpe qualquer retardante de suas mãos e das alças de suas ferramentas.

Em conclusão, é da maior importância que brigadistas de solo e pilotos-bombeiros mantenham boas comunicações e respondam de acordo. A boa comunicação resultará em operações de combate ao fogo mais efetivas e maior segurança para todo o pessoal envolvido.

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