Início Brasil A Importância de Uma Nova Diretriz para a Aviação Agrícola Brasileira

A Importância de Uma Nova Diretriz para a Aviação Agrícola Brasileira

Piloto, atual Presidente do Aeroclube de Guarapuava/CIAC  Membro voluntário de pesquisas do NATA/PR-UNICENTRO  Representante Técnico de Vendas da INQUIMA

Uma atividade de primeira necessidade para a agricultura! Assim poderíamos nominar a aviação agrícola, num país de relevância mundial para a produção de alimentos, têxteis e madeira: o Brasil.

Mas isso apenas não tem sido suficiente para que a atividade tenha o devido cuidado que merece. Esta extraordinária ferramenta de apoio ao homem do campo precisa de um novo “gás”… de um novo estímulo, para crescer ainda mais e, principalmente, atender demandas diferentes da sociedade, como o combate de vetores e de incêndios, além da sua rotineira missão em campo, contribuindo para que o país produza mais alimentos e com melhor rentabilidade.

Talvez a chegada dos drones esteja sendo um divisor de águas para os aviões e helicópteros agrícolas. Essas pequenas aeronaves, ainda que de certo modo rudimentares agronomicamente, estão avançando no mercado e ocupando um determinado espaço. Obviamente que, sem discutirmos aqui questões pontuais de eficiência e qualidade, os drones estão tirando algum serviço dos equipamentos tratorizados e dos irmãos aéreos. E isso tem gerado algum estresse.

Então a chegada dessas máquinas tem feito com que muitos operadores se reinventem, se adaptem e até se unam ao novo, para conseguir manter sua fatia de mercado.

Mas e os operadores privados, fazendas que possuem suas próprias máquinas, aéreas ou terrestres? Algumas estão optando por substituir até autopropelidos pelos drones.

A grande verdade é que nesse momento estamos vivendo uma certa euforia por conta das possibilidades de uso dos drones, e nos esquecemos das suas limitações e/ou inviabilidade. E isso parece que começa a aparecer para alguns produtores que jogaram todas as fichas neles.

Há que se ter bom senso neste momento e avaliar com muito cuidado o papel de cada uma dessas máquinas agrícolas, o quão elas podem suprir completamente o serviço das suas concorrentes, ou qual a sinergia possível num eventual uso casado.

Dito isso, entendemos que o momento é de reflexão profunda dentro da atividade aeroagrícola e agrícola, de maneira a entender as virtudes e fraquezas de todas estas máquinas, voadoras ou não. Nem oito… nem oitenta… como num passado não muito distante alguns agricultores fizeram. Deixaram de usar a aplicação aérea e colocaram todas as fichas nos autopropelidos. Hoje, muitos percebem que cometeram um erro, pois em alguns (vários) casos, o autopropelido não conseguiu substituir o avião. Assim como algumas regiões não conseguem usar a aviação por motivos topográficos ou pela presença de obstáculos dentro das lavouras (postes de luz, matas, árvores, etc.).

Mesmo depois de muito tempo, anos, estamos aprendendo que nenhuma verdade é tão absoluta que não possa ser modificada.

A nova diretriz que mencionamos deve prever a existência de Centros de Excelência de Ensino e de Pesquisas descentralizados no país, que cumprirão a missão de formar e atualizar todos os envolvidos na atividade de aplicação fitossanitária, que poderão estar lincados aos Centros de Instrução de Aviação Civil (CIAC), e estes, a Universidades que possuam os cursos de agronomia e/ou de engenharia agrícola, por exemplo.

A partir deste local, poderemos reciclar periodicamente todo tipo de piloto fitossanitário, mantendo-o atualizado com as novas tecnologias e recomendações agronômicas.

Seria como resgatar de algum modo o papel do extinto CENEA-CAVAG, que os ministérios da Agricultura e o da Aeronáutica mantinham no interior de São Paulo. Lá, além de formar pilotos agrícolas, eram realizadas pesquisas e experimentos com máquinas e equipamentos agrícolas, inclusive aviões. Isso se perdeu com o fechamento equivocado da Unidade. Não temos mais um local de referência assim.

Mas podemos ter! A partir da criação de uma nova Diretriz para a Aviação Agrícola, que fomente e estimule a parceria entre Instituições de Pesquisas, Aeroclubes, Universidades e Fabricantes.

Isso obviamente precisa ser desenhado, para que não se perca no caminho sendo criado algo que não atenda de fato as necessidades do campo e das atividades mencionadas.

Não podemos correr o risco de condenar amanhã os drones, por mal uso ou falta de domínio sobre a tecnologia. Assim como não podemos recomendar claramente quais modelos de aplicação são mais ou menos adequados para uma determinada região, se não estamos trabalhando cientificamente com todas as ferramentas e os seus atores, buscando ajustes.

Em tempos de ensino à distância – na minha opinião, um modelo equivocado que não consegue entregar o mínimo necessário de vivência e experiência comum, pensar na criação destes Centros de Excelência pode parecer utopia… ou uma viagem ao espaço. Brincadeiras à parte, poderão se tornar responsáveis não apenas pelo aumento na qualidade da formação de profissionais, mas também pelo fomento a novos negócios e produtos. Estes Centros poderão ser indutores de boas práticas e de uso de ferramentas adequadas às necessidades.

Acredito que os aviões continuarão sendo os principais atores da atividade aérea no campo, desde os menores até os gigantes Os drones e os autopropelidos terão a missão de operar em conjunto, em harmonia, e eventualmente, até como substitutos mesmo.

Pensemos nisso e trabalhemos pela concretização desta proposta, que não é nova. Outras parecidas já estiveram sobre muitas mesas… mas, infelizmente, não se tornaram realidade.

O momento é realmente muito oportuno para definir caminhos. Uma aviação forte passa necessariamente por um setor agrícola que a reconheça e saiba usá-la. Do contrário, tudo se resume a discursos intelectuais, que não produzirão negócios e riquezas… não irão gerar emprego e renda.

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