Durante o ano de 2022, três aeroagrícolas uruguaias iniciaram um projeto para prestação de serviço de combate aéreo a incêndio no país. Com apoio de tecnologias brasileiras, algumas das empresas mais tradicionais no setor de aplicação aérea do Uruguai (Charles Chalkling, Bueno Servicios Aereos e 20 Léguas) estão abrindo espaço para uma nova atividade. Após diversos meses em contato com a Zanoni Equipamentos, o piloto Marcelo Oliver adquiriu a primeira comporta hidráulica no país junto com seu amigo Juan Chalkling, que também possui uma oficina aeronáutica. Além de instalarem o equipamento em seu próprio avião, o centro de manutenção também equipou um Air Tractor de Pablo Bueno.
O desenvolvimento do mercado de combate aéreo a incêndios no Uruguai se deu através da demanda do setor agrícola, de forma bastante semelhante ao que acontece no Brasil: “o interesse por incêndios surgiu a partir da necessidade de apagar incêndios no campo, para os nossos clientes agricultores nos anos de muita estiagem”, conta o Bueno. A partir desses trabalhos iniciais, a Associação Nacional de Empresas Privadas Aeroagrícolas passou a ajudar na popularização do serviço: “A divulgação da atividade foi impulsionada principalmente pela ANEPA como uma solução para um problema social. Posteriormente, iniciativas semelhantes foram realizadas junto com empresas florestais para que tenham um serviço de guarda e proteção”.
O fortalecimento dessa atividade voa lado a lado com a sua profissionalização e, assim como vem ocorrendo em nosso país, o setor aeroagrícola de nossos vizinhos vem se dando conta da importância da qualificação para garantir um crescimento sólido do mercado de combate aéreo a incêndio. Bueno conta a trajetória da empresa para dar início à prestação desse tipo de serviço: “realizamos investimentos na capacitação e obtenção de habilitações no combate aéreo a incêndio para nossos pilotos e para nossa empresa de uma forma geral, além da aquisição de novos reservatórios de água e da aquisição de uma comporta Zanoni”.
A parceria entre a desenvolvedora brasileira de tecnologias e as aeroagrícolas uruguaias contribuiu não apenas para o país vizinho, mas também ajudou a gerar inovações que agora contribuem para o mercado brasileiro. Devido a algumas demandas específicas do Uruguai, a Zanoni Equipamentos aperfeiçoou os equipamentos necessários para preparar as aeronaves agrícolas para o combate a incêndio. Após um longo período de conversas com a empresa 20 Léguas, foi criado um mecanismo para dar maior precisão e versatilidade à comporta hidráulica. Marcelo Oliver nos contou de onde surgiu essa necessidade: “Aqui no Uruguai, a temporada de incêndios muitas vezes coincide com a temporada agrícola, exigindo que a aeronave tenha que atuar tanto no combate quanto na aplicação de produtos na lavoura. Como a gente faz trabalho de dispersão de sólidos (especialmente semeadura), precisávamos de um ajuste mais preciso na abertura do equipamento. Essa melhoria que eles realizaram para o trabalho agrícola também acabou por ajudar no trabalho de incêndios, permitindo escolher entre um lançamento para ataque direto (salvo dump) ou para aceiro (mais longo e menos concentrado)”.
Assim como no Brasil e de maneira oposta aos países do hemisfério norte, o mercado uruguaio de combate aéreo a incêndio tem se desenvolvido alheio às ações governamentais. Empresas e entidades (sejam elas florestais, sucroalcooleiras ou associações de produtores de grãos) têm se organizado para proteger suas propriedades sem depender do Estado. Esse novo serviço é acordado por dias de plantão e horas voadas, havendo um mínimo de dias e um mínimo de horas por ano. Na maioria desses casos, a aeronave está sempre pronta, seja para aplicar produtos ou combater incêndios. Com realidades muito semelhantes entre os países vizinhos, o setor aeroagrícola do Mercosul cada vez mais contribui para a promoção da sustentabilidade e para a defesa do meio ambiente.