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As Mesmas Asas, Novas Penas

As Mesmas Asas, Novas Penas.

Por Juliana Ap. Turchetti 

 

2022 foi o ano no qual eu decidi dar um tempo da aviação agrícola. Minha natureza curiosa me levou a descobrir novos horizontes e eu me vi com o desejo de abrir meu próprio negócio: uma cafeteria com temática de aviação. Importar e torrar café, além de servir expressos enquanto compartilho com os clientes minhas aventuras ao redor do mundo, é divertido, mas consome boa parte do meu tempo. Mas ainda assim eu mantive minha conexão com a aviação.

 

É impressionante perceber como as coisas que aprendemos na atividade aérea se aplicam em vários aspectos de uma empresa. Ao criar checklists a manuais de padronização de procedimentos para o meu negócio de café eu pude perceber claramente como a carreira na aviação me ajudou a desenvolver senso de independência, autoconfiança, autonomia e autodisciplina; qualidades estas extremamente necessárias para se sobreviver no mundo dos negócios.

Por ser uma pessoa que gosta de colocar a mão na massa, eu adoro vestir meu avental de couro e operar minha sofisticada máquina de café italiana. E é com o mesmo entusiasmo que limpo o chão e lavo as louças durante a jornada de trabalho. Como a mão de obra nos EUA é cara, eu faço o máximo que posso; como por exemplo lavar e pintar um estacionamento de 70 vagas, sob o sol escaldante do verão.

Acredito que meus anos voando Ipanema (sem ar condicionado) nas lavouras de cana de açúcar me ajudaram a desenvolver uma certa resiliência.

 

Não foi surpresa alguma quando, entre um café e outro, eu me vi com saudade de voar. E essa nostalgia veio bem antes do que eu imaginava. Felizmente não demorou muito e eu recebi uma proposta para transladar duas aeronaves agrícolas, inicialmente dentro dos Estados Unidos e depois entregá-las na República Dominicana e Brasil, respectivamente.

Em boa hora!

Eu havia acabado de rechecar meu mono em uma aeronave modelo Luscomb e havia também recentemente voado de Citabria com um colega, além de ter também tido a oportunidade de voar o histórico Tri Motor Ford, durante um evento organizado pela Associação de Aeronaves Experimentais, a EAA e patrocinado pela minha cafeteira a Aviatori Coffee House.

 

Durante minhas férias na Itália, em setembro de 2022 tive a oportunidade de voar o Ultraleve Arrow, decolando de uma pista de grama próxima a Roma e voando na proa sul, passando pela Calábria e Sicília. Com todas essas experiências eu estava não só habilitada, mas proficiente. E ansiosa por ganhar os ares voando solo de novo.

 

As duas aeronaves que transladei inicialmente estavam ambas sem voar por alguns anos. Durante a corrida de decolagem e também durante o voo mantive meu nível de alerta bem alto. Felizmente tudo correu bem.  A sensação de estar trabalhando novamente como piloto e voando solo foi incrível.  A República Dominicana era até então um novo destino pra mim e isso sempre adiciona uma dose extra de aventura. Depois desses voos, fiz também algumas entregas de aeronaves no Brasil.

Recentemente recebi a proposta de voar a safra do milho durante os meses de julho e agosto de 2023, para uma empresa na qual eu trabalhei anteriormente. Aceitei prontamente e mal posso esperar para estar de novo voando baixo sobre as lavouras.

 

Para nós que gostamos de voar, mas por algum motivo ficamos um tempo fora de atividade, é primordial nos mantermos aptos a retornar; assim quando as oportunidades surgem estaremos não só com as carteiras em dia, mas também suficientemente confiantes para operar as aeronaves. Creio que uma boa maneira de nos mantermos afiados, seja através do engajamento em diferentes atividades aeronáuticas como a aquisição de novas habilitações, voos periódicos com pilotos mais experientes, treinamento em áreas com necessidade de fonia, tráfego aéreo mais intenso do que estamos acostumados, etc…

 

Eu recentemente fiz meu voo de cheque para hidroaviões e fiquei maravilhada em ver como essa perspectiva operacional de taxiar, decolar e pousar na água me trouxe uma gama de conhecimentos e habilidades até então por mim inexploradas.

 

E eu creio que a vida é isso: aprender a pausar quando nos sentimos cansados, mas sem desistir.

Devemos viver ao invés de meramente existir. Nos expomos e enfrentamos as tempestades quando elas se apresentam e desfrutamos da brisa e da calmaria quando essas também nos agraciarem. Nossas conquistas nos farão sentir como reis e rainhas. Os erros e derrotas nos darão lições de humildade. Eu tenho vivido ambos aspectos e sou grata por tudo.

Nesse mesmo dia em que escrevo esse artigo, eu completei meus treinamentos de pouso emergência e evacuação de aeronaves na água. Treinamentos estes essenciais a qualquer piloto que opera sobre água, sejam durante longos traslados, em combate a incêndios ou operações em plataformas fluviais e marítimas. Aprender a respirar com um cilindro de ar comprimido, estando de cabeça para baixo na água enquanto coordenando ações como abrir a janela da aeronave, desafivelar o cinto de segurança e nadar para a superfície podem fazer com que segundos pareçam uma eternidade.

 

Durante esses processos de treinamento e novos voos eu me dei conta de que há uma infinidade de coisas novas a serem aprendidas e uma vez quebrada a inércia nos tornamos mais confortáveis em sairmos da zona de conforto e nos expormos a novas experiências. A cada conquista, nossos horizontes se expandem. Aprender torna-se o hábito saudável da busca não só de conhecimento, mas também de novas virtudes.

 

Interessante como o céu nos oferece inúmeras lições. Por mais que viajemos para terras distantes e percamos de vista as referências familiares, o céu permanece, está sempre lá; com sua constância e mistérios. De lá de cima nos sentimos no topo do mundo como parte de algo gigante e paradoxalmente, entendemos como somos pequenos e limitados.

Para os que aguardam o início da safra, espero que vocês estejam descansando, mas mantendo suas asas em boa forma.

Para o pessoal do hemisfério sul, faço votos de que todos estejam tendo uma safra produtiva, mas sem esquecer da importância de comer bem, dormir bem e fazer uma higiene mental de vez em quando.

 

Lembrem-se: nessa viagem chamada “vida” viemos todos com um bilhete de embarque em branco.  E para nós que escolhemos voar, a jornada conta tanto quanto o destino final. Aproveite a viagem!

PS :   Photos at GD

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