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Tempo de Proibição

O interessante artigo “Aplicações Ilegais por Drones”, publicada na edição de julho de AgAir Update nos EUA, onde (ainda) não estão autorizadas as aplicações aéreas por drones, me lembrou do tempo da Proibição, quando era ilegal comprar bebidas alcoólicas nos Estados Unidos. Porém, o gênio já estava fora da garrafa. Talvez possamos usar isto como uma oportunidade para melhorar as atuais operações de aplicação aérea.

Por exemplo, mais de 8 mil drones já estão fazendo aplicações no Brasil, com a expectativa de chegar a 100 mil até o final de 2023. Isto mostra que há um interesse no uso de drones para aplicações aéreas, e devemos prestar atenção ao porquê de tantos produtores estarem interessados. Em muitas situações, seria vantajoso para uma empresa aeroagrícola operar um drone, para lidar com aquelas lavouras pequenas e irregulares, onde é difícil ou mesmo impossível de se pulverizar com um avião a turbina, por sua alta velocidade.

As bulas atuais exigem que os operadores de drones sigam as mesmas recomendações determinadas para aplicações aéreas, tais como tamanho de gota, altura da aplicação e comprimento da barra. Tecnicamente, novas bulas deveriam ser preparadas especificamente para aplicações por drones, dado que um drone não pode ser operado da mesma forma que um avião agrícola. Algumas das maiores empresas químicas multinacionais estão ativamente considerando os drones, e já há um produto com bula específica para aplicação por drone.

Graças a introdução dos drones, há uma nova oportunidade para aplicações em Ultra Baixo Volume (UBV). Aplicações de baixo volume foram avaliadas nos Estados Unidos no início dos anos 1980, e tem sido a norma em vários países, como Argentina e Bolívia, há cerca de meio século.

As tentativas anteriores, nos anos 1980, de se usar UBV nos Estados Unidos falharam principalmente porque produtores e aplicadores usavam água como veículo, ao invés de uma formulação não volátil feita sob medida para garantir um tamanho de gota consistente e controlar a evaporação.

Em mercados de outros países, onde as bulas são diferentes ou não são seguidas, os operadores de drone rapidamente adotaram tecnologias usadas em baixo volume (BV) e UBV, e demonstraram o fato bem conhecido de que, na maioria dos casos, aplicações em BV podem ser mais eficientes, ao colocar mais produto na cultura ou na praga-alvo. Isto imediatamente traz a pergunta, “porque?” A resposta é simples e óbvia: quando o tamanho da gota e o volume são adequados ao alvo, mais ingrediente ativo atinge o alvo.

Em experiências em todo o mundo, provei que todos os produtos para proteção de lavouras são mais eficientes quando aplicados em menores volumes de pulverização. Mais produto no alvo significa menos produto perdido para a evaporação e menos poluição do ar, deriva, escorrimento e contaminação do solo.

O requerimento crítico para o sucesso em aplicações de baixo volume é o uso de um óleo adjuvante que deve realizar várias funções, incluindo:

1. Ajudar a manter a mistura dos produtos homogênea durante a pulverização

2. Conter emulsificantes adequados para garantir sua fácil mistura com água

3. Conter um agente espalhante suficiente para reduzir a tensão superficial da água, permitindo a formação de gotas de tamanho mai uniforme e melhorando o lento espalhamento das gotas quando atingem o alvo

4. Controlar a evaporação para manter a gota líquida por um mínimo de 5 minutos, preferencialmente 15 a 20 minutos, para melhor penetração da folha e a rápida derrubada dos insetos

5. Quando temos a formulação ideal que atinge os parâmetros 1 a 4, não há mais qualquer limitação para a pulverização por temperatura e umidade relativa. Em toda a América do Sul, o avião só para quando o vento para, ou quando o piloto precisa descansar. Muitos milhões de hectares estão sendo tratados com sucesso, em temperaturas de até 43°C e umidade relativa de apenas 15%.

Há várias situações onde aplicações em UBV tem sido a regra e muito bem sucedidas nos Estados Unidos, incluindo o controle de mosquitos, de gafanhotos, do “bicudo” no algodão e da lagarta-do-botão do aberto oriental, nas florestas dos Estados Unidos e do Canadá. Essas aplicações têm um aspecto em comum: são usados produtos não voláteis ou oleosos, e não água, que sofre perdas por evaporação.

Edward Bals, o fundador da Micron Sprayers, foi um pensador e inventor inovador, que olhou para o problema do ponto de vista do produtor rural no mundo em desenvolvimento. Ele criou a ideia da Aplicação com Gota Controlada, usando discos pulverizadores rotativos para geração de spray em aplicações de baixo volume. Este é o princípio no qual os produtos principais da Micron ainda estão baseados.

Durante os anos 1970, a produção de algodão na África Subsaariana foi revolucionada pela introdução dos pulverizadores para UBV da Micron. Isto permitiu que os produtores protegessem efetivamente suas lavouras pela primeira vez –  algo anteriormente inviável com as aplicações por técnicas de pulverização em alto volume, devido ao tempo e mão de obra envolvidos. Em 1975, apenas 50% do algodão plantado lá era protegido (3% por cento por pulverizadores de discos rotativos). Em 1984, menos de uma década depois, 80% do algodão dos pequenos produtores era protegido, com 97% recebendo aplicações com pulverizadores de discos rotativos. Houve um aumento correspondente na produtividade média de 65%.

A grande maioria das aplicações por drone hoje em dia são muito ineficientes, dado que seus operadores não têm treinamento adequado. Além disso, há um mito de que drones não produzem deriva, e podem voar muito próximo da cultura em aplicações dirigidas. A realidade é bem diferente, dado que drones devem operar com vento de través e podem produzir mais deriva do que um avião agrícola, devido à turbulência dos rotores.

A maioria dos drones hoje são pequenos, com carga útil entre 20 e 40 kgs. Porém, modelos maiores, que podem carregar de 80 a 200 kgs recentemente foram aprovados. Tremo em pensar nos desastres potenciais aguardando para ocorrer, se não houver treinamento e legislação adequados para orientar o uso desses equipamentos. De um ponto de vista técnico, drones são muito eficientes com volumes de aplicação de 2 a 8 litros por hectare, e muitos estão sendo usados com sucesso nas seguintes culturas: soja, algodão, milho, café, citros, uvas e melancias .

Se bulas de produtos forem desenvolvidas para drones, estas bulas poderiam ser facilmente adaptadas para permitir que aviões agrícolas apliquem estes produtos com o mesmo baixo volume.

Ao invés de se criticar operadores de drones, eu sugiro que cooperemos com eles e com a indústria química, para que aprendam os benefícios de aplicações em BV e desenvolvam formulações adequadas, que possam ser usadas para reescrever as bulas para todas as modalidades de aplicações aéreas. Como consultor independente em pulverização de culturas, eu acredito que temos uma tremenda oportunidade para atualizar as bulas dos produtos e escapar dos problemas de altas temperaturas e evaporação do spray, ao desenvolvermos novas formulações adequadas às culturas e às pragas-alvo.

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