Programa de pesquisa e desenvolvimento da empresa brasileira avaliou mais de 50 aeronaves, buscando contribuir para aumentar a eficiência e a segurança das aplicações aéreas no país.
Ao longo dos últimos três anos, a Zanoni Equipamentos vem acompanhando diversos trabalhos no campo e financiando variadas pesquisas para avaliar e aperfeiçoar o uso de seus atomizadores rotativos. Cerca de 50 aeronaves diferentes foram analisadas (incluindo AT402, AT502, AT502XP, AT602, AT802, Thrush 510P, Ipanema 202 e Ipanema 203) utilizando diferentes equipamentos, em diversas configurações e taxas de aplicação.
Os dados levantados nos ajudam a compreender melhor a eficiência das tecnologias de aplicação aérea utilizadas no Brasil, podendo compará-las com as utilizadas em outros países e mensurar dados como cobertura, densidade de gotas e deposição em cultivos. Além disso, as informações obtidas ao longo dos últimos anos permitem compreender melhor alguns temas relacionados à segurança no uso dos atomizadores, como tamanho de gotas, potencial de deriva e uso de adjuvantes. O trabalho de pesquisa junto aos operadores também tem ajudado a compreender melhor algumas características mecânicas do equipamento, como as influências geradas por diferentes peças e configurações.
Eficiência
Diferentemente da América do Norte, onde os operadores continuam a realizar aplicações em alto volume (acima de 30 L/ha) nos cultivos de grãos, o setor aeroagrícola brasileiro tem aumentado constantemente a sua eficiência operacional através do uso de tecnologias de ponta. Uma forma interessante de comparar os resultados é através da “cobertura” (%) dos papéis hidrossensíveis em coletas no campo. Confrontando-se o banco de dados da Zanoni (referente aos estudos no Brasil usando atomizadores em baixo volume) com estudos realizados nos EUA e no Brasil usando bicos em vazões mais altas, foram encontrados os seguintes resultados:
• Aplicações em 5 L/ha (0,5 GPA) com atomizador tendem a oferecer a mesma cobertura (1% a 3%) que uma aplicação com bico em deflexão de 5 graus a 20 L/ha (2 GPA).
• Aplicações em 10 L/ha (1 GPA) com atomizador tendem a oferecer a mesma cobertura (3% a 5%) que uma aplicação com bico em deflexão de 5 graus a 30 L/ha (3 GPA).
• Aplicações em 20 L/ha (1 GPA) com atomizador tendem a oferecer a mesma cobertura (5% a 10%) que uma aplicação com bico em deflexão de 5 graus a 50 L/ha (5 GPA).
Além das comparações realizadas através do banco de dados, a empresa também realizou uma pesquisa com um AT402 aplicando inseticida na cultura do milho (sozinho e com três diferentes adjuvantes), a uma taxa de 10 L/ha (1 GPA) com atomizador e a uma taxa de 15 L/ha (1.5 GPA) com bico. A avaliação indicou que, tanto no meio do dossel quanto no dossel inferior, a deposição com 10 L/ha (1 GPA) foi superior a com 15 L/ha (1,5 GPA) em todas as caldas, conforme os dados a seguir:
APLICAÇÃO | BICO E VAZÃO | DEPOSIÇÃO NO MEIO DO DOSSEL (ML/M²) | DEPOSIÇÃO NO DOSSEL INFERIOR (ML/M²) | DEPOSIÇÃO TOTAL (ML/M²) |
INSETICIDA | ATOMIZADOR – 10 L/HA (1 GPA) | 0,717 | 0,662 | 1,937 |
BICO – 15 L/HA (1.5 GPA) | 0,619 | 0,560 | 1,662 | |
SUPERIORIDADE | 16% | 18% | 16% | |
INSETICIDA + ADJUVANTE 1 | ATOMIZADOR – 10 L/HA (1 GPA) | 0,843 | 0,817 | 2,244 |
BICO – 15 L/HA (1.5 GPA) | 0,666 | 0,597 | 1,763 | |
SUPERIORIDADE | 26% | 37% | 27% | |
INSETICIDA + ADJUVANTE 2 | ATOMIZADOR – 10 L/HA (1 GPA) | 0,969 | 0,891 | 2,576 |
BICO – 15 L/HA (1.5 GPA) | 0,741 | 0,695 | 1,974 | |
SUPERIORIDADE | 30% | 28% | 30% | |
INSETICIDA + ADJUVANTE 3 | ATOMIZADOR – 10 L/HA (1 GPA) | 0,971 | 0,811 | 2,529 |
BICO – 15 L/HA (1.5 GPA) | 0,762 | 0,680 | 1,982 | |
SUPERIORIDADE | 27% | 20% | 27% |
A Zanoni também realizou um estudo de grande monta com seus atomizadores no Laboratório de Tecnologia de Aplicação de Pesticidas da Universidade de Nebraska-Lincoln (PAT-UNL), nos Estados Unidos, sendo a primeira empresa brasileira a conduzir esse tipo de estudos. Lá, foram avaliadas mais de 135 aplicações diferentes com o equipamento simulando diferentes velocidades, taxas de aplicação e configurações do rotativo. Apesar de esse ser o padrão de estudos mais popular entre os fabricantes de bicos e muitos agrônomos utilizarem os dados obtidos em túneis de vento como parâmetro para calibração de aeronaves, os resultados são bastante limitados. Esse tipo de estudo analisa apenas a “pulverização” e não o que chega de fato no alvo, faltando assim um elemento crucial para compreensão da eficiência na aplicação aérea.
Ainda nesse mesmo assunto, é importante ressaltar que a melhor avaliação é a realizada pelos próprios produtores rurais. O Brasil possui uma peculiaridade em relação a outros países, já que por aqui boa parte da frota é operada pelos próprios fazendeiros, os quais podem acompanhar diretamente o resultado das aplicações aéreas em termos efetivos. Apesar da teoria científica sempre nos oferecer importantes diretrizes, é o controle real de pragas no campo que determina a qualidade de uma aplicação. Papéis hidrossensíveis, espectrômetros em túneis de vento, espelhos, luz UV e outras ferramentas nos dão, com certeza, importantes diretrizes sobre o trabalho. Porém, todas elas possuem suas limitações. Antes de qualquer coisa, o avião agrícola existe para que o ingrediente ativo chegue ao alvo e para matar as pragas. Esse é o nosso objetivo principal e deve ser a régua mais importante.
Segurança
Com a crescente preocupação com questões ambientais e, devido a suposta sensibilidade dos trabalhos em baixo volume em relação a maior potencial de deriva, o cuidado com esse tipo de aplicação deve sempre ser dobrado. Além disso, o alto custo dos defensivos agrícolas gera a necessidade de garantir que ele esteja sendo depositado no local correto, sob risco de grandes prejuízos ao produtor. Assim como os estudos através de papéis hidrossensíveis oferecem uma primeira orientação em relação à eficiência nas aplicações, eles também nos ajudam a compreender se o espectro de gotas oferecido está dentro dos padrões de segurança. O programa de pesquisa e desenvolvimento da Zanoni Equipamentos acompanhou, ao longo dos últimos três anos, o uso de seus atomizadores nos mais diversos aviões (desde os que voam a 110 mph até os que voam a 160 mph), para garantir que não estivessem produzindo gotas muito finas.
Além do acompanhamento do espectro de gotas, a empresa realizou alguns protocolos de pesquisa para analisar o potencial de deriva gerado por seus atomizadores. Em um deles, foram avaliados 10 diferentes adjuvantes sendo aplicados com inseticida por um Ipanema 202 em uma taxa de 10 L/ha (1 GPA) e constatado que é possível reduzir pelo menos à metade o potencial de deriva usando a mistura correta. Em outro estudo, descobriu-se que uma aplicação a 30 L/ha (3 GPA) com bico em deflexão de 30 graus oferecia um potencial de deriva maior do que a mesma aeronave pulverizando 10 L/ha (1 GPA) com atomizador rotativos. Os coletores foram posicionados a 250 m (800 ft), 500 m (1600 ft) e 1000 m (3200 ft) do alvo e, em todos eles, os resultados foram 10x maiores para a aplicação a 30 L/ha (3 GPA) em relação à aplicação em 10 L/ha (1 GPA). Ainda é necessário realizar análise semelhante em aeronaves de maior velocidade (como Air Tractor ou Thrush) para validação desses resultados.
Mecânica
O acompanhamento no campo ao longo dos últimos três anos ajudou a acompanhar não apenas as questões de eficiência no controle de pragas e segurança na aplicação, mas também algumas características mecânicas do equipamento que afetam o trabalho dos operadores. Quando a Zanoni entrou no mercado de atomizadores (há uma década atrás), todos os equipamentos utilizam o mesmo sistema de tela, com malhas de furos finos. Para oferecer maior durabilidade e facilidade na operação, a empresa desenvolveu novos modelos de telas que, logo em seguida, se popularizaram no setor aeroagrícola nacional, inclusive em outras marcas. Após anos de discussões sobre qual seria o impacto dessa parte do atomizador no espectro de gotas, chegou-se a conclusão que o tamanho dos furos pouco influencia no tamanho das gotas, tendo apenas consequências operacionais, como resistência, entupimento e facilidade na limpeza.
Além do impacto das telas, as pesquisas junto com operadores também ajudaram a avaliar o efeito de outras partes do equipamento. Foi encontrado o tamanho de pá ideal para cada modelo de aeronave (principalmente para as mais velozes) e certificou-se o melhor ângulo dos discos defletores para proteção do espectro de gotas. Por fim, pode-se destacar que ficou comprovado a superioridade dos VRUs de esfera em relação ao discos na precisão do fluxo em cada bico, garantindo assim uma faixa de aplicação mais uniforme.
Programa de pesquisa e desenvolvimento
O bico de pulverização é um dos equipamentos mais importantes no trabalho de aplicação aérea. Apesar de seu pequeno custo e tamanho em relação à aeronave, é ele quem determina as principais características do trabalho, tais como o volume de calda, a cobertura correta e a deposição do defensivo agrícola no local onde se deseja. Ou seja, a pequena ferramenta é decisiva no resultado final da aplicação e, em caso de falha no seu funcionamento, pode colocar em risco todo o investimento feito pelo operador aeroagrícola. A realização de pesquisas é uma responsabilidade dos fabricantes de tecnologia de aplicação. As investigações, em campo e em laboratório, são muito importantes para avaliar o desempenho dos produtos, garantir que estejam sendo fabricados com regularidade, obter dados para auxiliar os usuários, observar espaços para melhorias e, acima de tudo, garantir segurança e eficiência na aplicação. Para o caso dos atomizadores rotativos, que são equipamentos desenvolvidos para aplicações em baixo volume, a importância e responsabilidade dos fabricantes é ainda maior. Esse tipo de trabalho é mais sensível, exigindo um cuidado especial e uma calibração quase perfeita, para conseguir associar a máxima eficiência com os mais altos padrões de segurança na aplicação, algo que o setor aeroagrícola brasileiro tem conseguido realizar com bastante sucesso.