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Mirta Vanni: Feminista, Pioneira e Lenda da Aviação Agrícola

A aviação agrícola global deve muito a Mirta Vanni, uma uruguaia cuja história nos enche de orgulho e admiração.

Algumas pessoas são tocadas pelo destino, seja por se encontrarem no lugar e na hora certa, seja por traçarem seu próprio caminho, deixando uma marca indelével. Daqui a 150 anos, nenhum de nós ainda estará aqui; o que restará serão memórias e legados. Alguns serão lembrados apenas pelos familiares, outros passarão despercebidos. Mas alguns irão transcender e ocupar um lugar nos livros de história.

É o caso de Mirta Vanni, aviadora uruguaia cuja determinação e visão mudaram para sempre o rumo da aviação agrícola.

UMA PIONEIRA EM TODOS OS CÉUS

Mirta Vanni abriu caminhos em um mundo dominado por homens. Em 1943, tornou-se a primeira mulher a obter a Licença de Piloto Comercial no Uruguai e, logo depois, possivelmente a primeira piloto agrícola do mundo. Numa época em que poucas mulheres entravam na aviação, o seu talento e paixão levaram-na a desafiar os limites estabelecidos.

Porém, seu caminho não foi fácil. Ao tentar ingressar como piloto na PLUNA, companhia aérea de bandeira uruguaia, encontrou um obstáculo intransponível: o machismo. Em suas próprias palavras: “Eu tinha 19 anos, era qualificada, tinha minhas licenças. Mas quem selecionava os candidatos era um americano e me disse: ‘Não quero mulheres aqui’”.

Longe de desistir, Mirta optou por continuar voando em novas direções. Foi também a primeira mecânica aeronáutica mulher do país, demonstrando o seu compromisso com a aviação em todas as suas dimensões.

Quando ninguém ainda imaginava o potencial dos aviões na agricultura, ela já estava mudando paradigmas. Respondeu a um apelo de pilotos do Ministério da Agricultura e Pescas, numa altura em que o país enfrentava uma grave crise devido a ataques de gafanhotos. Seu profissionalismo a levou a ascender rapidamente para se tornar a primeira Diretora do Serviço Aéreo do Ministério.

A partir dessa posição promoveu a profissionalização da aviação agrícola e dirigiu o primeiro Curso de Piloto Agrícola no Uruguai (e possivelmente no mundo). Entre 1952 e 1959 liderou experimentos de fertilização e semeadura aérea, lançando as bases de uma indústria que hoje é fundamental para a produção nacional do Uruguai.

RECONHECIMENTO INTERNACIONAL

Mirta Vanni não só quebrou barreiras sociais e de género: transformou a aviação agrícola com rigor técnico, planeamento meticuloso e grande capacidade de resposta a imprevistos.

Seu trabalho foi reconhecido internacionalmente. Sob sua direção, o Ministério da Agricultura e Pesca adquiriu aeronaves nos Estados Unidos e foi o primeiro cliente internacional da Embraer, adquirindo os lendários Ipanemas.

Sua busca pela inovação a levou a compartilhar conhecimento na Nova Zelândia, Austrália, Canadá, Estados Unidos, Holanda, França e Reino Unido.

UMA MULHER DE AÇÃO

Em 1959, o Uruguai sofreu as piores inundações da sua história. Neste contexto, Mirta colocou à disposição do governo a frota aérea do Ministério, realizando inúmeras missões de transporte de medicamentos, mantimentos e evacuações.

Uma anedota ilustra sua atuação determinada diante da burocracia: durante um voo com o então ministro Wilson Ferreira Aldunate – que queria conhecer pessoalmente a lendária piloto – ele lhe contou que em seu gabinete havia um processo solicitando sua demissão. A razão? Mirta tinha desobedecido a uma ordem oficial e saído sem a permissão de Aduanas, para pulverizar as plantações no norte do país, que sofriam uma invasão de lagartas.

Mas o seu compromisso com a atividade já era conhecido e, longe de puni-la, Wilson a enviou para a Nova Zelândia, para treinar novas técnicas de aplicação aérea.

ADEUS A UMA LENDA

Poucas pessoas realmente merecem o título de Lenda e, mesmo assim, este é pequeno demais para Mirta Vanni.

Tive a honra de compartilhar um encontro com ela como membro da APAU (Associação de Pilotos Agrícolas do Uruguai). Lembro-me com emoção de como ele nos contou suas experiências e, claro, nos deixou conselhos valiosos. Na foto que acompanha esta matéria, ela aparece como sempre: cercada de pilotos agrícolas.

Há poucos dias, aos 101 anos, Mirta nos deixou fisicamente, mas seu legado continuará voando em cada avião que cruza os campos, em cada piloto agrícola que decola e em cada mulher que, graças ao seu exemplo, ousa desafiar os limites impostos.

Mirta Vanni foi muito mais que uma pioneira. Ela foi uma visionária, uma mulher de coragem, inteligência e ação que deixou para sempre sua marca na história da aviação.

Como disse o autor e palestrante motivacional Jim Rohn: “Não diga que você passou pela vida sem descobri-la; você pode não ser capaz de fazer tudo o que deseja a respeito, mas certifique-se de descobrir o máximo que puder e agir de acordo.”

Mirta descobriu sua vida voando. E naquele voo ele nos ensinou a sonhar mais alto.

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