Crescer exige coragem. E coragem nunca faltou à família Soldeira.
por Ernesto Franzen – fotos Soldeira Aviação Agrícola
Uma empresa relativamente jovem, mas com raízes antigas na aviação agrícola; esta é a história da família Soldeira e de sua altamente profissional empresa aeroagrícola. Tudo começou quando Edison Soldeira foi contratado em 1984 pela Indústria Aeronáutica Neiva, em Botucatu, São Paulo. Naquela época, a Neiva era uma subsidiária da Embraer que fabricava o avião agrícola Ipanema e vários modelos da Piper Aircraft sob licença. Dois anos depois, Edison casou-se com Érica, com quem teve três filhos: Douglas, Rafael e Leonardo.
Ocasionalmente, um Ipanema ainda novo era danificado em um acidente e seu proprietário chamava a Neiva, solicitando que fosse consertado pela fábrica. Embora este não fosse um serviço oficial da Neiva, para agradar o cliente eles acabavam por indicar Edison para fazer o serviço. Ele então viajava até o local onde o avião acidentado estava e fazia os reparos. Depois de alguns desses serviços, Edison começou a pensar que poderia ganhar mais dinheiro como técnico de reparo aeronáutico independente do que como funcionário da Neiva. Assim, em 1993 ele deixou a Neiva e começou a consertar Ipanemas acidentados por conta própria. Além disso, no final da década de 1990, quando ocorreu o boom do GPS no Brasil, ele também passou a instalar unidades GPS da Satloc para a Pontual Aeroagrícola, na época uma representante da Satloc em Ituverava, São Paulo.



Em 2005, Edison tornou-se sócio de uma oficina de manutenção, a Ipanema Manutenção de Aeronaves, em Cornélio Procópio, no estado do Paraná. Enquanto sua esposa Érica ajudava com as tarefas administrativas, o filho mais velho, Douglas, começou a ajudá-lo com a parte de documentação da manutenção, mas logo descobriu que gostava mais de trabalhar “com a mão na graxa” nos aviões. Assim, em 2007 Douglas começou a fazer um curso de mecânico aeronáutico, no qual se formou em 2009. Também em 2007, a família deixou essa sociedade para ingressar em outra oficina de manutenção, a Fênix Aviação, em Arapongas, também no estado do Paraná.
Foi em 2010 que Edison decidiu deixar aquela sociedade e abrir sua própria oficina de manutenção em Andirá, cidade paranaense próxima à divisa com São Paulo. Para abrigar a oficina, Edison construiu no Aeroporto Municipal de Andirá o hangar que hoje é a base da Soldeira Aviação Agrícola. No mesmo ano, Douglas fez seu curso teórico de piloto privado no Aeroclube de Londrina, e posteriormente fez o curso prático de piloto privado no Aeroclube de Toledo, em troca do serviço de reentelamento de um Aero Boero do aeroclube.
De oficina de manutenção à empresa aeroagrícola
Apesar de ser o primeiro dos irmãos Soldeira a se tornar piloto, não foi Douglas quem teve a ideia de criar uma aeroagrícola, mas sim o irmão mais novo, Leonardo, que sempre quis ser um piloto agrícola. Leonardo começou a fazer seus cursos de piloto em 2014, mesmo ano em que a família comprou um Ipanema EMB-201A que não estava aeronavegável. Com sua expertise em manutenção, eles rapidamente o deixaram como novo e Leonardo decidiu fundar a Nocaute Aviação Agrícola naquele mesmo ano, com um piloto contratado para operar o Ipanema. A empresa se concentrou em atender os pequenos agricultores locais ao redor de Andirá, que cultivavam principalmente soja e milho.



Em 2017, Leonardo se formou no CAVAG do Aeroclube de Ponta Grossa e começou a voar para a sua própria empresa, enquanto Douglas ajudava na oficina de manutenção e o irmão do meio, Rafael, ajudava como técnico agrícola. Rafael, depois de muito colaborar para o crescimento da empresa, a deixaria para perseguir projetos próprios.
Eles conseguiram comprar seu segundo avião em 2019, um Ipanema EMB-202, mas a empresa patinava com a clientela de pequeno porte. Naquele mesmo ano, Douglas se formou piloto agrícola no CAVAG do Aeroclube de Ponta Grossa e passou a voar para a empresa, que já usava o nome de Soldeira Aviação Agrícola, enquanto Rafael estimulava a empresa a buscar clientes maiores. Eles conseguiram um contrato com um grande produtor de citros no sudeste do estado de São Paulo, e a empresa começou a crescer. Para acompanhar a demanda, em 2020 compraram um Cessna Ag Husky, e perceberam a necessidade de ter um avião maior e mais produtivo. Assim, em 2021, compraram um Air Tractor AT-401B com motor radial e arrendaram um Gippsland GA200C da Pontual Aeroagrícola.
Um investimento ousado para crescer
Nessa época, a Soldeira Aviação Agrícola começou a buscar contratos com usinas de cana-de-açúcar no sudeste de São Paulo. Mas os contratos realmente grandes só vieram depois que a família tomou a ousada decisão de investir em um Air Tractor AT-502B, comprado novo da AgSur Aviones em 2023. Para pilotá-lo com segurança, Leonardo fez o curso de operação do AT-502B da AgSur. A aposta deu certo, tanto que a empresa decidiu adquirir um segundo Air Tractor AT-502B, também comprado zero da AgSur Aviones, para atender às novas demandas. Em 2024 Douglas também fez o curso do AT-502B da AgSur para pilotar este novo avião, entregue em maio de 2025. “O cliente grande é consequência de se ter um avião grande”, diz Leonardo, enquanto Douglas acrescenta: “Os clientes querem agilidade”.




Hoje, a Soldeira Aviação Agrícola opera seus dois Air Tractor AT-502B, além do primeiro EMB-201A Ipanema da empresa (mantido como uma espécie de amuleto da empresa), um EMB-202 e um EMB-203 entregue em fevereiro de 2025.
Estas aeronaves voam praticamente o ano todo, sendo 55% das aplicações em cana-de-açúcar, 35% na laranja e as 10% restantes em diversas culturas. A safra de cana-de-açúcar começa em outubro e vai até julho. Nas aplicações em cana-de-açúcar, a Soldeira Aviação Agrícola usa bicos CP-11TT da CP Nozzles, em vazões de 20, 30 e 40 litros por hectare.
Já as aplicações na laranja começam em junho e se estendem até março ou abril, ocorrendo geralmente nos finais de semana, quando não há colhedores trabalhando nos pomares. As aplicações são feitas com vazão de 10 litros por hectare, usando-se atomizadores rotativos ou o SPE Aéreo Eletrostático da Travicar.
As poucas aplicações de sólidos solicitadas pelos clientes da Soldeira Aviação Agrícola são feitas com difusores Swathmaster da STOL.




Todas as aeronaves da Soldeira Aviação Agrícola são equipadas com unidades GPS Travicar e sistemas agrícolas da Zanoni. Os dois Air Tractors também possuem Válvulas Automáticas ON/OFF Travicar integradas aos GPS, para garantir aplicações precisas.
Uma operação familiar muito profissional
Embora continuem atendendo os pequenos agricultores perto de sua base em Andirá, hoje os maiores clientes da Soldeira Aviação Agrícola estão a até 300 quilômetros de distância, em sua maioria no sudeste do estado de São Paulo. Durante a safra, seus aviões permanecem a maior parte do tempo nas bases de clientes, retornando para a base em Andirá apenas para manutenção. Para dar suporte a essas operações remotas, a Soldeira Aviação Agrícola conta com uma frota de dois caminhões para os Air Tractors e três caminhonetes para os Ipanemas, além de uma caminhonete para o seu coordenador. A Soldeira Aviação Agrícola não hesita em enviar seus equipamentos para onde quer que surja uma boa oportunidade de trabalho.
A Soldeira Aviação Agrícola tem um forte foco no profissionalismo, valorizando muito seus colaboradores, a quem agradecem por sua parcela no sucesso da empresa, cientes que a maior dificuldade para uma boa empresa aeroagrícola é a contratação de pilotos e técnicos agrícolas bem capacitados. São gratos, também, a quem deu crédito para a empresa em seus primórdios, quando ela lutava para crescer, como os empresários José Cavalcante, que lhes vendeu o terceiro avião, o Cessna Ag Husky, e Gianluca Possamai, que lhes arrendou o GA200C, o que permitiu à empresa atender sua demanda na época.

A empresa está sempre em busca do que há de mais moderno em tecnologia de aplicação, para oferecer o melhor serviço aos seus clientes. Como afirma Leonardo, “precisamos nos modernizar e nos manter atualizados com os novos tempos”. Os dois irmãos, Douglas e Leonardo, cogitam fazer cursos de combate a incêndio, para aproveitar mais esta oportunidade de negócio que surge em função de operarem aviões de grande porte, e acompanham atentamente os últimos avanços na aviação agrícola autônoma.
Douglas conta que seu pai, Edison, se emocionou ao ver os dois Air Tractors da empresa estacionados lado a lado, na materialização de seu sonho. Hoje, à experiência de Edison na área de manutenção se somam o apoio administrativo de Érica, a energia e dedicação de Douglas (que também é o Gestor de Segurança Operacional), e a visão de Leonardo como sócio proprietário. Fica claro que a Soldeira Aviação Agrícola tem um longo caminho de sucesso pela frente.