Operações em pelo menos 11 Estados envolveram 118 aeronaves de 22 empresas, que somaram 10,7 mil horas de voo com mais de 16 mil manobras de ataque às chamas
A aviação agrícola brasileira lançou nada menos do que 40,1 milhões de litros de água contra focos de incêndios em 2024, em operações de combate aéreo às chamas em 11 Estados do País, entre junho e outubro. Os números fazem parte do levantamento feito pelo Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) sobre as operações de 22 empresas aeroagrícolas que combatem chamas nesta temporada. Para isso, foram considerados dados de um questionário distribuído pela entidade às suas associadas, bem como informações levantadas junto ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e órgãos ambientais e de Defesa Civil de Estados que contrataram as empresas para operações contra as chamas.
Segundo o balanço do Sindag, as operações aéreas contra chamas envolveram 118 aviões, que somaram 10,7 mil horas de voo na proteção de biomas e lavouras, em apoio a brigadistas em solo. Para isso, foram mais de 16,6 mil manobras de lançamento de água (pura ou com retardante de chamas), realizadas por 171 pilotos (que se revezaram na operação das aeronaves), contando ainda com 140 profissionais de suporte em solo, nas bases operacionais – atuando no abastecimento (de água e combustível) das aeronaves e outras tarefas.
Os números são muito superiores aos das operações de 2021, ano em que o Sindag teve seu último balanço de combate a incêndios. Na época, as operações em todo o País haviam somado 10,9 mil lançamentos de água, totalizando 19,5 milhões de litros em 4 mil horas em voos contra incêndios.
O próprio cenário das chamas registrado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Aeroespaciais (Inpe) também confirma essa crescente. Segundo o Programa Queimadas do órgão, 2021 teve o registro de 5.469 focos de incêndios em todo o País. Com 2024 já somando 8.674 focos (até 12 de dezembro). Isso enquanto os dois anos do meio (2022 e 2023) registraram, respectivamente, 1599 e 1666 focos de incêndios em todo o País. Para completar, o último mês de agosto registrou 3.612 focos no País e em setembro esse número chegou a 2.522 focos. Foram os maiores índices entre todos os meses registrados na série histórica do Inpe desde 1998.
O ano já havia tido sua intensidade sinalizada no levantamento preliminar realizado pelo Sindag no final de agosto, que havia apontado 15,8 milhões de litros de água lançados contra focos de incêndios no Pantanal (MT e MS), São Paulo e Goiás. Também em operações envolvendo aviões agrícolas envolvidos atuando para órgãos oficiais e produtores rurais. Daquele total, a maior parte das operações haviam sido contra incêndios no Pantanal (no MT e MS). Neste caso, no apoio aos mais de 200 brigadistas e bombeiros que fazem o combate em solo.
Na ocasião, o trabalho também já era intenso para as brigadas de incêndio montadas pelas empresas aeroagrícolas que todos os anos atendem produtores rurais em Goiás. Onde também os próprios agricultores e usinas já aprenderam que o uso da aviação ganha eficiência no apoio ao pessoal em solo quando o pedido de socorro é feito logo que um foco é detectado.
Outro destaque de 2024 é que pela primeira vez o Estado de Rondônia entrou nas estatísticas aeroagrícolas. Com o Estado apostando na contratação de uma empresa aeroagrícola para manter uma brigada aérea de combate a incêndios. Foram 47 dias de operações, com duas aeronaves somando cerca de 4 milhões de litros lançados contra as chamas no Estado. Com a empresa atuando em conjunto com os governos estadual (bombeiros) e federal (ICMBio) e mantendo o regime de plantão com duas aeronaves.
Operações coordenadas
Nas operações aéreas contra chamas, cerca de 90% do trabalho é feito em parceria com brigadistas em solo. Com o líder da equipe em terra solicitando apoio aéreo e coordenando com o piloto como é feito o lançamento. Em grandes incêndios, a função do avião normalmente é reduzir o fogo para que os brigadistas possam chegar aos focos em segurança. Isso porque é pessoal em terra que elimina totalmente as chamas e ainda faz o “trabalho cirúrgico” contra braseiros – que, se não extintos, podem reacender a linha de incêndio.
Aviões agrícolas operam sozinhos quando os focos estão em áreas de difícil acesso, como encostas ou terrenos acidentados. Quando há urgência de fazer um corredor de fuga para a fauna cercada pelas chamas ou quando não há equipe perto e é preciso segurar ou tentar eliminar a linha de fogo com mais lançamentos de água.
Esse modelo de operação com aviões e brigadistas é adotado internacionalmente. Há mais de três décadas é empregado em reservas naturais brasileiras e, mais tarde, passou a ser usado também em lavouras (junto com brigadistas de fazendas e usinas). Lembrando que a aviação agrícola opera em reservas federais em parceria com equipes do ICMBio desde a criação do órgão, em 2007.
Antes disso, já operava desde os anos 1990 com as equipes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e (nos Estados) com bombeiros. Para completar, desde os anos 1960 o combate a incêndios em campos e florestas está entre as prerrogativas do setor aeroagrícola. Em 2022 o País ganhou uma Lei Federal incluindo os aviões agrícolas nas políticas de governo para o combate aos incêndios florestais.