As “Keys” da Flórida, o arquipélago de ilhas tropicais ao sul daquele estado americano, são um destino de viagem dos sonhos de muita gente. Parte do trabalho de manter o paraíso de ilhas que se estende por mais de 150 km no topo da lista de destinos da Flórida é reduzir ao mínimo uma das mais irritantes incomodações de qualquer férias – os mosquitos. Esta responsabilidade recai no Distrito de Controle de Mosquitos das Florida Keys (Florida Keys Mosquito Control District – FKMCD), localizado no Condado de Monroe, e com hangar no Marathon Airport, em Marathon, Flórida.
História
A operação do Florida Keys Mosquito Control District começou de fato com vários DC-3 e aeronaves menores espalhando adulticida em torno do Condado de Monroe, o qual inclui centenas de pequenas ilhas, além das principais Ilhas habitadas que formam as Florida Keys. muitas das Keys tem pântanos, terreno fértil para a criação de mosquitos.
Ao longo dos anos o distrito evoluiu de aplicações exclusivamente de adulticidas para cerca de 80% de aplicações de larvicidas, com os restantes 20% das aplicações ainda sendo de adulticidas, diretamente sobre áreas onde larvicidas granulares não são efetivos.
“Aplicamos mais larvicidas agora, porque sabemos onde as larvas de mosquito estarão. Enquanto estão no estágio de larvas, elas estão em corpos de água, assim são muito mais fáceis de se controlar. Podemos tratar delas antes que se tornem adultos voadores. Como larvas, elas ainda não estão incomodando nenhum humano nem espalhando doenças. Às vezes um vento oeste sopra das Everglades (um enorme pântano próximo) e traz mosquitos adultos com ele; geralmente é aí que os 20% de adulticida são empregados, e os usamos especificamente para controlá-los quando necessário”, disse Chad Huff, da Comunicação Social do Florida Mosquito Control District.
A mudança da maioria das aplicações para larvicida foi essencialmente por razões ambientais para o FKMCD, já que o larvicida BTI usado é fatal apenas para mosquitos e uma espécie de borrachudo da região, porém letal para todas as 46 variedades de mosquitos encontradas na região das Florida Keys. O produto granular, após dispersado, se dissolve na água e é ingerido pelas larvas de mosquito, se cristalizando em seus tubos digestivos com consequências fatais.
Frota
Quando a frota de DC-3 da agência atingiu o final de sua vida útil, esta passou a realizar a aplicação de adulticidas com dois Britten-Norman BN-2 Islanders com motores turbo-hélice Rolls Royce 250 B17, equipados com um sistema Micronair de 40 galões (150 litros) sob cada asa, capazes de pulverizar a 130 nós e orientados por um GPS AG-NAV.
Embora os Islanders ainda estejam no distrito, o plano é substituí-los por uma frota 100% de asas rotativas para as futuras necessidades de aplicação. O distrito atualmente voa mais de 260 missões por ano, baseado em estatísticas de 2023, voando aproximadamente 1.300 horas por ano com toda a frota.
Após a adoção dos BN-2 Islanders, o FKMCD também passou a fazer aplicação por aeronaves de asas rotativas, com a introdução de dois helicópteros Bell JetRangers no final dos anos 1990, progredindo destes para dois Bell 206L4 LongRangers em 2002 e 2005, equipados com sistemas de pulverização Isolair ULV com um tanque ventral de 40 galões para pulverização de líquidos via barras, e dois tanques laterais para aplicação de larvicidas granulados.
Em 2020, o distrito recebeu o primeiro de três helicópteros Airbus H125 “Esquilo”, recebidos ao longo de vários anos, para agilizar as aplicações e operações de manutenção no FKMCD.
“Os Esquilos são aeronaves multimissão. Eles podem aplicar o granulado e manter a mesma capacidade e eficiência que os aviões tinham no ULV. A ideia é padronizar a frota para treinamento e manutenção. É muito mais fácil lidar com uma única aeronave do que com três tipos diferentes. Na manutenção, tínhamos de cuidar de três aeronaves diferentes com três estoques de peças. Era um pesadelo logístico. No futuro, todo mundo será eficiente com um modelo de aeronave, ao invés de três diferentes”, disse Paul Pignataro, Piloto Chefe do FKMCD.
“O H125 é uma aeronave fantástica. Ele dá de goleada nos LongRangers com a quantidade de produto que ele pode carregar. Há dias em que um piloto tem de ficar no helicóptero voando por seis ou oito horas, em nossas épocas de pico. Isso é brutal nos helicópteros mais antigos. No Esquilo, é muito menos cansativo, pois passando de um rotor de duas para três pás, se tem um helicóptero com muito menos vibração”, continuou ele.
Os H125 operados pelo FKMCD são equipados com um motor aprimorado de 900 HP, esta potência adicional resultando numa sobra de desempenho que permite realizar as aplicações voando entre 90 e 100 nós.
Novo Equipamento, Novas Capacidades
O FKMCD emprega múltiplos métodos de aplicação, tanto para produtos adulticidas como larvicidas, incluindo um tanque ventral de 40 galões (150 litros) feito pela Isolair para aplicação de adulticidas líquidos em ULV, um tanque paras larvicidas líquidos de 275 galões (1.040 litros) e um sistema externo para aplicação de larvicidas granulados capaz de carregar 540 kg de produto, dependendo das necessidades de aplicação. Isto equivale a uma cobertura de 60 hectares por carga, um ganho substancial em relação ao LongRanger, que tem capacidade para 360 kg, o suficiente para cobrir apenas 26 hectares.
Falando do upgrade de uma perspectiva de piloto, Pignataro declarou, “Tudo é eletrônico, a começar pelo sistema FADEC duplicado, o que significa que não precisamos nos preocupar com partidas quentes. O sistema hidráulico duplo é excelente. Nossos helicópteros Bell anteriores eram um modelo 2000 e um 2003; a tecnologia é quase redundante quando comparada com a tecnologia atualizada que as novas aeronaves nos oferecem para a organização”.
Pessoal
Embora o número total de funcionários colaboradores do distrito seja de mais de 75, o pessoal de voo consiste em três pilotos de tempo integral e três pilotos em tempo parcial, todos os quais recebem o mesmo treinamento, têm as mesmas certificações e devem atingir os mesmos critérios mínimos.
O distrito exige que pilotos tenham mil horas de voo em helicóptero para se candidatar ao FKMCD, mas Pignataro esclarece que além disso eles dão preferência para pilotos com 500 horas de experiência em turbina.
“Costumávamos exigir uma licença de asa fixa, mas desde que começamos a transição, não temos mais esta preocupação. Pode ser difícil contratar gente aqui por causa do alto custo de vida. No que tange a agências governamentais, temos a sorte de ter um excelente plano de saúde, com tudo pago, além da opção do sistema de aposentadoria da Flórida, o que se soma às vantagens de se trabalhar nas Keys”, disse Pignataro.
Uma vez contratados, todos os pilotos passam por um treinamento da fábrica da Airbus em sua base de Grand Prairie, Texas, além dos treinamentos anuais de atualização e um treinamento de pouso na água, conduzido juntamente com a equipe “Trauma Star” do Condado de Monroe.
A Ciência por Trás da Aplicação
Embora pareça antiquado quando comparado com os métodos de aplicação, o distrito decide quando uma aplicação é necessária por um processo rudimentar. Os mais de 35 inspetores em terra vistoriam dezenas de locais específicos, usados pelo distrito para obter informação a respeito da reprodução de mosquitos, visando desenvolver uma Proposta de Tratamento de Área (PTA) através do que é comumente chamado de “teste de pouso”. Neste teste, um inspetor conta o número de mosquitos que pousam em seu braço dentro de um dado tempo, para definir a necessidade de um PTA naquela área. PTAs de urgência são desenvolvidos via análise em computador de vários testes informados no sistema, para definir a urgência do tratamento.
Uma Área de Aplicação sem Igual
As Florida Keys são uma região diferenciada, no sentido de que os pilotos muitas vezes voam grandes distâncias para realizar suas aplicações aéreas, às vezes tendo de operar a mais de 150 km de sua base em Marathon. Isto significa que o distrito tem que enviar equipamento de apoio para que um helicóptero possa pousar em locais definidos pelo distrito e se manter operando nas áreas mais distantes das Keys.
Para isto a divisão de aviação do distrito emprega dezenas de técnicos em terra os quais, após um PTA ter sido definido, se deslocam antecipadamente para os locais de aplicação em um caminhão de apoio customizado, transportando larvicida e centenas de galões de combustível JET-A, permitindo às equipes permanecerem fazendo aplicações por vários dias sem ter de retornar para a base de Marathon, se necessário.
“Em um dia de movimento, podemos ter um caminhão lá no sul apoiando dois helicópteros aplicando produto, um caminhão no norte com um helicóptero e um caminhão aqui com outro helicóptero. Às vezes temos todos os quatro helicópteros operando no mesmo dia. Nossa época de movimento aqui vai de maio a outubro. Após outubro, o calor diminui e a época de chuva começa. Assim, devido à mudança de temperatura, os mosquitos não se reproduzem tão rápido quanto o habitual. Com a redução do trabalho, nos concentramos em reuniões internas, requerimentos de treinamento e tarefas de manutenção, até que o movimento comece de novo para nós”, disse Pignataro.
Olhando para o Futuro
A Diretora Executiva do Florida Keys Mosquito Control District, Andrea Leal, que trabalha no distrito desde o início dos anos 2000, declarou que embora as aeronaves de asa fixa tenham sido um passo significativo para levar o distrito à nova geração de tecnologia de aplicação, o distrito acredita que os helicópteros irão atender às necessidades de aplicação aérea nas Florida Keys no futuro.
“Nos últimos 10 anos, buscamos fazer aplicações de larvicida com precisão. Quando eu comecei, foi quando passamos a usar helicópteros. Uma vez que percebemos que isso tinha um efeito significativo e um impacto na população de mosquitos, decidimos que esta era a direção em que queríamos ir. Tivemos de escolher qual a máquina que poderíamos usar para cumprir todas as tarefas,, quer fosse aplicação de adulticida e larvicida líquido ou larvicida granulado; a aeronave teria que ter capacidade para fazer todas as três, e graças a essa capacidade das novas aeronaves, nós pudemos substituir completamente as aeronaves antigas que só podiam fazer uma dessas tarefas. Assim que fizemos uma análise de custo-benefício, procuramos o que serviria melhor no distrito e os Esquilos pareceram se encaixar para nós; nós compramos nosso primeiro Esquilo em 2020, e foi uma progressão relativamente rápida até o terceiro”, disse Leal.
“Nós gostaríamos de chegar até quatro aeronaves. Dessa forma não precisaremos mais nos preocupar com pilotos tendo de passar de um avião para um helicóptero. Assim, estamos pensando na eficiência em geral.
“Uma de nossas maiores preocupações são as doenças transmitidas por mosquitos; vemos a dengue. A chikungunya e a zika estavam no sul da Flórida. Assim, o que fazemos aqui tem um impacto significativo na saúde pública. Atuar imediatamente quando encontramos mosquitos é da maior importância.
“Ter essa frota aérea nos permite responder imediatamente. Temos de atuar assim que encontramos estes mosquitos, para evitar que algo aconteça aqui. E essa é a principal vantagem de ter a nossa frota. Com o avanço de nosso programa, com a venda de nossos aviões junto com um dos LongRangers, creio que seremos capazes de completar a substituição da nossa frota até 2025 ou 2026 o mais tardar, trazendo nossa frota de Esquilos para um total de quatro aeronaves”, ela continuou .
Enquanto algumas agências ainda patinam para definir qual aeronave atende melhor aos seus requerimentos, o Florida Keys Mosquito Control District se decidiu por uma frota de aeronaves modernas e métodos de aplicação inovadores, os quais beneficiam tanto os moradores como os visitantes da região, e parecem ter se estabelecido na direção certa para enfrentar o futuro no mundo da aplicação aérea.