Início Brasil Afinal, estamos operando certo agronomicamente?

Afinal, estamos operando certo agronomicamente?

Tenho convivido com alguns pilotos de aviões e de drones que operam volumes de vazões bastante baixos e voam faixas maiores, mas acreditam que os serviços estão cumprindo a missão.

Isso não é novidade, tratamentos aéreos e terrestres que optam pelas ultrabaixas vazões. Na verdade, em algumas regiões do Brasil é algo muito comum.

No entanto é preciso ressaltar que nenhuma aplicação fitossanitária deveria ser engessada, seja por questões ambientais ou, em razão do produto aplicado (alguns defensivos são mais fitotóxicos, podem causar injúrias na lavoura em função da concentração, ou são de difícil mistura).

A questão aqui é mais profunda, precisamos entender se, aplicações com um avião voando a cerca de 10m de altura, de inseticidas, com vazão de 3 L/hectare e faixa de 60m … 70m são assertivas? Ou, se um tratamento de herbicida com Drone, voando a 5m … 6m … 8m de altura, com uma vazão de 3 L/hectare e uma faixa de 12m (até 14m), funciona?

Então, parece que são tratamentos pontuais, muito específicos…só que não. Em algumas regiões pilotos de aviões e de drones, estão fazendo isso avalizados por agrônomos (eventualmente mesmo sem o conhecimento destes), ou pelos donos da propriedade/contratantes. E todos afirmam que os serviços estão funcionando bem.

Assim como num passado recente o modismo da ultrabaixa vazão terrestre caiu por terra no sul do Brasil, por problemas de eficácia agronômica e dificuldade técnica da operação, embora seja usada pontualmente; acreditamos que estes voos, com vazões reduzidas e faixas “exageradas” podem ser um tiro no pé.

Os tratamentos fitossanitários devem em primeiro lugar respeitar a assertividade agronômica, e em um segundo plano, a rentabilidade operacional. Isso serve para aviões, drones e máquinas terrestres.

Operações mais agressivas, com volumes de vazões enxutos e faixas acima do normal, devem ser avaliadas com critério técnico, para então serem usadas. Mas usadas pontualmente, e não como regra.

As pulverizações aéreas usam volumes menores do que as terrestres: 10L /15L … 20L e 30 L/hectare são as escolhas mais comuns. Estes volumes naturalmente são baixas vazões, quando comparamos as aplicações tratorizadas, que usam 80…100…150 L/ha. Isso demanda um preparo de calda mais cuidadoso, técnico, que homogeneize as combinações e ao mesmo tempo reduza os riscos de injúrias nas culturas. Muitas combinações exigem que o preparo seja com capricho, com calma e acima de tudo, com conhecimento.

Aviões e drones não possuem agitadores de tanque que mantêm a calda estável, são compactos, por isso, da importância da pré-mistura.

Observa-se neste contexto, que voar com ultrabaixos volumes e grandes faixas não é algo simples, tão pouco sem risco. Os aviões menores, a pistão, conseguem produzir faixa de 16m a 25m; já os turbos-hélices fazem faixas de 28m a 38m, com segurança. Aplicações agrícolas devem respeitar esses parâmetros. Os drones, por sua vez, produzem faixas de até 10m, os maiores. A faixa mais recomendada com segurança, é de 8m.

Portanto, voos aeroagrícolas com faixas superiores a estas correm o risco de comprometer a eficácia agronômica da operação. E, num segundo momento, denegrir a imagem da tecnologia e do equipamento aéreo por eventuais problemas causados pelos exageros.

As aplicações para combater vetores de endemias, como os mosquitos da dengue, usam outro protocolo de pulverização, com volumes de vazões e tamanhos de faixas completamente distintos das operações aeroagrícolas, não devem ser usadas como espelho para as aeroagrícolas.

Finalizando, ressaltamos mais uma vez a importância de que as operações aéreas, de aviões/helicópteros ou drones, devem respeitar as recomendações agronômicas dos respectivos tratamentos. Há protocolos técnicos claros para que os tratamentos fitossanitários ocorram dentro da melhor técnica disponível, com segurança e assertividade.

Bons voos a todos!!!

por Jeferson Luis Rezende Piloto agrícola, Instrutor de Voo. Presidente do AEROCLUBE DE GUARAPUAVA/CIAC. Foi membro do NATA/PR-UNICENTRO. RTV da INQUIMA.
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