Quem chega na fazenda Mário Ferreira pode pensar que foi subitamente transportado para algum lugar de Iowa ou do Kansas. Situada entre colinas cobertas por plantações, com engenhos visíveis à distância e um acesso asfaltado até dentro das impecáveis instalações da fazenda, cercadas por gramados bem aparados, ela não parece uma típica fazenda brasileira. É só quando Mário Ferreira de Souza aciona a porta motorizada do hangar através do seu celular, revelando dois Ipanemas EMB-202 impecáveis dentro dele, que você se convence que continua no Brasil – mais exatamente em Boa Esperança, estado do Paraná.
Mário Ferreira de Souza veio de uma família de agricultores arrendatários de Primeiro de Maio, uma cidade do Paraná próxima à divisa com o estado de São Paulo. Mário trabalhou duro para ter sua própria terra, onde ele hoje planta soja, milho e trigo. Enquanto isso, ele estava desenvolvendo uma paixão pela aviação. Inicialmente, ele teve um ultraleve com um tio, mas logo passou para aviões “de verdade”, comprando um Piper PA-18 em 1992, mesmo antes de terminar seu curso de piloto privado no Aeroclube de Campo Mourão.
Mário diz que o que ele gosta mesmo de fazer é comprar e vender aviões, tendo negociado 16 aeronaves até hoje. Ele comprou o seu primeiro Ipanema, um EMB-201A em 1999, e em 2000 fundou uma empresa aeroagrícola chamada Aviação Agrícola Boa Esperança Ltda., tendo como sócio um sobrinho que é piloto agrícola. Mário cuidava da parte administrativa e o sobrinho voava.
Mário esperava que seu filho João Paulo Ferreira de Souza seguisse seus passos na aviação e se juntasse a ele na operação da empresa aeroagrícola, mas João Paulo tinha outros interesses. Ele queria cursar ciências da computação e foi para a faculdade. Isto causou um estremecimento na relação entre pai e filho, mas felizmente por pouco tempo; após seis meses, João Paulo mudou de ideia e foi para o Aeroclube de Londrina fazer seu curso de piloto privado, iniciado em 2010 e terminado em 2011. De volta às boas com o filho, Mário comprou um Cessna 140 para que João Paulo fizesse as horas requeridas para a licença de piloto comercial e para o CAVAG. Mário diz que esta é a forma mais barata de se fazer horas de voo, já que o avião mantém seu valor quando é vendido ao final. Com um avião à sua disposição, João Paulo completou suas horas muito rápido, e em 2012 ele fez seu CAVAG no Aeroclube de Ponta Grossa.
Em 2013, o sobrinho e sócio de Mário na Aviação Agrícola Boa Esperança Ltda. decidiu seguir seu próprio caminho, saindo da sociedade. Assim, Mário e João Paulo criaram uma nova empresa, a Ferreira & Souza Aeroagrícola Ltda. Ela fica baseada na Fazenda Mário Ferreira, operando em uma pista privada homologada de grama, de 700 metros (SNYY). Como todas as instalações e equipamentos da Fazenda Mário Ferreira, seus aviões, pátio de carregamento e hangar são mantidos impecavelmente limpos.
Até 2016, Mário tomava conta da fazenda e das tarefas administrativas da empresa aeroagrícola, enquanto João Paulo fazia as aplicações aéreas. Quando o trabalho apertava, um dos dois sobrinhos de Mário que são pilotos agrícolas vinha ajudar. Até que naquele ano Mário fez seu CAVAG no Aeroclube de Ibitinga, tornando-se um dos raros pilotos privados no Brasil com habilitação para voar agrícola. Não tendo licença de piloto comercial, Mário só pode pulverizar suas próprias lavouras, mas como ele disse com orgulho, só ele voa em suas lavouras.
Com o gosto de Mário por negociar aviões, a Ferreira & Souza já teve diversos aviões agrícolas diferentes, incluindo um antigo Ipanema EMB-201, um Piper Pawnee 260 e um Air Tractor AT-402A que a empresa operou por dois anos.
Porém, entre os anos de 2016 e 2017, muitos dos clientes da Ferreira e Souza em Boa Esperança compraram pulverizadores terrestres tipo Uniport, reduzindo a demanda por aplicações aéreas. Mário e João Paulo precisaram buscar outros clientes para manter o movimento da empresa, e foram achá-los em Naviraí, Mato Grosso do Sul, cerca de 250 km a noroeste de Boa Esperança. Mário e João Paulo construíram uma base com pista e hangar em uma fazenda que pertence ao seu maior cliente de lá. Como em Boa Esperança, a maioria dos demais clientes em Naviraí são produtores vizinhos, assim, além desta base, eles operam em apenas três pistas agrícolas.
Hoje, a Ferreira & Souza opera dois Ipanemas EMB-202 com equipamento agrícola Zanoni e unidades GPS e fluxômetros da Travicar. Eles usam atomizadores rotativos para pulverizar inseticidas e fungicidas a 12 e 12,5 litros por hectare – o meio litro “extra” sendo para facilitar cálculos quando pulverizam lavouras medidas em alqueires, unidade de área que ainda é muito usada na região. A Ferreira & Souza não aplica herbicidas. Cerca de 70% de seu trabalho é em Naviraí, com os restantes 30% na matriz em Boa Esperança. As culturas tratadas são basicamente soja e milho em proporções relativamente iguais, exceto por um pouco de trigo e de cana-de-açúcar.
Antes divididos pelos planos profissionais de João Paulo, hoje pai e filho trabalham fortemente unidos planejando o futuro da Ferreira & Souza Aeroagrícola. Juntou-se recentemente a eles Maurivan Oliveira, um técnico agrícola que deu muito duro para fazer suas licenças de privado e comercial no Aeroclube de Toledo, e depois fez três anos de poupança para pagar seu CAVAG, feito em 2015 no Aeroclube de Ponta Grossa. Após voar uma safra difícil no estado do Pará, Maurivan voou por seis anos para uma empresa no estado de São Paulo, chegando a pilotar um Air Tractor AT-402A. Maurivan irá operar principalmente em Naviraí, para ficar perto de sua família.
Com uma empresa bem organizada, com Mário voando em suas próprias lavouras e João Paulo e Maurivan voando para os demais clientes, não há dúvidas de que os planos de expansão da Ferreira & Souza Aeroagrícola serão bem sucedidos.