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Aprendendo a Voar o Gigante

Minha experiência na AeroGlobo: três dias vivendo a excelência.

Acabo de aterrissar em Guarulhos e, com meu “portuñol” a tiracolo, me dirijo à cidade de Botucatu, no interior de São Paulo. A viagem de ônibus, que dura quase quatro horas, serve para duas coisas: imaginar o que me espera e aumentar a ansiedade por conhecer a AeroGlobo.

Esta história começou dois meses antes, quando contatei Fernando Zanotto, o engenheiro de software da AeroGlobo. Sua gentileza e disposição para sanar minhas dúvidas foram fundamentais. Após me informar sobre custos, conteúdo do curso e sua duração, agendei minha capacitação para obter a certificação no Air Tractor AT-802, o gigante da aviação agrícola.

AeroGlobo: a Realidade Supera as Expectativas

O Air Tractor AT-802 é o maior avião agrícola do mundo. Um gigante, uma maravilha tecnológica que para pilotá-lo exige experiência e treinamento adequado. Com peso máximo de 7.257 kg, voar o AT-802 exige um certificado de habilitação técnica (CHT) de tipo, o qual no Brasil, nos termos do RBAC 61, exige treinamento específico e um cheque prático na aeronave. Me impus este desafio pessoal como forma de crescimento profissional, de aprender a voar este gigante e foi assim que acabei por contatar a AeroGlobo, a qual é, segundo muitos, um dos melhores lugares para fazer este treinamento.

Eu sabia do Centro de Treinamento da AeroGlobo graças a artigos e recomendações de colegas que já haviam feito cursos lá. Duas palavras o definem: integral e excelente.

Para quem deseja compreender o conceito de “integral” em toda sua magnitude, a AeroGlobo é o local ideal. Aqui se pode adquirir um Air Tractor, realizar o treinamento de seus pilotos e mecânicos e receber assessoria quanto a todas aspectos da operação de seu novo avião, incluindo os equipamentos de aplicação mais adequados.

A outra palavra, “excelência”, não é menos importante. Há empresas que se orgulham em buscar a excelência, mas na AeroGlobo vive-se a excelência em todos os aspectos de sua operação. 

O instrutor Luiz Gustavo aponta detalhes da turbina PT6A aos alunos da AeroGlobo.

Programa de Treinamento

Ao se chegar no Centro de Treinamento, a primeira ênfase é dada à importância de compreender o propósito de nossa presença lá. O programa de treinamento tem uma duração de três dias e está projetado para proporcionar uma formação integral. O objetivo final é aprender a operar o avião.

O currículo do curso aborda uma fase teórica centrada na operação do avião, com uma ênfase especial na operação segura do motor turbo hélice. Ainda durante esta fase, se incluem temas cruciais como a teoria da aplicação aérea. Além disso, se abordam aspectos fundamentais da segurança operacional, teoria de custos de operação e a preparação para o treinamento no simulador de voo, que são os pilares desta formação teórica. 

Ao final da fase teórica, se realiza uma avaliação do aluno através de um software, o que garante a transparência e a precisão do processo. Isto assegura que todo aluno tenha adquirido os conhecimentos necessários para avançar para a etapa seguinte: o simulador de voo .

E aqui chegamos na parte mais emocionante: o simulador de voo. Embora seja uma experiência fascinante, também é desafiante. As missões no simulador requerem um conhecimento rigoroso dos componentes da cabine e começam com voos de adaptação. À medida em que avançamos, se introduzem situações de emergência de diversas complexidades, o que permite aos alunos desenvolver habilidades críticas para a operação real do avião. 

A estação de trabalho do instrutor de simulador, onde podem ser alterados parâmetros de operação e provocadas panes para serem resolvidas pelo aluno.

Os Detalhes Fazem a Diferença

Desde o momento em que o aluno sai de casa, ele já tem claro onde se alojará e qual será a agenda para a semana seguinte, dia a dia. Este nível de organização não é fruto de casualidade. Fernando Zanotto é o encarregado de assegurar que todos os alunos tenham tudo o que necessitam. Durante o curso, há elementos importantes, como a entrega de um kit que inclui todo o material necessário, áreas de descanso e relaxamento e testes realizados através de um software moderno, que oferece resultados instantâneos. As instalações são pensadas para o conforto e a eficácia das aulas teóricas, o que contribui para tornar a experiência de aprendizado simples e eficaz. 

Por fim, os brindes no final do curso, juntamente com o diploma obtido, sublinham a importância dos detalhes e demonstram que o seu cuidado realmente faz a diferença.

Martín da Costa Porto, prestes a encarar mais uma sessão de treinamento no simulador do Air Tractor AT-802.

Profissionais, Super Qualificados

Segundo Jean-François Lyotard, “A educação é a arte de tornar visíveis as coisas invisíveis.”  

Como descrever em palavras o que acontece dentro de uma turbina PT6? Como explicar que os comandos da empenagem do avião ficam sem atuação cada vez que se aciona o reverso? Para abordar estas complexidades, é fundamental contar com uma sólida formação teórica, ter vivido as situações que são ensinadas e, o que é mais importante, transmitir tudo isso com clareza, contundência e profissionalismo. 

A eng. agr. Bianca Rezende explica como ajustar o sistema spray de um Air Tractor.

Na AeroGlobo, a equipe de profissionais encarna estas qualidades, e em particular, o instrutor Luiz Gustavo se destaca como um verdadeiro profissional. Com uma trajetória impressionante como aviador e uma transição bem sucedida para instrução, Luiz Gustavo não apenas compartilha seu vasto conhecimento mas também o faz com uma paixão contagiante, que inspira seus alunos. Seu profissionalismo, empatia e paciência (no meu caso, pelo meu “portuñol”) o distinguem como um instrutor excepcional.

O rigor técnico com que transmite conhecimentos, alinhado com um plano de estudos eficaz, é complementado pelas suas valiosas experiências pessoais acumuladas ao longo de milhares de horas de voo. Isto não só enriquece o aprendizado, mas também nos ajuda a atingir seus objetivos com confiança e segurança.

Luiz Gustavo dá ênfase à segurança operacional, garantindo que cada aluno opere a aeronave dentro dos limites estabelecidos pelo fabricante, ao mesmo tempo em que desmente mitos que podem levar nós, pilotos, a adotar hábitos de voo inseguros.  Sua abordagem torna a experiência teórica não apenas informativa, mas também agradável e envolvente.

Além disso, a sua empatia, rigor e bom humor transformam as sessões de simulador em momentos de diversão e aprendizagem significativa. A convivência por três dias cria uma atmosfera de camaradagem e amizade, onde os alunos não apenas aprendem com um especialista, mas também criam laços que duram além da sala de aula.

À frente: Clarindo Batista Cogo Pinto (esq.) e Lucio Landarin (dir.). Na segunda fila, Vilson Anselmo Jr. (esq.) e Martín da Costa Porto (dir.).

O Simulador

A transpiração e a incômoda sensação de ver fogo no motor são mais intensas do que se poderia imaginar. As emergências inesperadas que o instrutor apresenta, juntamente com sua capacidade de observar como você manipula os controles, fazem você perder a noção de que está em um simulador. Em questão de cinco minutos, você se sente completamente imerso na experiência, como se estivesse pilotando um avião real.

A diferença entre um simulador de voo agrícola e outro de aviação geral ou executiva está na rapidez com que ocorrem as emergências e no pouco tempo disponível para resolvê-las. Não há tempo para ler checklists de emergência.

A primeira sessão no simulador é uma experiência avassaladora e didática, com um turbilhão de sensações. O simulador possui uma tela imersiva, o cockpit é 100% realista e depois de alguns minutos você esquece que está em um simulador.

Entre as maiores vantagens do simulador estão a possibilidade de recriar situações perigosas demais para praticar na vida real, e solucioná-las sem as consequências de uma eventual falha. Você pode ler muito sobre panes e situações de emergência, mas nada se compara a vivenciar estas experiências.

Missão cumprida! O instrutor Luiz Gustavo entrega a Martín seu Certificado de Treinamento. 

Conclusão

Botucatu é uma cidade que vive no ritmo da aviação. A presença imponente da Embraer, jóia da indústria aeronáutica brasileira, é apenas um exemplo das raízes profundas da aviação neste recanto de São Paulo. A gentileza de seu povo faz você se sentir em casa.  Mas a paixão por voar respira-se em cada canto, e manifesta-se nos encontros diários mais inesperados.

Um dia, encerrado o treinamento, junto com meus colegas de curso e o instrutor, decidimos relaxar em um restaurante local. Enquanto esperávamos o nosso pedido, o garçom, com um sorriso maroto, aproximou-se da nossa mesa e, com uma piscadela, pronunciou a frase que se tornaria a nossa melhor lembrança: – “Vela e bomba, vela e bomba!!!”. A confusão deu lugar ao riso quando nosso instrutor, Luiz Gustavo, nos explicou que era uma piada recorrente aos pilotos que frequentavam o restaurante. Uma pequena frase que ouvimos desde o primeiro dia do nosso curso, que resume a importância de manter ligada a ignição e garantir o suprimento de combustível para a turbina nas situações mais críticas, e que o nosso Instrutor ensinou aos empregados do restaurante.

Quando empreendemos algo em nossas vidas, principalmente quando vamos fazer um curso, sempre temos expectativas. Devo admitir que esta experiência superou as minhas melhores expectativas. O explícito é traduzido em competências adquiridas, mas o implícito só é revelado no final do curso. Entre os diferenciais do curso da AeroGlobo é que não há aqui promessas de valor; o valor da realização pessoal e profissional é percebido ao se concluir este curso abrangente e de qualidade.

Devo agradecer a meus colegas de curso (minha turma), Clarindo Batista Cogo Pinto que voa em Itaqui e Maçambará, no RS, Vilson Anselmo Jr. de Sorriso, MT e Lucio Landarin de São Borja, RS, por me ajudar com o português e pelos bons momentos vividos – “show de bola, colegas”. Mas em especial, agradeço a AgAir Update, e ao presidente da AeroGlobo, Luiz Fabiano Zaccarelli Cunha, por terem me ajudado a atingir este objetivo pessoal e profissional.

Para resumir essa experiência na AeroGlobo, é importante destacar a grande diferença entre um avião agrícola a pistão e os atuais aviões agrícolas a turbina. Enquanto que os aviões agrícolas a pistão podem ser operados com os conhecimentos técnicos adquiridos na operação dos aviões de treinamento dos aeroclubes, os aviões a turbina possuem características operacionais muito diferentes, principalmente em seus motores. Nestes, um pequeno erro pode causar danos consideráveis ​​já na partida do motor. Isso, somado às diferenças de peso e velocidade, as quais exigem uma técnica de voo mais apurada, torna altamente recomendada a participação em um curso de transição como os oferecidos pela AeroGlobo para quem está prestes a assumir o comando de um destes aviões, e não apenas dos AT-802. É um investimento pequeno porém valioso, especialmente quando se considera os custos associados à aquisição e operação das aeronaves à turbina.

Sou um dos 750 alunos que passaram pela AeroGlobo. Talvez eu seja apenas mais um número. O que não acredito, porque depois de avaliar minha experiência, sinto que para a AeroGlobo cada aluno é especial.

O kit de material didático fornecido aos alunos da AeroGlobo. Com um uruguaio e dois gaúchos na turma, o mate não poderia faltar!
Martin da Costa Porto é piloto agrícola e instrutor de voo agrícola no Uruguai. Ele tem mais de 25 anos e mais de 12.000 horas de experiência em voo agrícola, com 3.000 horas como instrutor de voo. Atualmente possui sua empresa, GreenAviation.uy no Uruguai. Gostaria de saber a sua opinião sobre as minhas contribuições: [email protected]


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