Fotos: Néstor Santos e Juan Molina
A aviação agrícola passa por tempos difíceis. Como se não bastassem as dificuldades econômicas, grupos ativistas ambientais mal informados elegeram nossos aviões altamente visíveis como seus maiores vilões, e se valem de qualquer incidente de deriva de aplicação aérea como munição para justificar legislações mais e mais restritivas contra nós. Este é o principal motivo pelo qual tantas associações de aviação agrícola estão promovendo programas de qualidade de aplicação para seus membros
A ANEPA – Asociación Nacional de Empresas Privadas Aeroagrícolas – a associação de aviação agrícola nacional do Uruguai, não é exceção. Mas ao invés de “reinventar a roda”, a ANEPA buscou junto à sua co-irmã da Argentina, a FeArCA, Federación Argentina de Cámaras Agroaéreas, e adotou o mesmo Programa de Mejora Continua que o Grupo APC, uma empresa privada, vem desenvolvendo com a FeArCA nos últimos quatro anos, com a colaboração do INTA, the Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (equivalente à Embrapa brasileira) e também do SENASA, o Servicio Nacional de Sanidad y Calidad Agroalimentaria.
A primeira aeroagricola uruguaia a adotar este Programa de Mejora Continua não poderia ser outra senão a Progreso Aeroservicios, de propriedade de Néstor Santos, que também é secretário da ANEPA. Como seu nome indica, a Progreso Aeroservicios é uma empresa muito progressista com base principal na cidade de Progreso, Departamento de Canelones, perto de Montevidéu e do prestigioso resort de Punta del Este. Fundada por Néstor em 1983, inicialmente como uma empresa de publicidade aérea através de reboque de faixas, a Progreso acrescentou a aplicação aérea à seus serviços em 1988, com um Cessna 180 e um Pawnee PA-25, e cresceu gradualmente até sua atual frota de um Air Tractor AT-502, dois Air Tractors AT-402B e quatro Cessna C-188 Ag Trucks. Além dos serviços de aplicação aérea, a Progreso Aeroservicios também continua prestando serviços de reboque de faixa, bem como inspeções aéreas de redes de transmissão elétrica, táxi aéreo, aerofoto e outros. Para estes serviços, a Progreso Aeroservicios também opera dois Cessnas 182, um Taylorcraft e três helicópteros Robinson, dois R-44 e um R-22.
Sendo a aplicação aérea seu negócio principal, em julho de 2023 a Progreso Aeroservicios passou por sua primeira avaliação dentro do Programa de Mejora Continua do Grupo APC.
De acordo com Juan Molina, presidente do grupo APC, o Programa de Mejora Continua se destina a reduzir as pegadas hídricas e de carbono das aplicações de agroquímicos, otimizando o uso de recursos naturais como a água e aumentando a eficiência dos defensivos, de forma a maximizar os resultados e proteger o meio ambiente
A aplicação do começa com uma pesquisa feita através de questionários junto a todo o pessoal – pilotos técnicos e administrativos – com vistas a determinar seu grau de conhecimentos a respeito de aplicações de defensivos agrícolas.
A seguir, uma reunião é feita com todo o pessoal envolvido visando criar um compromisso de todos com o processo de melhoria.
Após isso, todo o equipamento usado pela empresa em aplicações de defensivos é avaliado pelos especialistas do Grupo APC: aviões, bicos, difusores, bombas, equipamentos GPS, controladores de vazão, etc
Finalmente, testes de deposição são realizados com os aviões agrícolas da empresa. Para esta avaliação, o pessoal do Grupo APC prefere usar uma linha de cartões de papel hidrossensível postados em suportes especiais, os quais mantém os cartões de frente para o vento e em um ângulo de 45 graus com o solo. Após a passagem do avião, estes cartões são colocados em um escaner de mesa ou fotografados com um celular,.e lidos por um software comercial para avaliar a deposição da faixa. O Grupo APC está desenvolvendo um software proprietário para isto, que usará inteligência artificial.
Este trabalho dá ao operador amplas informações sobre o que a empresa e sua equipe podem fazer para melhorar a qualidade de suas aplicações, e deve ser repetido anualmente. Juan Molina diz que, sob sua parceria com a ANEPA e a FeArCA, este trabalho de avaliação sai a um custo razoável para os membros destas associações.
Segundo Juan Molina, ”Em apenas cinco anos, antecipamos uma mudança radical na forma com que aplicamos defensivos em lavouras. É essencial que nos preparemos para esta próxima revolução agrícola. A inovação tecnológica está transformando nosso trabalho e devemos estar na vanguarda para garantir a eficiência e a sustentabilidade na agricultura”. Um dos objetivos do Programa de Mejora Continua é preparar os profissionais da aplicação aérea para esta mudança. Embora a Progreso Aeroservicios tenha sido a primeira empresa membro da ANEPA a passar pelo Programa de Mejora Continua, outras já estão seguindo seus passos; no momento em que escrevemos isto, e muitas empresas associadas à FeArCA da já foram avaliadas por Juan e sua equipe do Grupo APC.
O Programa de Mejora Continua não se aplica apenas à aviação agrícola; empresas de pulverização terrestre e por drones também já foram avaliados por ele, o que dá a Juan uma perspectiva única da qualidade destas três formas de aplicação de defensivos. Juan diz que aplicadores aéreos têm registrado a melhor qualidade nas aplicações avaliadas por seu Programa, mas que operadores de drones têm demonstrado uma melhor compreensão dos parâmetros de qualidade de pulverização nas pesquisas por questionário realizadas por ele.
Vivemos em uma época na qual o erro não é uma opção. Para sobreviver, a aviação agrícola deve tomar todas as medidas possíveis para evitar incidentes de deriva e melhorar a qualidade e efetividade das aplicações aéreas. Esta elogiável iniciativa de FeArCA e ANEPA chega bem a tempo. A NAAA (National Ag Aviation Association) dos Estados Unidos tem, desde 1996, o PAASS – Professional Aerial Applicator Support System (Sistema de Apoio ao Aplicador Aéreo Profissional), cujo lema diz tudo: “Do desempenho de cada um, depende o destino de todos”.