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Lidando com Emergências

Ao decidirmos voar, implicitamente aceitamos um nível de risco. Aqueles que não estão familiarizados com a aviação agrícola de hoje frequentemente me perguntam o quão perigosa ela é. Minha resposta reflete aquele adágio que diz que a aviação não é inerentemente perigosa, mas sim muito impiedosa com atos de desleixo ou negligência.

Eu também acrescento que uma boa parte do pessoal da aviação agrícola está sempre aprendendo a lidar com êxito com emergências críticas, onde o sucesso pode ser literalmente um salva-vidas, e o fracasso pode significar um terrível dia no serviço. Na terminologia moderna, “gerenciamento de risco” se tornou o termo geral usado para responder a pergunta de como se preparar para uma eventualidade destas.

O foco está em desenvolver um bom julgamento e a capacidade de tomar decisões considerando a aeronave, o piloto, o ambiente e a operação. Aqui estão alguns lembretes, sugestões e dicas para ajudar você a se manter frio quando a coisa ficar quente, e para manter seu instinto de autopreservação em plena capacidade na próxima vez que você for voar.

Botando a Leitura em Dia

Sei que estou chovendo no molhado aqui, mas um excelente primeiro passo é o óbvio: estude o que pode dar errado e como lidar com a situação. Isso começa com a leitura atenta do manual de voo da aeronave, não apenas no início da safra, no treinamento de atualização que a maioria das empresas faz, mas com releituras frequentes durante as paradas nas operações devido a uma Mãe Natureza de mau humor ou outros fatores.

Certifique-se de que você esteja bem ao par das seções de Limitações, Procedimentos Normais e Desempenho, mas também saiba de cor a seção de Emergências, praticando-as repetidamente com o avião parado no chão. Quando der o “barata voa”, você não quer estar procurando onde fica a tecla dos ignitores no painel.

Melhor ainda, veja se você consegue fazer um cheque em um simulador da aeronave que você voa, para praticar as emergências em um ambiente realístico. Me lembro de um piloto me dizer que ele não dava muita bola para o manual do avião, porque na sua ideia, todos os aviões voam mais ou menos do mesmo jeito, e a melhor maneira de conhecer o avião era entrar nele e voar.

Há uma certa verdade nesta afirmação, mas ela ignora o fato de que os detalhes operacionais de cada aeronave podem ter fatores que não são imediatamente  aparentes. Há também uma enorme diferença entre os problemas que podem aparecer em um Pawnee com hélice de passo fixo dos que podem acontecer nas aeronaves a turbina atuais, muito maiores e consideravelmente mais complexas.

Mãos Treinadas

Lidar com qualquer emergência não é apenas uma questão de se conhecer a teoria dos sistemas da aeronave, mas também em grande parte daquilo que é conhecido como memória muscular, a habilidade de se reproduzir um movimento específico sem se pensar nele, adquirida através da frequente repetição daquele movimento.

Alguns exemplos disso são amarrar um sapato, digitar dados ou lançar uma bola, onde a prática reduz o ato para uma natureza quase autônoma. Você não pensa nele, você simplesmente faz.

Quando você senta na cabine de uma aeronave diferente pela primeira vez, há um período de aprendizado no qual você se acostuma com qualidades de manejo diferente, configurações de instrumentos diferentes, etc.  Há um sentimento de desconforto, até que nos acostumemos com o que não é familiar (“onde está aquele maldito comando do flap”), após o que suas mãos automaticamente alcançam os comandos corretos na hora certa. E isto é particularmente importante quando a coisa fica preta.

Aqui está um exemplo de mãos treinadas salvando a minha pele. Eu estava trabalhando em um projeto de pulverização florestal com um grupo de Thrushes S2R radiais. Os tiros às vezes chegavam a passar de 15 milhas de comprimento, e a altitude do terreno variava consideravelmente, com uma ponta chegando a ser 800 pés mais alta do que o resto.

Em um dos “tiros”, eu ajustei a mistura do motor quando cheguei na parte mais alta, no final do “tiro”. No “tiro” seguinte, em direção oposta, reduzi o motor na descida para a parte mais baixa do talhão, e avancei a manete quando terminei a descida, para nivelar. O motor falhou e tossiu, e eu imediatamente acionei a bomba de combustível de emergência, sem resultado.

Eu me lembro de pensar furiosamente no que o problema poderia ser!  Enquanto o meu cérebro lutava com essa situação, minha mão esquerda, aparentemente por conta própria, empurrou a manete de mistura toda à frente. Não me lembro de pensar que deveria fazer isso, mas eu tinha praticado emergências de falha de motor no solo, as quais exigiam a mesma resposta no quadrante de manete. Minha mão treinada sabia o que fazer, mesmo quando meu cérebro estava em pânico.

Mantenha o Controle

O primeiro item crítico a ser seguido em uma emergência é se assegurar que você mantenha um controle positivo da aeronave, de forma que uma situação ruim não fique ainda pior. Lembre-se que um avião sem o empuxo do motor perde velocidade rápido, assim qualquer puxada ou inclinação que você faça pode deixá-lo muito perto do estol, antes que você se dê conta disso.

Um acidente que eu investiguei envolveu uma pane de motor em altura de aplicação, seguida do alijamento completo da carga pelo piloto. O piloto não reagiu a tempo de impedir o extremo momento cabrador causado por este procedimento, não tendo praticado alijamentos com carga completa de água anteriormente. A aeronave subsequentemente estolou e baixou uma asa, a qual bateu no solo, fazendo a aeronave girar tão violentamente que o motor foi encontrado a 30 metros da posição final do resto da aeronave.

Estivesse o piloto (o qual saiu ileso do acidente) familiarizado com a reação da aeronave em um alijamento de carga, ele provavelmente teria pousado o avião na lavoura sem maiores problemas.

Aproveite para Aprender

Após uma emergência ou situação anormal, tire um tempo para analisar o que aconteceu e escreva o que você consegue lembrar sobre a situação inteira, das primeiras indicações até o final. E não disfarce as coisas. É a hora de ser tão objetivo quanto possível sobre como você lidou com a situação e o que você gostaria de ter feito diferente,

Compartilhe o Conhecimento

Ao longo dos anos, encontrei um imenso volume de conhecimento e experiência na aviação agrícola em conversas com pilotos, mecânicos, proprietários e operadores. Sinta-se à vontade para aprender com a experiência deles, e esteja aberto a compartilhar a sua sempre que puder. Uma grama de prevenção realmente vale mais do que um quilo de solução.

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