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Águas Claras Aviação Agrícola

Nós aqui em AgAir Update visitamos empresas aeroagrícolas de todos os tipos: fundadas recentemente, antigas e tradicionais, familiares na segunda geração, vendidas por seus fundadores, etc. Mas uma empresa comprada de volta pelo seu fundador, anos após ter sido vendida, nós ainda estávamos por ver! Foi exatamente isso o que aconteceu com a Águas Claras Aviação Agrícola, uma empresa aeroagrícola localizada na cidade de Santa Juliana, no chamado Triângulo Mineiro, a região mais a oeste do estado de Minas Gerais, famosa por seus solos férteis.

Adonis Mazutti Correa nasceu em Espumoso, no Rio Grande do Sul, em uma família que costumava arrendar terras para plantar, e que em 1968 se mudou para o estado do Paraná. Eles se estabeleceram em Itacorá, um distrito do município de São Miguel do Iguaçu. Porém, em 1979 toda aquela região foi expropriada para ser inundada como parte do reservatório da represa de Itaipu, e a família de Adonis teve de se mudar novamente, desta vez para Santa Juliana, em Minas Gerais, passando a estar entre os primeiros produtores a plantar soja naquela região. Adonis sempre quis ser um piloto agrícola, mas o trabalho na plantação da família tomava a maior parte do seu tempo. Por isso, foi apenas em 1987, aos 23 anos, que Adonis conseguiu obter sua licença de piloto privado e só em 1994 que ele se formou na primeira turma do CAVAG do Aeroclube de Itápolis, em um curso supervisionado pelo saudoso Yasuzo Ozeki, um dos agrônomos pioneiros da aviação agrícola brasileira.

Mas mesmo antes de se formar no CAVAG, no ano de 1993, Adonis fundou a Águas Claras Aviação Agrícola em sociedade com seu primo Bernardo Mazutti, operando com pilotos contratados, entre eles o veterano piloto agrícola Pedro José Tomasin, pai de Daniel Martins Tomasin. Daniel veio a ser colega de Adonis no CAVAG, e os dois criaram uma forte amizade. Adonis batizou a empresa de Águas Claras em homenagem a uma pequena fazenda de propriedade de seu pai, a qual tinha algumas fontes de águas muito límpidas. Eles começaram a Águas Claras com dois Piper Pawnees, baseados no mesmo local onde ela se localiza até hoje, um aeródromo privado (SJQL) na zona rural de Santa Juliana. Após se formarem no CAVAG, Adonis e Daniel passaram a voar os aviões da empresa.

Naquela época, a maior parte dos produtores da região plantava soja e milho em lavouras de tamanho médio. A Águas Claras cresceu gradativamente e em 1999 eles trocaram um dos Pawnees por um Air Tractor AT-402A com turbina PT6A-11AG através da Tradelink, na época a única representante da Air Tractor no Brasil. Adonis diz que aquele foi o quarto AT-402 importado para o Brasil. Foi um investimento arrojado, dado que naquela época muitos empresários não acreditavam na viabilidade econômica de aviões a turbina no Brasil.

Dois anos depois, Adonis se juntou a um grupo de empresas operadoras de aviões da turbina que foram reunidas e tiveram seus pilotos treinados por Astor Schlindwein, da Americasul Aeroagrícola, em uma iniciativa pioneira para trabalhar em contratos de combate a incêndios para o ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Entre outras operações de combate a incêndio, Adonis participou de uma no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães. Apesar do sucesso destas operações, com a mudança de governo federal ocorrida em 2003, estes contratos foram cancelados, o que essencialmente acabou com a iniciativa.

Em parte devido a isso, em 2004 Adonis perdeu seu interesse na aviação agrícola e vendeu a Águas Claras Aviação Agrícola para um empresário de outro estado, mudando-se para Canarana, Mato Grosso, para plantar soja. Mas em 2008, Adonis já tinha se arrependido desta decisão e retornado para Santa Juliana, onde descobriu que o novo proprietário da Águas Claras estava colocando a empresa à venda. Enquanto isso, seu colega e amigo Daniel Tomasin tinha iniciado sua própria empresa aeroagrícola – a Tom Aviação Agrícola – em Itápolis, no estado de São Paulo, juntamente com seu pai Pedro José. Adonis se associou a eles na Tom Aviação Agrícola, e pouco depois, Adonis e Daniel compraram de volta a Águas Claras, sem nenhum avião, apenas a sede e o nome.

Adonis e Daniel começaram a trabalhar duro para retomar a Águas Claras. Iniciando com um avião próprio e outro arrendado, eles foram pioneiros em aplicações aéreas na batata na região. Como resultado de seus esforços, a Águas Claras pode comprar um Cessna Ag Husky com motor à pistão turbocomprimido, uma vantagem em uma região que tem lavouras em torno de 3.000 pés acima do nível do mar.

Adonis e Daniel acreditam em priorizar seus investimentos no equipamento que gera receita –  os aviões, seu equipamento agrícola e veículos de apoio. Assim, quando as usinas de cana-de-açúcar começaram a investir na região e substituir as plantações de soja e milho no Triângulo Mineiro, para atendê-las, eles não hesitaram: compraram dois Ipanemas EMB-202A novos, um em 2009 e o outro em 2010. E em 2012, Adonis comprou o primeiro Air Tractor AT-502 da Águas Claras na Aeroglobo, a representante brasileira da Lane Aviation. Embora tenha feito um curso na fábrica da Air Tractor quando comprou o AT-402A, Adonis sofreu um acidente nesse AT-502 em 2013, com perda total. Felizmente, Adonis saiu ileso e o seguro cobriu o prejuízo, assim naquele mesmo ano ele comprou outro AT-502, além de um terceiro Ipanema 202 novo.

A região do Triângulo Mineiro geralmente tem clima quente e seco, assim as aplicações aéreas usualmente começam às 06:00 horas da manhã e param às 11:00 horas, reiniciando após as 16:00, quando a temperatura baixa. Isto faz da alta produtividade dos aviões a turbina de grande porte um fator decisivo sobre os aviões a pistão menores; por isso, a Águas Claras gradualmente substituiu sua frota de aeronaves a pistão pelos dois Air Tractor AT-502B e o AT-502XP que ela opera hoje.

Além disso, Adonis e Daniel mantêm sua sociedade com Pedro José na Tom Aviação Agrícola, a qual opera outros três Air Tractors AT-502 e dois Ipanemas EMB-202 em Itápolis, São Paulo.

Comprado em 2022, o AT-502XP é o “escritório” de Adonis e foi escolhido devido à potência extra de seu motor P&W PT6A-140AG, muito útil nas altitudes densidades em que a Águas Claras opera. Ele foi o primeiro AT-502XP a ser entregue nas cores nacionais do Brasil, com listras azuis e verdes ao invés das usuais listras azuis. Na época, a Air Tractor só oferecia seus aviões com listras azuis, então a Aeroglobo transladou o avião dos EUA pintado apenas em amarelo e fez as listras em uma oficina no Brasil, após sua chegada.

Hoje, 90% das aplicações da Águas Claras Aviação Agrícola são na cana-de-açúcar, realizadas a 20 ou 30 litros por hectare. As demais 10% incluem eucalipto, milho, batata e soja. Todos os três Air Tractors tem equipamentos agrícolas em aço inox, devido à natureza corrosiva de vários dos defensivos usados na cana. As usinas de cana-de-açúcar exigem que todos os aviões que operam para eles passem por um teste de calibração anual. Os AT-502B mais antigos tem GPS Satloc Bantam, enquanto que o AT-502XP mais novo tem um GPS Insero AgPilotX. A safra da Águas Claras geralmente vai de outubro a maio, sendo que os meses de junho e julho tem baixo movimento devido à pouca chuva. No ano passado, uma das usinas de cana efetuou aplicações no ano inteiro, mas segundo o coordenador da empresa Cleyton Francis, isso foi uma exceção.

A experiência de Adonis com combate aéreo a incêndios no início dos anos 2000 valeu a pena, já que hoje a Águas Claras fornece serviços de combate aéreo a incêndios para empresas de reflorestamento e usinas de cana-de-açúcar durante os meses de seca, agosto e setembro.  Para estas operações, os AT-502 da Águas Claras usam uma comporta de lançamento desenvolvida para eles pela Zanoni, dado que Adonis queria uma comporta que pudesse ser usada também com equipamento de pulverização, evitando as demoradas trocas exigidas por comportas de combate incêndio longitudinais.

Todos os clientes da Águas Claras estão dentro de um raio de 100 quilômetros de sua base. Isto permite que o pessoal retorne para a base todos os dias, evitando gastos de pernoite e permitindo o uso de picapes médias para apoiar os Air Tractors. Estas são mais adequadas para as estradas de chão batido da região e ainda permitem carregar, junto com seu equipamento de pré mistura, 1.000 litros de Jet A-1. Isto é o suficiente para cinco horas de voo pelos AT-502, os quais já decolam da base com combustível suficiente para três horas de voo em seus tanques.

Adonis Mazutti Correa fundou a Águas Claras Aviação Agrícola com dois Piper Pawnees, a vendeu como uma empresa estabelecida e a comprou de volta sem aeronaves. Aí, juntamente com seu amigo Daniel Martins Tomasin, eles a reergueram para a situação atual, operando três Air Tractors AT-502. Isto prova que sua filosofia de reinvestir no equipamento operacional é acertada.

 

 

O Air Tractor AT-502XP da Águas Claras foi o primeiro a ser pintado nas cores nacionais brasileiras.

 

 

Um dos Air Tractors AT-502B da Águas Claras pousa em sua base para a pausa de aplicações do meio do dia.

 

 

A Águas Claras Aviação Agrícola ainda opera em sua base original de 1993, com um hangar dimensionado para a antiga frota de Piper Pawnees. Adonis gostaria de expandi-la, mas a fertilidade das terras do Triângulo Mineiro as torna muito valorizadas e difíceis de se adquirir ou arrendar.

 

Devido ao hangar de dimensões reduzidas, os Air Tractors AT-502 pernoitam ao relento.

 

Um dos Air Tractors AT-502B da Águas Claras sendo reabastecido em sua base antes de retomar as aplicações na tarde.

 

Estas picapes médias conseguem carregar o combustível e o equipamento necessário para oito horas de operação pelos Air Tractors AT-502 e aguentam as estradas de chão batido nas quais precisam transitar.

 

O time da Águas Claras (E-D): Cleyton Francis (coordenador), os pilotos Daniel Severo e Rangel de Castro, Adonis Mazutti e Daniel Tomasin.
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