Uma Má Notícia para o “Bicudo”
Por esta época, cientistas e entomologistas do Departamento de Agricultura dos EUA estavam investigando a possibilidade de controle químico de insetos daninhos ao algodão, especialmente o “bicudo”, o qual tinha recentemente invadido o Cinturão do Algodão, vindo do México. Os lavoureiros estavam sofrendo perdas de milhões de dólares, e o Departamento tinha criado o Delta Laboratory, em Tallulah, Louisiana, para pesquisas sobre o controle de insetos no algodão. Na época, ele era chefiado pelo Dr. Bert R. Coad, um soberbo e visionário entomologista. Ele era bem assistido por C.E. Woolman, um jovem entomologista. Tanto Coad como Woolman eram interessados por aviões, Woolman voando sempre que tinha oportunidade, tendo feito seu primeiro voo como passageiro em 1910.
Polvilhadores puxados a cavalo
Um sucesso limitado tinha sido obtido no controle do “bicudo” com pó de arseniato de chumbo aplicado via terrestre, bem como o mais novo e potente arseniato de cálcio. Porém, a lentidão da aplicação fazia do controle real uma impossibilidade. Polvilhadores acionados por força manual tinham sido desenvolvidos para ser carregados por homens pelos algodoais, e algum sucesso foi obtido com polvilhadores puxados por cavalos ou por mulas, mas estes também eram pouco práticos e até desumanos, dado que o tóxico pó de arseniato de cálcio literalmente tirava o couro das mulas após uso continuado. Nenhum polvilhador motorizado satisfatório tinha sido desenvolvido até então.
Coad ficou sabendo do sucesso em Ohio, no bosque de catalpas, e imediatamente tratou de ir a Washington defender sua ideia de fazer mais experiências com aviões nos algodoais da Louisiana. Ele compareceu perante vários comitês do Congresso, até que eles contingenciaram os fundos e obtiveram os serviços do Serviço Aéreo do Exército. Como resultado, no início de 1922, equipamento e pessoal do Serviço Aéreo foram levados para Tallulah, e o primeiro desenvolvimento sério da aviação agrícola começou.

No início, a frota consistia de dois Curtiss JN-6 Jennies como motores Hispano–Suiza (Hisso) e um De Havilland 4-B com motor Liberty 400. Os Jennies eram para aplicações e o D-H para observação e fotografia. Descobriu-se logo que os Jennies eram meio deficientes em potência, embora eles tenham feito centenas de aplicações experimentais – quase todas as de 1922 foram feitas com os Jennies. O Serviço Aéreo então liberou os De Havilland 4-B com o famoso motor Liberty de 400 HP, o qual fez um bom trabalho e facilmente carregava tudo o que se colocava a bordo.
Estes aviões eram pilotados por uma série de oficiais, entre eles os tenentes Charles Skow, G.L. McNiel, L.C. Simon, e John B. Patrick. Pessoal alistado apoiava e fazia a manutenção do equipamento. A maioria do pessoal civil empregado pelo laboratório também trabalhou neste projeto. Contribuições notáveis foram feitas por “Haw” Kirkpatrick, que contribuiu com o programa com conhecimento técnico, trabalho e fotografia de qualidade profissional.
O equipamento de polvilhamento foi projetado e construído no laboratório, baseado em conhecimento adquirido do trabalho anterior com equipamento terrestre. Os hoppers eram construídos de folhas de metal galvanizado e eram montados no assento traseiro da aeronave. Os primeiros modelos demandavam que um operador ficasse em pé no assento da aeronave, logo atrás do hopper (sendo seguros por um cinto de couro) e girassem uma manivela de alimentação, a qual fazia o pós ser descarregado por uma abertura embaixo da fuselagem.
Com o avião em voo, o vento relativo passando pelo tubo de descarga interferia na deposição do pó. Um funil foi instalado à frente da abertura e o ar que ele coletava dirigido para uma fenda na frente do tubo de descarga. Esta foi aparentemente a primeira tentativa de usar o princípio do venturi para espalhar pó por um difusor. Isto melhorou consideravelmente a distribuição do pó.
Um campo de pouso foi construído a três milhas de Tallulah, em Shirley Plantation, a qual era propriedade do espólio de Walter M. Scott, e foi batizado de “Scott Field” em sua honra. Prédios temporários foram construídos com telhados de lona. Todo o campo era cercado por grandes lavouras de algodão.
Começando no início de agosto de 1922, centenas de voos de aplicação foram feitos a partir deste campo, a maioria ocorrendo na Shirley e na Hermoine Plantations, em grandes áreas do Delta, relativamente livres de obstáculos e bem adequadas para produção de algodão. Plantações vizinhas, em ambos lados do Mississippi, também receberam voos de demonstração. Uma demonstração bem notável ocorreu na enorme Delta and Pine Land Plantation, em Scott, Mississippi, em 31 de agosto de 1922. O ten. L.C. Simon voou nesta demonstração para uma enorme assistência de fazendeiros, entomologistas e espectadores interessados. Este voo foi fundamental para influenciar a Delta and Pine Land Plantation a se tornar um dos primeiros usuários de aviação agrícola, em sua enorme área agrícola.
Para os espectadores, estes primeiros voos devem ter sido fascinantes. Alan L. Morse, um engenheiro aeronáutico destacado para este programa, escreveu: “Enquanto eu olhava, uma equipe de três homens se preparava para girar a hélice. Os números um e três ficaram de frente para o avião, enquanto que o número dois, no meio, ficou de costas. Aí cada homem pegou no pulso do outro e se prepararam. O número um então puxou a hélice, e quando 400 cavalos vieram à vida, os outros dois o puxaram para fora das pás em movimento. Aí, o De Havilland taxiou se balançando até o fim do campo, onde aproou o vento e decolou, subindo acima das árvores. Ele era uma má notícia para o bicudo!”
(Continua no próximo mês)…