História
Ao começar sua carreira como um engenheiro aeronáutico com a Ansett Airlines australiana nos anos 1970, John McDermott não poderia imaginar que poucas décadas depois, a empresa que ele fundaria seria uma das principais empresas de combate ao fogo na Austrália, com a maior frota de Bell 214 no mundo.
A história da McDermott Aviation começou quando John começou a voar aviões por hobby durante seu aprendizado. Após terminar seu estágio na Ansett, tendo descoberto que ele amava a aviação mas não amava o trabalho em uma linha aérea, era hora de dar um tempo, então em 1977 ele e Linda, sua esposa, partiram para a Europa. Foram fazer turismo de mochila.
Em uma viagem de barco pelo rio Moselle, aos 21 anos, ele viu um Bell 47 pulverizando os parreirais de uma vinícola e decidiu que era nisso que ele queria trabalhar. Sabendo que helicópteros eram a opção mais cara, ele continuou a voar com sua licença de piloto de avião para obter experiência na aviação agrícola de asas fixas, antes de fazer a transição para helicópteros.
Ao voltar para casa, John soube de um Cessna 185 a venda e o comprou junto com seu instrutor de voo, sem sequer vê-lo antes. Quando foram ver o avião em Cairns, descobriram que ele precisava de muito trabalho, o que John completou, deixando-o em condições de voo e usando-o para obter sua licença de piloto comercial.
Seu primeiro emprego no negócio aeroagrícola foi com a Super Spray, uma empresa do estado australiano de Victoria, de propriedade de Roy Robertson, onde ele obteve seu certificado de piloto agrícola. McDermott então passou para o próximo, voando um Piper Pawnee e um Ag Wagon na Austrália Ocidental.
Ele voltou para Victoria em 1980, para mais uma safra naquele estado do sul, antes de passar a voar helicópteros, como o primeiro piloto comercial de helicóptero formado por Ron Newman na agora escola de grande porte Professional Helicopter Services (PHS), baseada em Moorabbin,Victoria, onde ele treinou no Schweizer 300, coincidentemente o mesmo modelo no qual ele pulverizou sua primeira área de helicóptero, antes de se mudar para Queensland.
Após converter seu certificado de piloto agrícola de asas fixas para helicópteros, John começou a trabalhar para uma empresa chamada Heli Work antes de sair por sua conta em 1984, criando a McDermott Aviation – trabalhando como terceirizado para a East Coast Helicopters, a qual o levaria a trabalhar várias safras na Escócia, além da Austrália.
Em 1988, John continuou sob contrato com a Chopperline durante a World Expo da Austrália, antes de arrendar um S300 na Escócia e voltar para a Austrália, usando-o como a primeira aeronave da McDermott Aviation.
Iniciando
Em 1991, a empresa começou suas primeiras atividades de combate ao fogo a partir de sua base em Cooroy, Queensland, em um Bell Jetranger usando um hopper com comporta de alijamento, o que ele admite era “bem pouco efetivo” na época, mas melhor do que nada.
A empresa então continuou a crescer pelos anos seguintes, fazendo um misto de operações aeroagrícolas aplicando fungicidas e herbicidas, controle de vetores e reflorestamento, além do combate ao fogo, o que a empresa faz até hoje.
Em 1996, a empresa começou a obter muito mais trabalhos pré-planejados, o que levou a necessidade de se obter aeronaves de maior porte para dar conta do trabalho, das quais as duas primeiras foram do modelo TH1-1F, a variante da força aérea do UH-1B “Huey”, obtidas da Base Davis Monthan da Força Aérea dos Estados Unidos, os quais começaram a chegar em 1998, complementados por mais cinco do mesmo modelo, além dos quatro Soloy-Bell 47T que a empresa já usava em operações agrícolas, na continuação de sua rápida expansão nos anos 1990.
Os novos TH-1F foram logo equipados com hoppers da Isolair e colocados para trabalhar, para atender à rápida e crescente demanda para pulverização contra plantas invasoras no norte do país, já que por seu porte, eles conseguiam tratar uma área duas vezes e meia maior do que um Bell 47T conseguia fazer no mesmo tempo.
Em 2000, as temporadas do fogo estavam escalando na Austrália de uma maneira não vista desde os anos 1980, especificamente em Nova Gales do Sul, o que fez que pela primeira vez, múltiplos recursos da McDermott fossem chamados a combater fogos simultaneamente. John logo despachou três dos Hueys da frota da empresa, um equipado com um tanque para retardante de fogo e dois com baldes externos, colocando centenas de horas em cada aeronave naquele ano, o que logo se repetiu em 2001.
Atingindo Objetivos
O aumento do trabalho de combate ao fogo estava começando a impactar a capacidade da empresa de atingir objetivos do seu trabalho de reflorestamento já existente, o que significou maior expansão para a McDermott. John viu a necessidade de algo na operação de combate ao fogo que fosse maior do que o Huey mas menor do que o gigante Erickson Air-Crane em termos de capacidade de carga de água e de transportar brigadistas – acabando por comprar em Omã cinco helicópteros Bell 214B, sem querer iniciando a aquisição de uma frota comercial de Bell 214B que é hoje a maior do mundo .
A aquisição dos 214B e a necessidade que eles fossem efetivos, levou John e seu amigo Michael Powell da Isolair a projetar e construir um tanque de retardante sob medida para o helicóptero, o qual está em uso até hoje (com mais de 370.000 lançamentos até agora), junto com o tanque Helitak usado em alguns helicópteros em acréscimo ao tanque Isolair. Além do tanque, McDermott também desenvolveu e certificou esquis elevados para o 214B, para dar a ele distância do solo suficiente para o sistema de tanque instalado sob a fuselagem.
O trabalho extra completado por John e sua equipe rapidamente deu frutos quando, em 2003, a McDermott Aviation recebeu cinco contratos para trabalhar em Victoria, Nova Gales do Sul e Austrália do Sul, nos primeiros contratos feitos pelo novo Centro Nacional de combate Aéreo ao Fogo (National Aerial Firefighting Center – NAFC), o qual foi criado para conceder contratos e posteriormente coordenar a distribuição e operação de recursos aéreos em torno da Austrália.
A criação da NAFC e, consequentemente, os contratos de combate ao fogo, permitiram às empresas ter a estabilidade de um sólido apoio financeiro com o qual podiam contar ao investir vários milhões de dólares em novas aeronaves antes de uma temporada de fogo. Em contraste, anteriormente, o governo federal da época não dava apoio aos contratos, o que deixava os empresários temerosos de investir dinheiro sem a garantia de um retorno.
Nunca aceitando ver uma aeronave parada, a rápida expansão da frota da McDermott foi notada, e chamados foram feitos para que seus helicópteros fossem apoiar a temporada do fogo de 2004 na Espanha, Canadá e Portugal.
Na temporada de 2015, porém, a NAFC concedeu mais contratos para empresas que faziam operações offshore, permitindo à McDermott uma maior expansão no estrangeiro, enviando uma aeronave para Nova Caledônia, em um contrato que perdurou por 15 anos. A empresa também efetuou trabalhos na Indonésia em 2015 e operações de combate ao fogo na Grécia em 2020.
Desafios
Como qualquer empresa em crescimento, especialmente uma que movimenta equipamento de grande porte em torno do mundo, a McDermott Aviation está acostumada com dificuldades em logística, a maior delas ultimamente sendo o custo dos fretes mundiais de aeronaves. “Costumávamos lamentar o custo de US$ 80.000 para enviar um Bell 214B em um 747 para o outro lado do mundo, mas os preços subiram recentemente ao ponto em que agora pode nos custar US$ 500.000 para enviar de navio uma aeronave de nossa base para uma localização no estrangeiro”, disse John.
Operações no Estrangeiro
Com pilotos australianos operando aeronaves em todo mundo, a COVID-19 representou um problema significativo com o pessoal, exigindo que as tripulações permanecessem no estrangeiro por toda uma temporada. Agora que os problemas com a COVID terminaram, as tripulações passam de 4 a 6 semanas de cada vez no local de operações. Porém, alguns escolhem ficar o tempo todo, e outros até aproveitam para levar suas famílias com eles durante toda a temporada de fogo na Grécia.
Frota
Além dos cinco Bell 47T e cinco Bell 206L3, dos oito AS355 que podem operar agrícola, aerofoto ou primeiro ataque no combate ao fogo, e oito AS365 para trabalhos em missões de busca e salvamento e combate à incêndio em vários pontos da Austrália, equipados com tanques de 1.000 litros, a McDermott Aviation agora tem quinze Bell 214B e quatorze Bell 214ST, compreendendo a maior frota de Bell 214 em uma única empresa. As forças armadas iranianas são o único outro operador do mundo que tem mais exemplares deste modelo. A McDermott Aviation também tem o maior estoque de peças do mundo para ambos modelos do 214 em sua sede de Cooroy, onde a maior parte da manutenção pesada é efetuada. A oficina na Costa Ensolarada da Austrália é responsável pela manutenção de toda a frota Airbus, tendo a empresa uma importante oficina de revisão em Jandakot, na Austrália Ocidental, para manutenção da frota baseada no oeste da Austrália. A empresa ainda tem uma capacidade de manutenção em campo bem estabelecida, para fornecer todo o suporte local quando suas aeronaves estão trabalhando no estrangeiro.
Pessoal
Embora a Austrália tenha exigências de número de horas diferentes para as diversas qualificações, John diz que seus pilotos são um grupo misto, com cerca de 90% de seus pilotos agrícolas tendo sido treinados na empresa para voar agrícola, após terem trabalhado comercialmente em outros tipos de aviação por uma ou duas mil horas antes de entrar para a empresa. “Você tem que ter paixão para querer voar agrícola. Voar agrícola não é para gente que quer fazer hora”, disse John
Segurança
Operações agrícolas e de combate ao fogo são tratadas de forma semelhante no que tange a segurança pela McDermott Aviation, e ambos os setores se esforçam da mesma forma para verificar cada área que voam quanto a obstáculos e qualquer coisa que possa criar resultados adversos. Podem ser brigadistas de solo em risco e obstáculos como linha de transmissão. Em contraste, na operação agrícola, os pilotos da empresa devem fazer passagens de reconhecimento, procurando não apenas por obstáculos como redes, mas também verificando a proximidade de outras lavouras, vida selvagem, e até mesmo áreas de preservação e espécies protegidas.
“A carga de trabalho na operação agrícola é excepcionalmente alta. Assim sendo, de novo, é algo que você tem que querer fazer. É por isso que querer voar combate ao fogo deve ser a mesma coisa. No combate aéreo ao fogo, voa-se menos horas por dia. No combate ao fogo você tem longas folgas e pode ter de operar em fogos diferentes, assim é um nível diferente de estresse e risco. Treinamos nossos pilotos de combate ao fogo da mesma maneira que treinamos nossos pilotos agrícolas. Nos certificamos de que você trata o fogo da mesma forma que uma lavoura. Assim você faz uma busca minuciosa na área, para encontrar tantos obstáculos quanto os possíveis. Gastamos o tempo que for necessário no ambiente de treinamento para reduzir os riscos”.
Treinamento
Ao contrário dos Estados Unidos, na Austrália os voos de cheque não são feitos por uma agência governamental tal como a USFS ou as agências estaduais; assim o grosso do treinamento na Austrália é feito dentro da própria empresa. Empresas como a McDermott Aviation levam essa responsabilidade muito a sério, fazendo cada novo piloto de combate incêndio passar por um completo currículo de treinamento em cada aeronave, usando tanto baldes suspensos como tanques no treinamento, de forma que os pilotos estejam familiarizados em todos os helicópteros. Isso culmina com um cheque anual feito pelo próprio John McDermott, para que ele avalie continuamente cada piloto quanto a sua habilidade e competência continuamente.
Manutenção
A manutenção pode ser uma operação complexa para uma empresa que opera em vários países ao longo do ano. Assim, para atender a isso, a McDermott Aviation emprega 50 mecânicos de célula, de aviônicos, técnicos, pintores e mecânicos aeronáuticos licenciados para manter a frota funcionando. Parte dessa equipe se desloca com os helicópteros quando eles são despachados para destinos no exterior durante o ano, embora a maioria fique baseada na sede da empresa em Cooroy.
“A equipe de manutenção é o nosso ponto fraco agora”, disse John, que acrescenta que a empresa ainda precisa de mais vinte mecânicos para ter a equipe que ele gostaria de ver. Este é um problema geral na aviação. Na McDermott, fazemos nossa parte para ajudar, treinando novos aprendizes e até mesmo iniciando uma academia para sua formação”.
“O problema que temos é encontrar mecânicos que tenham paixão pelo trabalho e pelo que fazemos, e que não tratem o trabalho apenas como um emprego. Estar em uma base de combate ao fogo pode ser difícil e tedioso às vezes, assim nós precisamos de pessoas que estejam comprometidas com o que fazemos”, disse John.
Outro problema que a empresa enfrenta é a dificuldade de obter mecânicos que tenham completado um aprendizado de quatro anos para se licenciar, ou de licenciar candidatos qualificados vindos do exterior, já que a agência de aviação civil australiana CASA continua a tornar a tarefa de se licenciar mecânicos mais e mais complexa e mais cara a cada ano, levando gente a desistir da atividade por outras e afastando novos talentos da área.
Expansão nos EUA
Para compensar alguns dos problemas de falta de mecânicos na Austrália e o custo de se movimentar os helicópteros pelo mundo, uma das coisas que a McDermott Aviation fez foi abrir uma base de manutenção em Andalusia, Alabama, recentemente. A oficina no Alabama irá empregar mecânicos para sediar e manter a frota da aviação de 214ST. É mais fácil de se encontrar mecânicos qualificados para trabalhar no 214ST no mercado americano, de acordo com John, que espera que a sede americana solucione vários problemas e reduza os custos de deslocamento dos helicópteros para locais no estrangeiro no futuro
A base no South Alabama Regional Airport já está em operação e ainda se procuram por mais mecânicos para contratar. Ela irá em um futuro próximo sediar a frota de 214ST da empresa.
O Futuro
Para uma empresa como a McDermott Aviation, liderada por John McDermott, que admite não ser alguém que se adapta fácil a uma vida de aposentado, há sempre algo mais no horizonte. John diz que ele ainda gosta dos desafios de novas tecnologias e de fazer coisas que nunca foram feitas antes, como seu trabalho com o tanque de retardante para o 214ST e agora, as operações de “scooping” em água salgada – nas quais o helicóptero paira sobre a água, baixa uma mangueira e usa uma bomba interna para encher seu tanque de retardante. Além disso, a nova oficina no Alabama irá manter a ele e a equipe da McDermott Aviation bastante ocupados pelo futuro próximo