Início Estados Unidos Low & Slow – Os Primeiros Dias no Sul

Low & Slow – Os Primeiros Dias no Sul

Etienne Darmoy (esq.) e John Macready em frente ao primeiro avião agrícola da história, um Curtiss JN-6H “Jenny”.

(Capítulo 1 – Parte 1)

No começo, Deus criou o homem, o homem criou o avião, e desde então as coisas ficaram bem movimentadas!

A Primeira Guerra Mundial montou o palco para a mais notável era de progresso técnico na história, e a aviação estava na vanguarda deste progresso. Centenas de jovens pilotos voltaram da França determinados a continuar voando. Muitos permaneceram no jovem, mas em expansão Army Air Service (Serviço Aéreo do Exército) e os demais buscaram arranjar, de um jeito ou de outro, um avião e entraram na romântica era do “barnstorming” que dominou os anos 1920.

A maior parte da aviação, porém, ainda estava centrada nos militares e uma grande Estação Experimental de Aviação Federal estava em operação em McCook Field, perto de Dayton, Ohio. Esta instalação tinha bastante pessoal, e seu propósito principal era testar aeronaves, equipamento aeronáutico e aparentemente qualquer outra coisa que se relacionasse de alguma forma com a aviação. Os registros indicam que era prática comum nesta estação de se fazerem testes para fabricantes, indivíduos privados e agências que tinham equipamento aeronáutico ou teorias que se prestassem a estudos ou experiências.

Sabendo disso, o entomologista C. R. Neillie, do Departamento de Agricultura do Ohio, convenceu H. A. Gossard, que era o entomologista-chefe do Departamento de Entomologia do Ohio, de que inseticidas poderiam ser aplicados de forma vantajosa por aviões em áreas afetadas. A mariposa Catalpa Sphinx era uma séria ameaça às árvores catalpa, as quais eram cultivadas para fazer moirões e postes, as larvas desta mariposa frequentemente desfolhando totalmente as árvores e até causando sua morte em casos extremos.

Neillie e Gossard facilmente convenceram as autoridades que este era um projeto válido e os escritórios de engenharia em McCook passaram a trabalhar no projeto. Um hopper metálico rústico com uma capacidade aproximada de 45 quilos foi construído por um talentoso empregado, Etienne Darmoy, o qual, depois de pronto, foi afixado na lateral de um avião Curtiss JN-6H (Jenny), junto ao assento do observador.

O sistema de polvilhamento instalado na lateral do avião, construído sob supervisão de Etienne Darmoy. Repare na alavanca com corrente, a qual necessitava ser girada constantemente para fazer a liberação do inseticida em pó.

Este hopper tinha uma porta deslizante, operada por uma alavanca na traseira e uma pequena manivela montada perto do seu topo. O observador deveria ir sentado ou em pé no assento traseiro do avião e girar a manivela para aplicar o inseticida sobre as árvores enquanto o piloto voava sobre o bosque a baixa altura. O produto a ser usado era arseniato de chumbo em pó, praticamente a única coisa disponível que mataria a maioria das pragas depois de ingerido.

Em 31 de agosto de 1921, às 15:00, com pouca ou nenhuma fanfarra, o Jenny foi carregado. Com o Ten. John A. Macready nos comandos e Darmoy no assento traseiro operando o hopper, o avião voou a primeira carga na história da aviação agrícola.

Macready pilotou o avião diretamente sobre as copas das árvores catalpa e Darmoy acionou a manivela, lançando o arseniato de chumbo para fora do hopper. Ele foi espalhado pelo vento da hélice e pelo vento relativo do avião em movimento.

O voo foi espetacular, para dizer o mínimo, embora o tempo real de aplicação tenha sido de apenas 54 segundos! Quando pousaram, os espectadores estavam tão entusiasmados que um telefonema foi feito para McCook Field e uma equipe de fotógrafos foi enviada para registrar o voo para a posteridade! Macready e Darmoy, de boa vontade, carregaram o avião novamente e refizeram o voo para os fotógrafos.

O Ten. Macready, que depois se reformou como coronel e morou em Mariposa, Califórnia, escreveu a seguinte carta pessoal a Richard Reade, de Hayti, Missouri, em 28 de janeiro de 1969, com referência a este momentoso voo.

Rara foto em voo de um Curtiss “Jenny” aplicando inseticida em pó em Tallulah, Louisiana. Este avião já tem um hopper “melhorado”, dentro da aeronave, muito semelhante às versões modernas, mas ainda exigindo que um operador ficasse girando uma manivela! Foto de 1923, pelo Dr. B.R. Coad.

Mr. Richard Reade
Mid-Continent Aircraft
Hayti, Missouri

“Caro Mr. Reade:

Obrigado por sua carta. Vou lhe contar sobre minha conexão com a aviação agrícola. É interessante ver como as coisas ocorrem.

De cerca de 1919 a 1926, o desenvolvimento da aviação correu rápido em McCook Field, Dayton, Ohio. Eu era o Chefe da Seção de Voos e um piloto de testes.

Houve alguma experimentação quanto à geração de nuvens militares (de gases venenosos) por aviões, e o Departamento de Agricultura dos EUA pediu ao McCook Field que verificasse se seria possível lavouras receberem inseticidas aplicados por aviões. O trabalho de engenharia foi entregue para um francês baixinho, forte e inteligente chamado Darmoy. Ele projetou e supervisionou a construção do equipamento de aplicação que foi instalado no avião. Acho que o avião era um Vought. Darmoy merece o crédito de ter operado o equipamento de aplicação.

Três membros do Departamento de Agricultura foram até meu escritório na Seção de Voos e disseram que queriam que o teste de aplicação fosse feito em um bosque de catalpas perto de Troy, Ohio, o qual, se me lembro bem, ficava a cerca de dez milhas ao norte de McCook Field. Me foi dito de forma geral o que eles queriam fazer.

Com Darmoy no banco traseiro para operar o equipamento de aplicação, pilotei o avião até uma pastagem sem obstáculos perto do bosque de catalpas e pousei, tendo verificado a direção do vento e dado uma olhada no bosque na ida para lá. As condições gerais para fazer o serviço, a melhor altura para voar acima das árvores e a direção e a velocidade do vento foram consideradas.

Nos disseram para esperar um certo tempo na pastagem, para que os membros do Departamento de Agricultura chegassem no bosque de catalpas.

Darmoy e eu discutimos sobre a direção adequada para voar sobre o bosque, de modo que o vento fizesse o pó derivar para onde se queria, então decolamos e voamos de um lado para o outro sobre o bosque de catalpas, a cerca de 2,5 a 3 metros acima das árvores. Dava para ver do avião que o pó estava indo para o lugar certo.

Voamos de volta para a pastagem, pousamos e esperamos; então eu e Darmoy deixamos o avião e caminhamos pela estrada até o bosque de catalpas.

Depois de caminhar alguns minutos, vimos à nossa frente três sujeitos correndo em nossa direção. Quando chegamos perto, eles estavam tão ofegantes e excitados que mal conseguiam falar. Tinha sido um sucesso perfeito. O que para eles tinha sido um grande feito, para nós tinha sido um voo curto e fácil para nós. Pensávamos neste teste como sendo um par de horas de voo comparativamente simples.

Em voos de testes, há testes longos, complicados e difíceis que levam meses para se completar, e que naqueles dias de incerteza aeronáutica, eram testes muito perigosos. Aquele tinha sido um teste simples, perfeitamente executado e que aparentemente tinha deixado o Departamento de Agricultura satisfeito.

Fotos foram tiradas desta primeira aplicação aeroagrícola, as quais foram publicadas em “Slipstream”, a publicação de McCook Field. A “Slipstream” era editada por Fred F. Marshall, 226 Manchester Drive, Dayton, Ohio, que de lá para cá criou vários negócios de sucesso. Ele pode ser capaz de ajudar, posto que acho que uma edição quase inteira do “Slipstream” foi dedicada ao experimento de aplicação aérea.

Espero que seja isso que você quer. Sinceramente,

COL. JOHN A. MACREADY”

(Continua no próximo mês)

Exit mobile version