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Julio Kämpf: Uma Voz pela Aviação Agrícola

Júlio Kämpf: Uma Voz pela Aviação Agrícola

A ousadia está no DNA de Júlio Augusto Kämpf. Nascido em Cachoeira do Sul/RS, Capital Nacional do Arroz, é um dos responsáveis por alavancar a aviação agrícola ao patamar de excelência em que está hoje. Como empresário, introduziu novas tecnologias de aplicação e, lutando para que o setor tivesse voz, participou da consolidação do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag). Posteriormente, em 2018, começou a construção de um sonho, fazendo o Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag) sair do campo das ideias. Uma instituição alicerçada no tripé educação, desenvolvimento tecnológico e comunicação.

A história de Júlio Augusto Kämpf na aviação começou a ser traçada quando fez sua licença de piloto privado no Aeroclube de Cachoeira do Sul aos 16 anos (na época era permitido). Ele pensava em uma carreira nas linhas aéreas. Mas nos anos 1970, o mercado de trabalho nas companhias comerciais estava estagnado no Brasil. Chegou a cursar Administração de Empresas e Sociologia, mas acabou voltando para o Aeroclube de Cachoeira do Sul, já com o objetivo de se transformar em um piloto agrícola. Júlio achava que o voo agrícola seria “mais desafiante”. Fez o curso de piloto comercial e o de instrutor de voo (INVA), passando a fazer horas de voo como instrutor para se habilitar para o Curso de Aviação Agrícola (CAVAG).

Júlio se formou no CAVAG do Centro Nacional de Engenharia Agrícola (CENEA), na extinta Fazenda Ipanema, em 1982, e começou a voar como piloto para uma aeroagrícola no Rio Grande do Sul. Apesar do “ganho na época ser bom”, como ele diz, em alguns períodos também voou em outros estados, após o final da safra do Rio Grande do Sul, ganhando ainda mais experiência como piloto agrícola. Júlio recorda-se daqueles tempos como uma época na qual pilotos agrícolas tinham de lidar com pedidos absurdos; faltava a muitos produtores um conhecimento técnico, achando eles que quanto mais baixo um piloto voasse, melhor. Alguns deles só ficavam satisfeitos após ver soja no trem de pouso do avião.

Em 1988, Júlio deu um novo passo e se tornou empresário, fundando a Terra Aviação Agrícola em sua Cachoeira do Sul. A Terra teve outros sócios, os quais entraram e saíram da empresa ao longo do tempo. Com a necessidade de melhorar as tecnologias para o melhor aproveitamento do avião, concluiu que tinha de “dobrar o avião”, ou seja, dobrar a produtividade dos aviões da frota, para ser competitivo.

Júlio já estava desapontado com o que considerava uma tecnologia de aplicação aérea estagnada, quando encontrou representantes do Micron Group em um congresso de aviação agrícola na Argentina, em 2000. Um acordo foi firmado, e Júlio voltou a estudar controle da gota e calibração de aviões. O engenheiro Tim Sanders, da Micron Group, passou cerca de um mês em Cachoeira do Sul com o empresário, trabalhando para chegar na melhor configuração para as aplicações da Terra com os atomizadores rotativos Micronair. Graças a esse trabalho, eles puderam reduzir o volume das aplicações da Terra de 30 para 15 litros por hectare, assim, “dobrando o avião” e, praticamente, reintroduzindo os atomizadores rotativos Micronair no mercado brasileiro.

Em torno da mesma época, Júlio e a Terra Aviação Agrícola abraçaram a revolução do GPS, o qual embora visto por Júlio como sendo “o maior evento transformador da aviação agrícola”, não ocorreu sem dores. Como muitos pilotos veteranos, teve alguma dificuldade em se adaptar ao seu uso, mas conseguiu fazê-lo com “garra e paciência”.

As dificuldades enfrentadas por Júlio, como piloto e empresário, relatadas a AgAir Update em cerca de duas horas de uma conversa muito franca, embora significativas, não são o que o qualifica como Lenda Viva da Aviação Agrícola; é o fato de que apesar de todas as dificuldades enfrentadas por qualquer operador aeroagrícola, ele ainda encontrou tempo e energia para atender a um chamado maior, trabalhar para o avanço do setor.

O ativismo está no sangue de Júlio desde a juventude, quando fazia parte do grêmio estudantil. Depois, como piloto contratado, participou da criação da ASPARGS – Associação de Pilotos Agrícolas do Rio Grande do Sul, uma antiga associação daquele estado, que defendia os interesses dos pilotos. E logo após se tornar empresário, associou-se ao SINDAG, que tinha sido fundado em 19 de julho de 1991.

Júlio tornou-se membro da diretoria do SINDAG em 1997, como secretário, e é o associado – juntamente com Francisco Dias da Silva (o Kiko) – com mais tempo na diretoria, tendo servido em várias funções até 2019, quando passou a Presidência da entidade para Thiago Magalhães Silva, para então iniciar o projeto IBRAVAG. Citando Telmo Dutra (ex-presidente do SINDAG e já falecido) e Eduardo Araújo como seus mentores, Júlio foi presidente do SINDAG em três gestões (2007-2009, 2009-2011 e 2017-2019) e vice-presidente em duas gestões (2005-2007, de José Ramon Rodriguez de Rodriguez, e 2015-2017, de Nelson Antônio Paim), além de ter assumido o comando da entidade entre 2016 e 2017, quando o então presidente, Nelson Antônio Paim, desligou-se do cargo para concorrer (e ganhar) a eleição para prefeito de Poxoréu/MT.

O dirigente se emociona ao lembrar as conquistas do SINDAG. No começo, a entidade enfrentava uma realidade diferente. Como conta Júlio, inicialmente, o SINDAG só existia no papel, sem sede fixa e sem recursos financeiros. Os membros da diretoria pagavam do próprio bolso as despesas de viagem para as reuniões internas e com autoridades do governo. Na medida em que o número de associados aumentou e as receitas cresceram, na gestão de Carlos Heitor Belleza, foi instalada a sede em Porto Alegre.

Naqueles primeiros dias do SINDAG, os maiores problemas enfrentados eram com as agências reguladoras da aviação – no início, o extinto DAC (Departamento de Aviação Civil) e depois, sua substituta ANAC (Agência Nacional da Aviação Civil). Estas agências tinham dificuldade em entender a realidade da aviação agrícola, muito diferente dos ramos mais convencionais da aviação. As maiores demandas que o SINDAG fez junto a essas agências foram pela adoção de regras específicas para a comercialização e manutenção de aviões, além da formação de pilotos agrícolas.

Júlio relembra como sendo as duas mais difíceis conquistas do SINDAG: a certificação do etanol como combustível para aviões agrícolas pela ANAC e o esforço feito junto ao Ministério da Agricultura para que a Instrução Normativa Nº 2, de 3 de janeiro de 2008, fosse viável para a aviação agrícola – este último com uma grande ajuda de Eduardo Araújo.

Atualmente, Júlio diz que um ativismo ambiental distorcido vem criando desafios ainda maiores para o IBRAVAG e SINDAG. Felizmente, hoje estas instituições, além de ter o respeito, têm acesso às mais altas instâncias e instituições do agronegócio. A profissionalização da entidade, com a contratação da diretoria-executiva, aumentou muito o alcance do trabalho da entidade setorial.

Após 34 anos na aviação agrícola e com 15.000 horas de voo, o empresário e uma das lideranças do setor, Júlio começa a reduzir o ritmo. Ele já não voa mais e considera a sucessão na Terra Aviação Agrícola. Porém, ele ainda não terminou de deixar sua marca na aviação agrícola, trabalhando ainda na sua criação mais recente, o IBRAVAG, Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola.

Presidente do Ibravag, já no segundo mandato, Júlio Augusto Kämpf segue abrindo espaços. Atento às exigências do mercado, em 2022, conquistou o apoio do Sebrae Nacional para o programa Boas Práticas Aeroagrícolas (BPA) Brasil, representando, até então, o maior aporte de recursos na aviação agrícola em um único projeto. Um trabalho focado na gestão das empresas, com o propósito de torná-las mais competitivas, trabalhando nos conceitos da sustentabilidade e, assim, contribuir para a segurança alimentar do planeta.

Entre os muitos projetos, criou a Revista da Aviação Agrícola para se comunicar com o público externo. Mais um passo dado para transformar o Instituto em um centro de referência na formação de profissionais para o setor aeroagrícola e de comunicação com a sociedade.

O Ibravag certamente terá um profundo impacto na aviação agrícola brasileira por muitos anos a vir.

O sobrenome “Kämpf” em alemão significa “luta”, “combate”. A aviação agrícola brasileira tem muita sorte por Júlio Kämpf ter escolhido dedicar sua vida a lutar por ela.

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