Parece que cada vez que sai uma nova previsão meteorológica, as coisas estão mudando para pior. recordes de temperatura, de chuva, de tornados, de inundações, de tempestades e de secas devastadoras – parece não haver nenhum alívio à vista.
Junto com isso vem novos termos meteorológicos que eu nunca tinha ouvido antes, como “domo de calor”, “rios atmosféricos”, “rios voadores”, etc
A aplicação aérea depende da meteorologia mais do que qualquer outro fator. Às vezes, a Mãe Natureza parece não estar prestando atenção ou está de mal quando chega a hora de ajudar os produtores a combater a mais nova praga atacando suas culturas.
Uma boa notícia: aplicadores aéreos sempre podem escolher voar quando as condições estiverem adequadas para a aplicação, e podem parar de voar quando as condições meteorológicas ultrapassam os limites, esperando até que as coisas melhorem. Embora seja complicado decidir parar quando há uma fila de produtores ansiosos esperando na base, contando em ser os próximos a ter suas lavouras pulverizadas antes que seja tarde, não force a mão contra os caprichos da natureza. Raramente isto paga dividendos, e geralmente irá lhe trazer problemas.
Para parafrasear aquela famosa fala de Hamlet, de Shakespeare: “ir ou não ir, eis a questão”. No passado, bastava olhar a biruta para avaliar se a aplicação seria segura e efetiva. Isso se houvesse uma biruta; quando comecei nesta atividade, décadas atrás, muitas aplicações eram feitas a partir de pistas sem a menor infraestrutura de informação meteorológica.
Hoje, os aplicadores aéreos têm várias novas ferramentas à disposição, incluindo estações meteorológicas portáteis sofisticadas e de custo acessível, as quais ajudam na tomada de decisão quanto à aplicação. Junto com a maior disponibilidade de acesso à internet, temos agora informação meteorológica atualizada e prontamente acessível sempre que necessário.
Para aqueles não familiarizados com a aplicação aérea, a noção pública é que é feita por pilotos arrojados, realizando um show aéreo gratuito e divertido. Nada poderia estar mais longe da realidade. Comparados com os pioneiros pilotos agrícolas de antigamente, os quais deram origem a uma nova atividade, os empresários e pilotos de hoje estão mais bem treinados, equipados e gerenciados do que nunca.
Porém, por mais bem preparado que você esteja, os céus estão cheios de desafios que podem se apresentar de repente e estragar um dia perfeito. Uma coisa é resolver um problema quando se está a milhares de pés acima do solo. Outra completamente diferente é quando você está voando a poucos metros acima da plantação. Aqui estão alguns lembretes para ajudar você a se prevenir.
É difícil lidar com algo que você não consegue ver diretamente, e o primeiro lugar na minha lista dos “presentes de grego” da Mãe Natureza é o fenômeno da tesoura de vento a baixa altura. Ela pode ser uma grande estraga-prazeres, assim como sua irmã maior, a turbulência em ar claro. Pergunte a qualquer piloto agrícola experiente se alguma vez eles tiveram problema com tesoura de vento e você terá mais uma história para o próximo bate-papo no hangar.
O problema com a tesoura de vento, também conhecida como gradiente de vento acentuado, ocorre quando um vento de proa passa rapidamente a ser um vento de cauda, causando uma dramática queda na velocidade aerodinâmica e no desempenho. Isso pode acontecer quando você está saindo de um “tiro”, subindo e entrando em um vento de cauda mais intenso. Se a mudança for muito forte, a sensação que se tem com essa queda rápida da velocidade aerodinâmica é a mesma de se ter uma pane de motor.
Não é muito problema se o terreno à frente for plano. Fica pior quando você tem uma rede, morro ou outro obstáculo qualquer para livrar. Dobre isso quando você está com uma carga completa.
Evitar isso é a chave. Mesmo que as rajadas de vento no solo sejam fracas, esteja alerta quanto a uma possível tesoura de vento acima. Melhor prevenir do que lamentar. Trovoadas, proximidade de frente, inversões de temperatura e matos ou prédios altos podem causar tesouras de vento localizadas.
Embora nos falem a respeito de tesoura de vento no nosso curso teórico de piloto comercial, só se compreende de verdade o fenômeno quando ele nos afeta. Minha primeira e mais memorável experiência foi em um Cessna 188, aplicando fungicida a cerca de 25 milhas da base. Havia um vento de frente fraco na decolagem, mas a caminho da lavoura, notei que ia ficando mais e mais turbulento à medida em que eu subia. De qualquer jeito, eu podia ver a lavoura ao longe e decidi entrar direto no primeiro “tiro”.
Tudo correu bem até que eu puxei no final do “tiro”. Felizmente, havia apenas uma linha de árvores baixas para livrar, enquanto eu tinha a péssima sensação do avião “amolecer” e afundar na puxada, com o ponteiro do velocímetro correndo para trás. Alinhar para o próximo tiro não iria acontecer até que eu conseguisse tirar o AgTruck daquela situação de pré-estol. Só após baixar um pouquinho o nariz para sair da tesoura de vento, depois de conseguir subir para uns 300 pés, é que eu consegui voltar a ter o avião na mão.
Também me lembro de que levou uns três quilômetros para eu conseguir fazer um 180 para alinhar com o próximo tiro, enquanto eu me sentia como se estivesse me equilibrando em cima de uma bola, tentando de alguma forma manter o avião nivelado enquanto qualquer movimento brusco poderia resultar num estol. Ou seja, usando movimentos suaves do manche para evitar um estol e um contato indesejado com a terra firme.
Não faltam eventos que podem resultar em um dia que você preferiria evitar: inversões térmicas, turbulência mecânica e térmica, voo em terreno ascendente. A lista é grande. Mas quando se considera a decisão de ir ou não ir, lembre-se que é melhor ser prudente ao enfrentar uma situação arriscada do que avançar de forma impensada.
É uma questão de matemática simples: um dos seus objetivos principais é ter um número igual de decolagens e pousos, para evitar de se tornar uma estatística indesejada e prevenível.