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Viagro/Volar/Vimaer: Tudo Começou com um Bilhão

Não é fácil encontrar um empresário aeroagrícola com uma experiência mais variada do que Rolemberg Jesus Vidotti. Nascido em uma família de tradição aeronáutica –  um irmão, dois tios e alguns primos eram pilotos –  em sua juventude, Rolemberg pensou em se formar em engenharia, devido à sua outra paixão, carros de corrida. Mas ele acabou indo voar, fazendo suas licenças de privado e comercial no Aeroclube de Juiz de Fora entre 1974 e 1975. Em 1976, Rolemberg começou a voar executivo, de olho em uma carreira como piloto de linha aérea. Porém, em 1980, em uma conversa com outros pilotos, alguém sugeriu uma aposta para ver qual deles obteria primeiro o certificado de piloto agrícola. Na época, a única escola de aviação agrícola no Brasil era o CAVAG do CENEA (Centro Nacional de Engenharia Agrícola),  promovido pelo governo, que era gratuito porém os candidatos precisavam ser aprovados em uma seleção. Rolemberg se candidatou para o CAVAG, e pouco depois disso, o irmão mais velho de Rolemberg, Antônio, contou a ele que havia visitado um parente que morava no Norte do Paraná e que este havia lhe relatado que os produtores locais se queixavam de depender de empresas aeroagrícolas de São Paulo para o tratamento de suas lavouras. Este parente disse a Antônio que seria muito melhor se eles tivessem uma empresa local para melhor atendê-los.

Logo após a conversa, Rolemberg chegou em casa e recebeu uma correspondência do CENEA pedindo que confirmasse em 15 dias seu interesse em fazer o curso. Ele considerou isto um “sinal do destino”, e prontamente confirmou sua participação, formando-se na primeira turma de 1980 do CAVAG. Logo após, ele e seus dois irmãos, Antônio Vidotti Neto e Gutembergue José Vidotti, fundaram a Viagro Vidotti Agro Aérea Ltda no mesmo ano, comprando um Ipanema EMB-200 com hélice de passo fixo, usado, pelo preço de um bilhão de cruzeiros, a moeda brasileira da época, pago na sua maior parte com um empréstimo bancário. Sim, trata-se de um bilhão com “B”! Aqueles eram os tristes tempos da hiperinflação no Brasil.

Inicialmente, a Viagro era sediada na cidade de Sertanópolis, Paraná, cerca de 45 km ao norte de sua atual sede em Londrina, esta a segunda maior cidade do estado do Paraná. Enquanto Antônio (que é piloto mas não voa agrícola) e Gutembergue (que não voa) se encarregavam do trabalho de solo e administrativo, Rolemberg aprendia como voar agrícola por sua própria conta naquele primeiro ano, cometendo sua cota de erros, como admite. Ele esperava voar hectares suficientes para pagar o financiamento do avião, mas acabou voando quase quatro vezes e meia mais! Isto encorajou os irmãos, que então compraram um segundo EMB-200, no qual Rolemberg sofreu um acidente do qual saiu ileso, porém com perda total do avião, logo no início da segunda safra da empresa.

Mas os irmãos perseveraram, e com seu trabalho duro, a empresa cresceu gradualmente, tendo eles depois comprado um Ipanema EMB-201A zero,um Cessna C-188 e um terceiro Ipanema. Até que, em 1994, Rolemberg encontrou Paul Marstellar, da Tradelink, na época o único revendedor da Air Tractor no Brasil. Naquela época, praticamente todos os aviões agrícolas no Brasil eram do porte dos Ipanemas, Cessnas ou Pawnees, mas após um cuidadoso estudo, os irmãos entenderam que com um avião de 400 galões eles poderiam tratar 74% das lavouras de seus clientes com uma única carga. Eles então adquiriram um Air Tractor AT-401B, com motor radial. Sua ousadia se mostrou acertada, e eles adquiriram o seu segundo AT-401B em 1998.

Aquele ano de 1998 foi muito momentoso para a Viagro, dado que os irmãos introduziram o GPS na empresa e fizeram uma parceria com uma grande empresa agrícola no estado do Mato Grosso, porém mantendo sua operação original no Paraná. Esta parceria se mostrou muito bem sucedida, já que em virtude dela, a Viagro rapidamente adicionou mais três Air Tractors AT-401B e um outro Ipanema à sua frota.

Em 2006, os irmãos mudaram sua sede no Paraná de Sertanópolis para Londrina e criaram sua própria oficina de manutenção aeronáutica, a Vimaer – Vidotti Manutenção de Aeronaves Ltda. A Viagro também adquiriu seu primeiro turbina neste ano, um Air Tractor AT-402B, seguido de quatro AT-502B e, em 2008, um AT-802. Eles também tinham um Embraer EMB-710 “Carioca” para coordenação e suporte.

Apesar deste sucesso, em 2009 Antônio deixou a Viagro para criar seu próprio negócio.

Em 2011, Rolemberg solicitou à ANAC que emitisse uma nova licença, no formato de cartão em plástico para substituir sua antiga de papel, e devido a um engano deles, esta veio com a habilitação de instrutor de voo (INVA) ao invés da de IFR que Rolemberg detinha. Rolemberg nunca tinha sido instrutor de voo, mas enquanto solicitava a correção da licença, ele viu nisto um segundo “sinal do destino” e decidiu abrir uma escola de voo. Assim nasceu a Volare Escola de Aviação Civil Ltda.

Baseada em um aeródromo privado em Londrina, o Aeroporto 14 Bis (SSOK), com uma pista de asfalto de 1.035 metros compartilhada com outras empresas, a Volare opera três Cessnas C-152 para os cursos de piloto privado, comercial e de voo por instrumentos. Para o curso de IFR, um dos C-152 é equipado para navegação de área, com um GPS Garmin 430 e horizonte artificial e HSI digitais. Também o simulador GA-30 da escola tem duas telas EFIS. A escola tem um Beech Bonanza para alunos fazerem horas em aeronave com trem retrátil, e um Piper PA-18 está disponível para quem precisa de experiência em aeronave de trem convencional. A Volare já teve um avião bimotor para o curso de multimotor, mas no momento está sem bimotor, enquanto Rolemberg busca adquirir outro.

Em 2014, houve uma mudança na administração da empresa agrícola no Mato Grosso e a parceria com a Viagro terminou. Com a separação, a Viagro ficou com um Ipanema, quatro Air Tractors AT-401B radiais e dois AT-502B a turbina, e voltou o seu foco unicamente para o estado do Paraná. Hoje, a Viagro Agro Aérea opera quatro Air Tractors AT-502B, dois AT-401B e dois Ipanemas EMB-202, tratando principalmente de cana-de-açúcar, 85% de seu trabalho, para cinco unidades de um grupo que tem nove usinas de cana-de-açúcar. Os restantes 15% do trabalho compõem uma impressionante lista de culturas: soja, milho, mandioca, seringueiras, eucalipto, pastagem, laranja, melancia e urucum!

Quase todas as aplicações são de líquidos, cerca de 98% do total, feitas entre 30 a 50 lts/hectare, dado que Rolemberg prefere vazões mais altas. Todos os aviões agrícolas da Viagro usam equipamentos agrícolas da Zanoni, com bicos da STOL. Inclusive, quando a Zanoni decidiu obter um CST da ANAC para seus sistemas agrícolas para os Air Tractor 402 e 502, solicitou à Viagro que realizasse os ensaios em voo exigidos. Não há necessidade de CST para sistemas agrícolas no Brasil, mas a Zanoni decidiu obtê-lo para dar maior segurança jurídica a seus clientes.

A Viagro comprou seu primeiro sistema GPS, um Satloc, em 1998, e tem permanecido com a marca desde então. Os aviões da Viagro estão equipados com unidades M3 ou Bantam, e Rollemberg está satisfeito com eles. Rolemberg destaca o quanto as exigências técnicas mudaram para sua empresa desde 2014, quando as usinas de cana de açúcar passaram a exigir os mapas de todas as aplicações, os quais são todos revisados. As usinas  também exigem que os aviões da Viagro tenham fluxímetros e altímetros laser, e até os equipamentos dos caminhões de apoio precisam ser certificados pelo Inmetro.

Nove pilotos operam os aviões da Viagro, e apenas um deles não foi formado pela Volare –  mais uma vantagem de se ter uma escola de voo, dado que Rolemberg faz questão de treinar seus pilotos desde o início, tendo descoberto em primeira mão o quão difícil é aprender a voar agrícola por conta. Ele geralmente inicia os pilotos novatos em lavouras de mandioca, as quais na região são quase sempre quadradas ou retangulares, depois os passa para áreas mais complexas à medida em que ganham experiência.

Embora as três empresas sejam formalmente baseadas no Aeroporto 14 Bis, seus aviões agrícolas só vão para lá para manutenção na Vimaer. Do contrário, eles geralmente permanecem nas três bases que a Viagro tem nos municípios de Rondon, Maringá e Paranacity, respectivamente a cerca de 160, 80 e 100 Km de Londrina. De lá, eles operam a partir de 40 pistas agrícolas, algumas delas mantidas pela Viagro. Rollemberg diz que “piloto agrícola não pode voar estressado com pista”, e dá preferência a pistas agrícolas de 1.000 a 1.200 metros, com 40 m de largura. Em algumas pistas, a Viagro instalou tanques de água de até 300 mil litros para apoiar as operações de pulverização. Com essa infraestrutura de apoio e o desempenho dos aviões de grande porte, a Viagro só precisa de cinco caminhões de apoio para seus oito aviões .

Como outros tantos operadores aeroagrícolas, a Viagro tem tido problemas com entidades ambientalistas mal informadas. Rolemberg relata que duas cidades no estado do Paraná, Nova Esperança e Presidente Castelo Branco, passaram ou tentaram passar legislações municipais restritivas à aviação agrícola (mas não à aplicação por drones), alegando que elas prejudicam criadores locais de bicho-da-seda. Além disso, assentamentos de agricultores sem terra ajuizaram catorze ações judiciais contra a Viagro, nenhuma delas com qualquer fundamento real, motivo pelo qual doze delas já foram arquivadas. Felizmente, uma filha de Gutembergue, Paola Christine de Araújo Vidotti Casemiro, é advogada e tem defendido com êxito a Viagro em todas estas questões legais. o Sindag também foi de grande ajuda, inclusive visitando a Câmara de Vereadores de Nova Esperança para esclarecer a realidade sobre a aviação agrícola.

Prestes a completar 44 anos na atividade, Rolemberg e Gutembergue já estão considerando sua sucessão nas empresas. Eles planejam passar a direção das empresas para Paola e para o genro de Rolemberg, Bruno Gomes Tagliari, que também voa agrícola na empresa. Eles terão a responsabilidade de manter um grande legado.

Um Ipanema EMB-202 e um Air Tractor AT-502B na Base Centro da Viagro, na cidade de Rondon, Paraná.
Um dos Air Tractor AT-502B da Viagro com seu caminhão de apoio na Base Iguatemi, em Iguatemi, distrito de Maringá, Paraná.
Base Fartura, com hangarete para dois Air Tractors, município de Paranacity, Paraná.
Um dos Ipanema EMB-202 da Viagro passando por manutenção no hangar da Vimaer. A Vimaer também faz manutenção para terceiros através de um sistema de cooperativa com seus técnicos, como é o caso com o Beech Baron ao fundo do hangar.
O painel de EMB-202 da Viagro, com seu GPS Satloc M3.
Um dos Air Tractor AT-401B recebendo manutenção na Vimaer.
O Piper PA-18 da Volare é um modelo de 1954 que foi usado como avião agrícola, mas hoje leva uma vida mais mansa ensinando alunos da escola a operar trem convencional. Rolemberg pretende modificá-lo com pneus tipo tundra e slats para introduzir competições de pouso e decolagem curtas no Brasil.
A fuselagem do PA-18 está adornada com os nomes de pessoas relevantes na aviação agrícola, incluindo alguns dos pilotos que a operaram em seus dias como avião agrícola. A foto no estabilizador vertical é de Grant Lane.
O simulador GA-30 da Volare tem duas telas EFIS ao invés de instrumentos analógicos, para familiarizar seus alunos com a tecnologia mais recente.
O sol se põe nos hangares da Volare e da Vimaer (fechado) no Aeroporto 14 Bis, Londrina, Paraná.
Gutembergue (esq.) e Rolemberg Vidotti (dir.), irmãos e sócios em três empresas: Viagro, Volare e Vimaer.
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