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A Importância de Termos uma Mentalidade Aeronáutica

Uma atividade de primeira necessidade! Assim poderíamos falar a respeito desta extraordinária ferramenta de apoio ao homem do campo.

Os aviões agrícolas são a tradução da mais perfeita harmonia entre assertividade agronômica e eficiência temporal. Isso mesmo, as aeronaves realizam a nobre missão de aplicar defensivos agrícolas, adubos, fertilizantes, protegem os campos e a natureza de incêndios, povoam lagos e rios com peixes, e ainda combatem vetores de doenças endêmicas de maneira muito rápida. Isso tudo parece repeteco, chavão, mas são as principais virtudes dos serviços aeroagrícolas.

No entanto, ainda temos no Brasil uma parcela importante da sociedade rural e urbana que pouco conhece esses valores da atividade. Isso mesmo: a maioria das Escolas de Agronomia não possuem cadeira específica que aborde a tecnologia aérea. Outras que possuem, o fazem como matéria optativa (nesse caso, não há fomento interno junto a clientela para cursarem).

Se o agrônomo não conhece, como vai recomendar? Difícil né…

Assistimos recentemente algumas Universidades e algumas Instituições (públicas e/ou privadas), que deram o start e estão procurando ofertar informações consistentes. Isso já é um pequeno avanço.

Mas, ao contrário da Indústria de Equipamentos Terrestres, a Indústria Aeronáutica não tem conseguido se fazer presente na mesma proporção dentro dessas Instituições. Talvez porque parte entenda que não vale a pena tanto esforço, ou simplesmente porque lhes faltam “pernas” para abraçar tantas Universidades pelo Brasil afora.

Num passado não tão distante, o governo federal tinha uma estrutura – o CENEA, Centro Nacional de Engenharia Agrícola, em Iperó da Serra (região de Sorocaba, SP), onde existia o CAVAG – Curso de Aviação Agrícola. Neste local se desenvolviam pesquisas de grande valor para toda a cadeia agrícola e aeroagrícolas; e formava-se Pilotos Agrícolas – Engenheiros Coordenadores e Técnicos Executores em Aviação Agrícola.

Infelizmente, numa “canetada” do então presidente Collor, este fantástico Centro foi fechado. Imaginem: talvez tenha sido o maior e mais moderno Centro de Pesquisas e Ensino com estas características na América Latina.

Mais adiante, no final dos anos 90 – início dos anos 2000, a UNICENTRO – Universidade Estadual do Centro Oeste, sediada em Guarapuava – PR, apresentou ao Ministério da Agricultura um Projeto que visava recriar o Centro, noutros moldes, na cidade paranaense. A proposta era espelhada na Universidade de Louisiana, e precisava que o MAPA aprovasse a cessão/doação de duas aeronaves da sua frota do CENEA, e de alguns equipamentos existentes lá, que se encontravam em desuso – porém eram modernos (até para os dias atuais).

A UNICENTRO chegou a criar o NATA-PR/UNICENTRO: Núcleo de Aviação e Tecnologia Agrícola do Paraná, vinculado à Reitoria, que teria a missão de gerir este novo espaço de pesquisas e ensino. A Instituição criou o Curso Superior de Mecânico de Aeronaves – MMA, que se tornou um sucesso ao longo do tempo em que existiu. Com a falta de apoio por parte do MAPA, a Universidade acabou perdendo o fôlego, o interesse, e colocou em stand-by o Núcleo.

Aulas magnas incríveis ocorreram no Campus CEDETEG, onde ficava a estrutura do NATA-PR. Cada visitante convidado que as ministrava, saia impressionado com o que havia sido criado ali. O DAC – Departamento de Aviação Civil (precursor da ANAC), à época adotou o laboratório da UNICENTRO como exemplo de organização e estruturação, para outras Universidades que desejassem ofertar cursos para a aviação civil.

Houve até a criação de um grande Convênio, que envolvia mais duas Universidades além da UNICENTRO, Unesp/Botucatu e Esalq/Piracicaba, que recebeu a denominação de CENTRO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM AVIAÇÃO AGRÍCOLA. Isso também jamais saiu do papel.

Pois bem, o MAPA chegou a revitalizar seus aviões do CENEA (Fazenda Ipanema), porém jamais os colocou para voar. Também não doou para a UNICENTRO, que aguardava ansiosamente por eles.

Apenas uma das aeronaves Ipanema restou em condição de voo, que hoje pertence à Universidade de Lavras. Chegou até lá pelas mãos do brilhante professor Wellington Carvalho, que antes foi servidor do CENEA. E um PA-18 acabou doado para os Bombeiros do DF.

Então, o que pensar de um país que renuncia a uma estrutura de ensino e pesquisas de valor inestimável como o CENEA/CAVAG; que não se compromete com uma Universidade que se dispôs levar adiante seu legado; que investe recursos públicos na recuperação das aeronaves, e as deixa perecer novamente por desuso? Que país é este afinal? O BRASIL, exatamente o celeiro do mundo!!! É por aqui que estas barbaridades aconteceram.

E mais recentemente, este mesmo país, no ano em que se comemoram os 150 anos de nascimento de Alberto Santos Dumont, deixa também que muitos Aeroclubes – nossas principais Escolas de Aviação Civil, nossa base de formação da mentalidade aeronáutica, sucumbam. Fiquem à mercê dos tempos …

Este relato procura nos mostrar o quão somos apáticos com a mentalidade aeronáutica do Brasil. O quanto a aviação (em todos os seus segmentos), vem sofrendo porque a sua gente, os seus atores, não fazem o mínimo para mostrar a atividade aérea como uma imprescindível ferramenta da sociedade.

Vivemos tempos de uma agricultura tecnificada, de um campo com altíssimas performances produtivas, de um mundo de informações ao toque da luz. E por algum motivo, quem sabe por falta de entendimento mesmo, ainda precisamos repetir e repetir os valores caros incomparáveis da aviação agrícola para o campo e para a sociedade.

Repensemos como agimos… como estamos operando a imagem do nosso negócio e das relações dele com a coisa pública e social. O campo precisa desta ferramenta!

Sejamos mais assertivos e visionários… mais perceptivos com o nosso mundo, com os que nos cercam… sejamos tão eficientes quanto são as aplicações aeroagrícolas.

Afinal, somos parte de uma das mais eficazes e apaixonante atividade que contribui para o incremento da produção agrícola com responsividade e respeito ao meio ambiente e às pessoas.

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