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Tucano Aviação Agrícola

Na nossa capa (E-D): Adriano Rodrigues do Carmo, José Victor Paim, Eroci Roque Paim e Nelson Antônio Paim, da Tucano Aviação Agrícola, e Miguel Clodovi Paim, da DGPS & Cia.

Uma Empresa de Estilo Americano no Mato Grosso

Nelson Antônio Paim, também conhecido como “Poxoréu”, por conta da cidade onde reside no Mato Grosso, costuma dizer que a sua empresa, a Tucano Aviação Agrícola, cresceu “ao estilo de uma empresa americana”, quando conta sua história. Para entender isso, é necessário conhecer  um pouco a história da aviação agrícola brasileira. A aviação agrícola no Brasil só começou realmente a decolar entre o final dos anos 1960 e o início dos anos 1970, com a criação do primeiro CAVAG pelo Ministério da Agricultura em 1968 e o lançamento do Ipanema pela Embraer em 1972. Em 1975, o governo brasileiro, enfrentando uma grande dívida externa,  passou uma lei proibindo a importação de bens que tivessem similar nacional, o que fez do Ipanema a única opção para quem desejava comprar um avião agrícola novo. Esta proibição durou até 1991 e praticamente manteve os empresários aero agrícolas do Brasil sem familiaridade com os aviões de maior porte e a turbina que surgiram no mercado americano naquele período. Desta forma, sempre que uma empresa brasileira precisava atender a uma demanda maior, ela só tinha uma alternativa: comprar mais um Ipanema e contratar mais um piloto para voá-lo, já que substituir um avião de pequeno porte por um avião maior e mais produtivo, como costuma acontecer nos EUA, não era uma opção.

O hangar da Tucano Aviação Agrícola no Aeroporto de Primavera do Leste parece grande para uma empresa com três aviões, mas ele também serve como oficina de instalação e manutenção para GPS da Ag-Nav pela DGPS & Cia. O avião na porta do hangar é um Air Tractor AT-802 de um cliente da DGPS & Cia.

Quando a proibição de importação terminou, cerca de 85% da frota aeroagrícola brasileira era composta por Ipanemas, sendo o resto em sua maioria Cessnas C-188 e Pipers Pawnees anteriores a 1975, do mesmo porte aproximado dos Ipanemas, além de uns poucos Thrushes e Ag-Cats, todos radiais. Esta falta de familiaridade com os aviões de maior porte gerou uma falsa crença entre os empresários da época: que estes aviões (especialmente os turbinas) seriam grandes demais para as lavouras brasileiras. Demorou algum tempo para que alguns empresários progressistas e arrojados provassem que os aviões de maior porte também podiam ser operados lucrativamente no Brasil.

Um destes empresários foi Nelson Antônio Paim. Nascido em Ibiaçá, RS, em uma família de agricultores que se mudou para a cidade de Poxoréu quando ele ainda era criança, ele começou a voar em Campo Grande, MS, em 1989 e em 1993 fez seu CAVAG na Aero Agrícola Santos Dumont. Ele voou duas safras como piloto empregado, uma na Bahia em um Ipanema, e a segunda em Campo Grande. E já em 1996, tendo outro piloto como sócio, Nelson fundou a Tucano Aviação Agrícola em Primavera do Leste, com três Ipanemas arrendados.

Na época, Primavera do Leste estava rapidamente se tornando a cidade com maior número de aviões agrícolas do Brasil, possivelmente do mundo. A Tucano Aviação Agrícola prosperou rapidamente, e em 2000, Nelson se deu conta que os três Ipanemas arrendados não estavam dando conta da área que atendia. A solução normal para uma empresa brasileira seria comprar ou arrendar um quarto Ipanema, mas Nelson já olhava a experiência de outra empresa, a Aviação Agricola JB Mumbach. Esta foi a primeira empresa a operar aviões a turbina no Brasil, com uma frota de Air Tractor AT-502 nos anos 1990.

Um dos dois Air Tractors que a Tucano Aviação Agrícola tem hoje, um AT-402A.

A Tucano Aviação Agrícola então substituiu dois dos três Ipanemas arrendados por um Ipanema e um Piper Pawnee Brave 300 próprios, mas ao invés de acrescentar um quarto Ipanema à frota, inspirado pela sucesso da Aviação Agrícola JB Mumbach em operar os AT-502 de maior porte, Nelson fez como um operador americano: ele substituiu o terceiro Ipanema arrendado por um Air Tractor AT-401B radial, de maior porte e mais produtivo. Foi o primeiro avião agrícola de grande porte a operar em Primavera do Leste.

Os outros pilotos e empresários da região, que só estavam acostumados aos aviões de menor porte com motores Lycoming e Continental, desconfiavam do grande radial. “Todo mundo falava mal do radial”, conta Nelson. Mas ele voou 1.630 horas sem qualquer problema no AT-401B. Até que em 2004, com um novo crescimento da área a atender, Nelson comprou um Air Tractor AT-402A ainda mais produtivo, o primeiro turbina a operar em Primavera do Leste, e passou o AT-401B para seu irmão Eroci Roque Paim, o qual tinha se juntado à empresa substituindo o outro sócio. Eles venderam o Ipanema e substituíram o Pawnee Brave por um Cessna Ag Truck. Exatamente como uma empresa americana faria para atender a um aumento de demanda, Nelson trocou os aviões que tinha por outros mais produtivos, ao invés de aumentar a frota como a maioria das empresas brasileiras faria.

O irmão de Nelson, Eroci, começou a voar depois de Nelson, fazendo o seu privado em 1997 e trabalhando como técnico até fazer seu CAVAG na EJ Escola de Aeronáutica Civil em Itápolis, em 1999. Ele então voou um Ipanema para uma fazenda até 2004, quando passou a voar na Tucano Aviação Agrícola. 

Em 2008, Nelson e Eroci venderam o AT-401B radial, substituindo-o por outro turbina mais produtivo, um AT-402B, e mantendo o Cessna Ag Truck para as áreas menores. Porém, em 2012, com um novo aumento de demanda, Nelson novamente fez sua empresa crescer trocando o Cessna por outro avião maior e mais produtivo – um Air Tractor AT-502B. 

Nelson conta que a Tucano Aviação Agrícola foi a primeira empresa a operar com GPS em Primavera do Leste. E durante esse tempo, o outro irmão de Nelson, Miguel Paim, criou a DGPS & Cia Tecnologia Agrícola, uma revenda Ag-Nav certificada para reparos, serviço e manutenção, dividindo as mesmas instalações com a Tucano Aviação Agrícola. Naturalmente, todos os aviões da Tucano Aviação Agrícola estão equipados hoje com GPS e fluxômetros Ag-Nav Platinum.

A experiência no combate ao fogo 

Em 2005, Nelson fez um curso de combate a incêndio e após isso operou ocasionalmente em combate a incêndios sob contratos na temporada do fogo. Essa era uma época na qual um acordo de cooperação firmado entre o Ministério da Agricultura, o Núcleo de Tecnologia Aeroagrícola – NTA, e a Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais – FEPAF/UNESP-Botucatu/SP, gerou cinco cursos que capacitaram mais de cem pilotos na atividade, o último, em 2012, quando se encerrou o acordo de cooperação. Havia uma expectativa de que muitos contratos com agências governamentais seriam outorgados rotineiramente a cada ano, durante a temporada de fogo. 

Um dos caminhões de apoio da Tucano Aviação Agrícola.

Visando trabalhar nestes contratos, Nelson firmou uma parceria com duas outras empresas em 2013, para comprar um Air Tractor AT-802F com a comporta FRDS (Fire Response Dispersal System – Sistema de Dispersão para Resposta ao Fogo) original de fábrica, para combate ao fogo. Porém, o governo brasileiro mudou sua política e esses contratos nunca vieram. O AT-802F ficou parado no Hangar da Tucano Aviação Agrícola até que eles conseguiram um contrato para combater incêndios no Chile. Nelson transladou o AT-802F através dos Andes e voou missões de combate ao fogo no Chile por 40 dias, até que uma linha de pressão de ar para a Unidade Controladora de Combustível (FCU) se rompeu, fazendo o motor reduzir para marcha lenta e obrigando o piloto que voava o avião na ocasião, a fazer um pouso forçado. Felizmente, os danos eram reparáveis e o seguro pagou, mas eles perderam o contrato.

De volta ao Brasil e sem contratos para combater o fogo aqui, o AT-802F ficou parado a maior parte do tempo, sendo usado apenas ocasionalmente em aplicações agrícolas, já que como Nelson diz, “dava pena colocar produto naquela comporta”. Ele acabou sendo vendido para a Argentina em 2016.

As poucas aplicações de sólidos da Tucano Aviação Agrícola são feitas com Swathmasters da STOL.

Ativismo político

O envolvimento de Nelson Paim com aviação agrícola vai além de ser piloto e empresário, tendo ele também um destacado ativismo político em prol da atividade. Nelson serviu como vice-presidente do Sindag  em 2009 e 2010, e como presidente de 2011 a 2016.

Em 2016, ao final de seu mandato como presidente do Sindag, Nelson se elegeu prefeito da cidade de Poxoréu. Devido às exigências do cargo, ele se afastou da Tucano Aviação Agrícola, a qual vendeu um dos seus Air Tractors, o AT-402B, e incumbiu seu irmão Eroci de seguir tocando a empresa. Mas isso não foi o fim do ativismo de Nelson pela aviação agrícola; como prefeito de Poxoréu, ele passou a ter acesso a deputados, senadores, governadores e ministros. Ele usou este acesso para abrir portas na política para o Sindag, e trabalhou para bloquear projetos de lei que prejudicariam a aviação agrícola. Neste final de 2024, Nelson Paim completa seu segundo mandato como prefeito de Poxoréu, e se prepara para voltar à atividade na Tucano Aviação Agrícola. “Sou um piloto”, ele diz. 

Nelson Paim (dir.) tem uma boa amizade com nosso fundador Bill Lavender(esq.). Em 2014, Nelson visitou Bill nos EUA, e juntos eles viajaram por cinco estados americanos conhecendo empresas aeroagrícolas, o que permitou a Nelson confirmar que a Tucano Aviação Agrícola é uma empresa de “estilo americano”.

Hoje

Voltando para a atividade na Tucano, Nelson Paim encontra um cenário diferente em Primavera do Leste. Antes sede de 14 empresas aeroagrícolas, hoje o Aeroporto de Primavera do Leste tem apenas quatro destas empresas ativas. Mas os pátios das oficinas e das empresas de abastecimento lá sediadas tem dezenas de aviões agrícolas estacionados asa a asa. O que aconteceu é que, a partir de 2008, praticamente todos os produtores rurais com mais de 5.000 hectares na região compraram aviões próprios, reduzindo o mercado para empresas prestadoras de serviço. 

Hoje a Tucano Aviação Agrícola opera seus dois Air Tractors, o AT-502B e o AT-402A, para dois grandes produtores que ainda optam por terceirizar seus serviços de pulverização aérea, juntamente com um Ipanema 202 em fazendas menores. As culturas tratadas pela Tucano são soja (60%), algodão (25%) e milho (15%), com uma tendência de crescimento da área de milho, devido a uma nova tecnologia que tornou o etanol de milho economicamente viável no Brasil. Quase todas as aplicações são feitas a 10 litros por hectare, com atomizadores rotativos. Todos os três aviões da Tucano tem equipamento agrícola Zanoni.

A Tucano Aviação Agrícola acrescentou um Ipanema à sua frota, não apenas para voar as lavouras menores, mas também para fazer a iniciação de novos pilotos agrícolas na empresa. E o próximo candidato é José Victor Paim, filho de Eroci. Já um piloto, atualmente voando executivo, José Victor planeja fazer seu CAVAG e um dia voar junto com seu pai e seu tio, como a segunda geração de Paims na Tucano Aviação Agrícola.

Exatamente como em uma empresa aeroagrícola familiar americana.

Adriano Rodrigues do Carmo, coordenador da Tucano Aviação Agrícola desde 2000, em sua mesa de trabalho.
O AT-502B da Tucano Aviação Agrícola estava passando por uma inspeção de seção quente (Hot Section Inspection – HSI) quando de nossa visita. O projeto modular do motor PT6A permite que ela seja feita sem a necessidade de se remover completamente o motor do avião.

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