Início Brasil Uma breve história do CAVAG do CENEA

Uma breve história do CAVAG do CENEA

A primeira visão que os futuros pilotos agrícolas tinham da Fazenda Ipanema: o pórtico de entrada.

Prestes a completar oito décadas do primeiro voo aeroagrícola no Brasil, ou quase seis décadas do primeiro CAVAG realizado na Fazenda Ipanema, sede do CENEA – Centro Nacional de Engenharia Agrícola, oportuno é recordar o início de tudo. Muitos dos que frequentaram aquele importante centro de formação de pilotos agrícolas da América do Sul, reativarão lembranças dos momentos de uma época nostálgica.

A aviação agrícola no Brasil teve início em 1947 de forma improvisada para atender a uma necessidade urgente e atípica de se combater nuvens de gafanhotos provenientes da Argentina e Uruguai, que devastavam lavouras sobre uma extensa região da qual fazia parte mais de 50 municípios do Rio Grande do Sul. O apavoramento dos agricultores gaúchos mostrou sua dimensão e ganhou visibilidade quando, em 8 de outubro de 1947, o jornal Correio do Povo publicou matéria sob o título: “Passo Fundo faz angustioso apelo ao Estado”.

A iniciativa de se combater por via aérea, a praga devastadora, surgiu em Pelotas (RS), quando o Eng. Agr. Antônio Leôncio de A. Fontelles, Chefe do Posto de Defesa Agrícola do Ministério da Agricultura, e o piloto Clóvis Candiota, do aeroclube daquela cidade, adaptaram um polvilhador a uma aeronave Muniz M-9. Foi em 19 de agosto de 1947, após uma série de testes com êxito, polvilharam com BHC as nuvens de gafanhotos. O sucesso da operação foi noticiado pela imprensa local. Em homenagem a este feito, com a publicação do Decreto nº 97.669/89, comemora-se em 19 de agosto o Dia Nacional da Aviação Agrícola, e considera-se o piloto civil Clóvis Gularte Candiota, como o Patrono da Aviação Agrícola Brasileira.

Após a experiência bem-sucedida da primeira pulverização aérea, outras iniciativas tiveram sucesso a partir daquele evento pioneiro. De acordo com o Eng. Agr. Eduardo C. de Araújo, no “rastro” da empolgação, mesmo antes da regulamentação do setor, surge a primeira empresa aérea de Aviação Agrícola no Brasil, denominada SANDA – Serviço Aéreo Nacional de Defesa Agrícola, cuja sociedade tinha como proprietários os pioneiros, o aviador Clóvis Candiota e o Eng. Agr. Leôncio de A. Fontelles. Não demorou muito para que o empreendimento atraísse a atenção de empresários em outros Estados. Assim surgiram novas empresas e os primeiros pilotos agrícolas tais como: Joaquim Eugênio (vulgo Joaquim da Broca), Ada Rogato, sendo a primeira mulher a pilotar um avião agrícola no Brasil, Orlando Bombini, e o icônico Deodoro Ribas, entre outros.

Com a criação da Junta Executiva de Combate à Broca do Café, em 1950, surge o primeiro organismo do Ministério da Agricultura voltado à atividade aeroagrícola. Dentro dessa iniciativa, o Instituto Brasileiro do Café (IBC) estruturou o setor com a importação de 30 aeronaves Piper PA-18 e 5 helicópteros Bell, todos adaptados para a pulverização aérea. Entretanto, em 1959, surge a Patrulha Aérea Fitossanitária composta por 5 aeronaves agrícolas Piper PA-25 “Pawnee”, um empreendimento criado pelo Ministério da Agricultura com atuação principalmente no controle da broca do café em São Paulo, e da cigarrinha da cana-de-açúcar nos Estados nordestinos.

Conforme Araújo, “durante os anos 50, até meados da década de 60, a atividade aeroagrícola no Brasil foi marcada pelo pioneirismo, improvisação, e heroísmo com um crescimento um tanto desordenado”. Ou seja, como tantos empreendimentos que tiveram suas origens de forma improvisada, a aviação agrícola surgia no Brasil sem um avião agrícola nacional, pois, dependia da importação de um modelo específico para o setor.

Foi a partir dos meados da década de 60, que o Ministério da Agricultura percebeu a necessidade em regulamentar com método a atividade. Para isso, foi criada a Assessoria de Aviação Agrícola, sendo encarregado de coordenar a atividade o Maj. Av. Marialdo Rodrigues Moreira, cedido ao Ministério da Agricultura pelo Ministério da Aeronáutica. Prestes a completar 60 anos, foi em julho de 1965 que teve início a regulamentação formal do setor aeroagrícola no Brasil. Naquele ano, sob o assessoramento do Maj. Av. Marialdo, com a participação do Tem. Brig. do Ar Nelson Freire Lavenère Wanderley, e o Professor Hugo de Almeida Leme, foi criado o CAVAG na Fazenda Ipanema, na época, localizada no município de Sorocaba, sob o Decreto nº 56.854, em 20 de julho de 1965, com o objetivo de capacitar pilotos civis às operações aeroagrícolas (Araújo).

O primeiro curso formador de pilotos agrícolas no Brasil foi realizado nos finais de 1967, quando os primeiros participantes receberam suas habilitações emitidas pelo DAC. Os três primeiros cursos foram realizados na Fazenda Ipanema. O 4º CAVAG foi realizado na cidade de Pelotas (RS), de setembro a dezembro de 1970, com a formação de 26 Pilotos Agrícolas procedentes de diversos Estados. No entanto, desconhece-se a razão, no ano seguinte, o CAVAG mudou de endereço, quando em 1971 e 1972 passou a ser realizado na cidade de Luziânia (GO). Em 1973, retornou à Fazenda Ipanema, onde permaneceu até seu encerramento em 1991. (Fonte: CERETTA, Teomar B. Ideias em Destaque Nº 58 – INCAER 1/2022).

Através de cópias dos registros cedidos pela Engª. Agrª. Mônica Sarmento, que trabalhou no CENEA/MA, de 1983 até 1991, o Ministério da Agricultura formou um total de 1.083 pilotos agrícolas divididos em 84 turmas. Com a Reforma Administrativa do Governo Federal, em 1990, o CENEA foi extinto. Entretanto, no primeiro semestre de 1991, ainda pôde o Ministério da Agricultura realizar o último CAVAG, naquele estabelecimento. A partir de então, a formação dos pilotos agrícolas foi transferida para a iniciativa privada.

Para finalizar. No dia 8 de março celebramos o Dia Internacional da Mulher e, por essa razão, não podemos esquecer das mulheres piloto agrícolas pioneiras do Brasil. Se coube a Ada Rogato o pioneirismo da primeira mulher a voar agrícola no Brasil, ela fez isso na informalidade. A primeira aviadora a frequentar um CAVAG, foi Terezinha Santos Mota quando, em 1973, cursou o VII CAVAG 3ª Turma. Célia Maria Monteiro tornou-se a piloto agrícola pioneira de helicóptero no Brasil. Célia frequentou o XXXI CAVAG – PCH em 1987.  Em 2009, Rochele Teixeira tornou-se a Instrutora de voo pioneira em um CAVAG. Em 2018, a piloto agrícola Laura Lima se tornou a mulher pioneira a pilotar um turbo Air Tractor no Brasil. E em 2021, Joelize Friederichs foi a primeira aviadora capacitada para combater incêndio com uma aeronave Air Tractor, no Brasil.

O hangar antigo, com oficina e outras instalações. Após a construção do segundo hangar, neste aqui ficavam guardados os Piper PA-18 usados na fase de duplo comando do curso.
Dois dos Piper PA-18 Super Cubs usados na fase de duplo comando. Estes dois aviões hoje estão no Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal.
Ao fundo, o hangar mais novo, onde passaram a ser guardados os Ipanemas usados na fase de voo solo do curso.
Um dos Ipanema EMB-201A usados na fase de voo solo do curso. Segundo consulta ao Registro Aeronáutico Brasileiro, seu CVA ainda estava válido em 2005.
A sala de aulas teóricas do CAVAG do CENEA. Todas as fotos tiradas por Ernesto Franzen, no ano de 2000.
Teomar Benito Ceretta, piloto agrícola aposentado depois de 33 safras, fez o CAVAG no CENEA. Escritor, autor de um livro sobre a história da Aéropostale, também escreve para revistas de aviação no Chile e no Brasil. No Chile é Membro Correspondente no Brasil do Instituto de Investigaciones Histórico Aeronáuticas de Chile (IIHACH) colaborador voluntário nas revistas Aero Magazine e Ideias em Destaque – INCAER, Membro Correspondente da Academia Centro Serra de Letras de Sobradinho (RS), Membro da Academia Santos Dumont Argentina, Membro da Academia de História Aeronáutica de Uruguay, colaborador na revista AgAir Update.. Num trabalho independente, está construindo um opúsculo para contemplar todas as turmas que cursaram seus CAVAG durante os 24 anos de existência do CENEA. Ceretta considera importante que todos aqueles que puderem, enviem seus contatos para que, assim ele possa enviar um pdf a cada um que deseja cooperar com a pesquisa. Seus contatos: (48) 99140 -1958, e-mail: cerettateo@hotmail.com
Exit mobile version