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Papo de Cabine – Ainda os Drones

Tenho estado acompanhando o esforço continuado por empresas de drones para entrar no mercado de aplicação aérea. Tendo vivido na aviação agrícola por mais de 50 anos, vejo que algumas delas estão tentando fazê-lo da forma certa, enquanto que outras parecem estar vivendo em um universo alternativo.

A maioria dos leitores de AgAir Update sabe bem dos desafios que esses operadores de drones enfrentam. Minha maior preocupação é a falta de um tratamento igual, no que tange a regulamentos e técnicas de aplicação. Estes dois pontos resumem os principais desafios que vejo para operadores de drones. Há outras questões além destas, tais como duração da carga das baterias e a disponibilidade de pilotos de drones qualificados para aplicação de defensivos. Problemas que serão resolvidos à medida em que a tecnologia progride e mais escolas de treinamento surgirem.

Não sou contra o uso de drones, se for feito corretamente. É fato que os drones têm seu lugar na aplicação aérea. O problema que vejo é que alguns operadores de drones desconhecem  a maneira correta de se fazer uma aplicação aérea. Muitos não seguem as bulas dos produtos, não fazem calibração de seu sistema de pulverização ou não tem técnicos agrícolas qualificados para o preparo das caldas. Alguns artigos que tenho lido implicam ou mesmo afirmam diretamente que estas aplicações estão sendo feitas em volumes abaixo do determinado nas bulas. Isto me parece não ter lugar na atual condição da aviação agrícola. Sim, eu sei que algumas isenções têm sido concedidas. Será interessante ver no que isso resultará. Não há dúvida de que as aplicações por drones devem ser avaliadas pelos mesmos padrões das aplicações feitas por aviões tripulados. O mesmo se aplica aos seus equipamentos de pulverização.

Sim, os drones têm um papel crítico na aviação agrícola. Sabemos que eles podem tratar áreas inacessíveis para aviões agrícolas operando sob a Parte 137. Todos precisamos entender que, sem isenções às regras e aos regulamentos seguidos por operadores sob a Parte 137, o uso generalizado de drones fica inviável. Assim, normas e regulamentos claros para aplicações por drones devem ser definidos, assim como acontece com a aviação agrícola há décadas. Do contrário, eles poderão acabar sendo vistos de forma negativa pelo público e isso se somar ao preconceito que a nossa aviação agrícola já sofre hoje.

Sou o primeiro a reconhecer que os volumes de aplicação definidos em várias bulas de defensivo precisam ser reavaliados. É um fato comprovado que um significativo número de aplicações de pesticidas podem ser feitas com segurança e efetividade em volumes mais baixos, bem mais baixos.

Um dia, as agências reguladoras e as indústrias químicas resolverão adequadamente esta questão de aplicações em baixo volume (BV) e em ultra baixo volume (UBV). As indústrias de defensivos irão fazê-lo assim que os órgãos reguladores “abrirem a porta” para aplicações em BV e UBV. Os operadores de aviação agrícola estão apenas esperando que estas entidades se entendam.

Aí você pergunta, “E quanto ao contínuo desenvolvimento de drones cada vez maiores, possivelmente até do mesmo porte e capacidade de uma aeronave atual operada sob a Parte 137?” Pense no custo e no retorno do investimento. Quais serão eles? Uma vez que um drone de porte similar a um avião agrícola seja desenvolvido, seu custo-benefício se torna similar ao do avião. Qualquer economia decorrente por ser ele não tripulado será cancelada pela necessidade de se ter um operador de drone qualificado e pelo custo do sofisticado equipamento necessário para pilotar automaticamente um drone de alguns milhares de quilos de peso total. Irá a ANAC exigir mecânicos qualificados para a sua manutenção? Quem fará estas inspeções? Os técnicos em manutenção aeronáutica atuais não estão familiarizados com estes sofisticados sistemas de pilotagem automática, e não estou me referindo apenas aos seus GPS, mas sim a todo o hardware necessário para pilotá-los. Quanto mais se analisa as questões operacionais de drones de grande porte na aplicação aérea, mais claro fica que, à exceção do trabalho em áreas menores, seu uso será um desafio por muito tempo.

Por que há tantos exemplos de operadores de drone desejando ou até mesmo tentando fazer aplicações em grandes lavouras? Eles sabem no que estão se metendo? A maior parte dos operadores de drones fazem bem seu trabalho, dentro de suas limitações. Mas ainda há muitas questões a serem solucionadas antes que a proteção de culturas por drones seja tão corriqueira quanto a aviação agrícola é hoje. A frequente troca de baterias demandando retornos e pousos repetidos, e a manutenção de componentes não projetados para este tipo de abuso em um ambiente corrosivo, só para citar alguns. Estou curioso para ver como e quando a tecnologia irá solucioná-los.

Assim como no Brasil, aqui nos Estados Unidos a comunidade dos drones na aplicação aérea está tentando se organizar, como ficou claro em um recente simpósio ocorrido em Gulf Shores, no estado do Alabama. A NAAA (National Agricultural Aviation Association) estava presente, e Andrew Moore fez uma apresentação bastante realista. Seria um erro ignorar ou mesmo desprezar os operadores de drones, a ponto de que eles sejam levados a criar a sua própria associação independente. No Brasil, o Sindag tomou esta iniciativa e já tem vários operadores de drones entre os seus associados. A aviação agrícola tem excelentes associações em vários países, e quem melhor para acolher os operadores de drones e orientá-los quanto ao treinamento adequado e aos padrões de operação do que associações como a NAAA, o Sindag, a FeArCA, a ANEPA e seus especialistas na área?

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