Desde o início de 2022 o SINDAG criou o IAVAG, que é o Índice de Inflação do setor Aeroagrícola do Brasil. Nele, diversos índices são utilizados para sua formação como o dólar e a inflação americana, que possui o peso de 40%, por apresentar influência significativa nos custos das empresas, o INPC, com o peso de 20%, por ser utilizado na negociação coletiva com os sindicatos de funcionários das empresas e por ser utilizado com base para o aumento salarial. E o combustível, que representa 20% do IAVAG, gerado pelo petróleo e neste caso o Heating Oil e o Ethanol. (Acesse o IAVAG pelo portal do SINDAG).
É importante considerar ainda que a inflação é um termo da economia utilizado para designar o aumento geral dos preços na sociedade e que deve ser contemplado no aumento dos preços das empresas aeroagrícolas. No ano de 2022, por exemplo, o acumulado da inflação no setor aeroagrícola ficou em 13,08%, podendo variar para mais, conforme cada negócio. Antes de continuarmos, saliento que o posicionamento deste artigo é técnico e visa ampliar os cuidados nas empresas quanto a sua gestão.
Política monetária
A política monetária de um país é determinante para a estabilidade econômica e assim o bom andamento dos negócios, por isso, abordaremos a seguir sobre a situação atual e como o índice do setor aeroagrícola (IAVAG) pode ser impactado pelo que já foi apresentado pelo governo.
O tipo de política macroeconômica que o Bacen (Banco Central do Brasil) vem aplicando desde que a inflação subiu significativamente, é a contracionista. Esta ferramenta macroeconômica expande os juros do País para retirada de moeda em circulação com o intuito de segurar o aumento de preços (inflação). A taxa base de juros do País, a Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia), aponta um indicador em 13,75% atualmente (fevereiro/2023), mantida pela 5ª vez e permanece estável desde sua última alteração de acordo com os resultados mensais do IPCA (índice Nacional de Preços ao Consumidor), sendo 5,77% no acumulado até janeiro de 2023. Essa medida é necessária para combater a inflação.
Conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA de janeiro de 2023 acusou uma alta de 0,53%, sendo que no mês anterior já tinha apresentado uma alta de 0,62%. Isso é preocupante. Cabe salientar que em março de 2021, a inflação subiu em virtude dos combustíveis e com isso os transportes apresentaram uma elevação de preços e como medida emergencial, o governo federal sancionou uma lei com mudanças em regras do ICMS sobre combustíveis, fixando no teto de 17% para os Estados. Para contribuir ainda, o governo zerou PIS e Cofins nos combustíveis. Quando ocorrem essas movimentações a intervenção do governo é fundamental.
Política Fiscal
O conceito de política fiscal é basicamente o uso que o governo faz dos seus gastos e receitas (Taxas) para influenciar o crescimento econômico. Caso o governo atual adote uma Política expansionista, com intuito de estímulo à demanda agregada na geração de empregos, renda, produtividade, as chances do déficit público aumentariam, pois o Estado gastaria capital em quantidades maiores do que arrecadaria. Em contrapartida uma Política contracionista elevaria a arrecadação de impostos, tributos e contribuições e geraria superávit nas receitas públicas.
As propostas de política fiscal apresentadas (fevereiro, 2023) pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, segundo o Banco Central, poderá atenuar os estímulos sobre a demanda e reduzir o risco de alta sobre a inflação, obviamente com o interesse de reduzir a taxa de juros. Por um lado, o Banco Central espera que o governo equilibre suas contas e contribua para o controle da inflação e por outro lado o governo espera do Banco Central a baixa da taxa de juros para o crescimento econômico. O problema está quando o governo adota uma política macroeconômica expansionista, que é o caso, estimulando o crescimento econômico em um momento que a inflação apresenta alta. Neste caso o Banco Central equilibra com a taxa de juros elevada deixando o governo descontente, não tendo harmonia entre a política fiscal e monetária.
Recentemente o Presidente Lula anunciou que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) financiará parte da obra do Gasoduto argentino com dinheiro público, contratando empresas brasileiras, o que torna uma questão um tanto quanto preocupante, já que a arrecadação de impostos deveria ser para reinvestir no Brasil como retorno pelos tributos. Esse tipo de atitude pode trazer instabilidade econômica pelas possíveis inadimplências dos países vizinhos aos fornecedores, que ao mesmo tempo poderiam chegar às contas públicas.
Conforme vão ocorrendo os posicionamentos do governo e do Banco Central, o IAVAG é afetado diretamente, pois quanto mais tempo o IPCA apresenta alta, mais aumenta a inflação do setor, no caso o IAVAG.
Reforma Tributária
Basicamente a reforma tributária consiste na reestruturação da distribuição de impostos indiretos e diretos. O foco proposto pelos diversos ministros da Fazenda que já passaram pelo governo tem o objetivo de tornar esta tributação mais igualitária entre os agentes econômicos, reduzindo também altas cargas destes tributos. Tanto a agricultura quanto a indústria entendem que estas propostas são positivas, pois facilitarão na hora de aquisição de insumos para a produção, reduzindo a burocracia. Esse é um ponto positivo para as empresas devido ao fato de que os principais geradores de empregos e produtividade na economia, aumentariam o fluxo produtivo, a demanda agregada e faria o fluxo interno de bens e serviços girarem mais, aquecendo a economia.
A preocupação maior se deu quando Bernard Appy, secretário extraordinário do Ministério da Fazenda para a reforma tributária, citou que o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) – Imposto único – sobre o consumo poderia ser de 25%. Neste caso seriam extintos o ICMS (estadual), PIS/Cofins e IPI (federais) e ISS municipal. Quando citado, ficou evidente que o imposto seria um dos maiores do mundo. Em países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a taxa média é de 19%, na União Europeia é de 21% e no Japão 10%. A intenção dessa reforma é de simplificar a cobrança de impostos, destravar e impulsionar o desenvolvimento econômico, mas com 25% poderia causar um enfraquecimento da produção.
Algumas indagações surgem ao considerar tantas variáveis para com a inflação do setor aeroagrícola quanto ao governo atual como: o ministério da fazenda conseguirá identificar as anomalias econômicas durante a trajetória de 4 anos? O governo terá velocidade para conter a inflação, como foi o caso de março de 2022?
Como essas medidas impactariam o índice de Inflação do Setor Aeroagrícola?
Como se sabe, no momento o Brasil vem passando por altos juros e a inflação na casa dos dois dígitos e como meio de combate, no governo passado as medidas adotadas vinham mostrando resultados positivos no combate a esses fatores, ao mesmo tempo em que obtiveram ganho no Produto Interno Bruto (PIB) 3,0%, redução do desemprego 8,7%, gerando deflação. A balança comercial apresentou superávit (positivo), gerando um saldo comercial de US$ 62,3 bilhões, influenciando positivamente conforme os últimos indicadores do IAVAG, na redução do índice inflacionário aeroagrícola, em 0,66%.
O propósito para os próximos 4 anos na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, são de estimular o crescimento econômico (Política macroeconômica Expansionista), mesmo com inflação e juros altos, o que seria um desafio e tanto, pois se o governo injetar mais dinheiro no país, a inflação pode aumentar ainda mais, trazendo o risco de recessão, o que seria uma grande tragédia para o Brasil. A volta de impostos (PIS/COFINS) previstos para março de 2023 sobre os combustíveis, o furo do teto de gastos e o possível aumento de impostos para conter, os financiamentos externos de obras, o conflito entre governo e o Banco Central (BC) colocando em discussão a autonomia do BC, o acesso ao crédito restrito pelos juros elevados e com perspectivas de crescimento da inflação, requer um “jogo de cintura” na hora de tomar qualquer decisão na empresa, pois, os efeitos das decisões governamentais de políticas monetárias e fiscais, trazem impactos direto a inflação do setor aeroagrícola. Por este e diversos outros fatores o ano de 2023 pode apresentar um acumulado de 14% a 15% no índice de inflação do setor aeroagrícola, salvo mudanças na política monetária e movimentos internacionais como guerras e pandemias.
Cabe salientar ainda, que mesmo em meio as dificuldades o agro nacional cresce, sendo um setor com uma das maiores arrecadações de impostos do Brasil. Neste ano a agricultura brasileira já ultrapassou os 300 milhões de grãos e o PIB do agro pode ficar próximo de U$$ 500 bilhões, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Soja, milho, laranja, trigo, algodão, cana-de-açúcar, arroz, banana, eucalipto, café, seringueira assim como na semeadura de pastagens a aplicação aérea sendo por aviões, helicópteros ou drones, é uma tecnologia fundamental e deve ter um crescimento em sua frota de 4% a 5%, tendo uma alta dos últimos anos que foi de 3% a 4%.
Mesmo assim, para que o negócio aeroagrícola seja fortalecido é importante reduzir o grau de dependência de poucos clientes, manutenir os custos diariamente e revisar a estratégia mensalmente dos negócios, para que a gestão não seja pega de surpresa. Para aquele que tem interesse de aprofundar sobre o assunto, convidamos para visitar o site do SINDAG.ORG.BR no menu aeroagrícola> IAVAG e o site do IBRAVAG.ORG.BR para conhecer iniciativas de qualificação do setor. O SINDAG publica semanalmente um boletim econômico sobre o setor e o IBRAVAG possui o maior projeto de qualificação das empresas aeroagrícolas do país.