São Paulo, Brasil – No dia 30 de janeiro, a Synerjet Agro assinou contrato com a Pyka Inc. (pronuncia-se “Páica”) para se tornar representante da aeronave agrícola autônoma Pelican 2 no Brasil e na América do Sul, em evento que contou com a presença de diversos representantes da mídia da aviação brasileira, incluindo AgAir Update.
Primeira aeronave não tripulada de grande porte a ser aprovada para operações comerciais pela FAA e para aplicações aéreas pela ANAC, o Pelican 2 é construído pela Pyka Inc. em Alameda, Califórnia. A empresa começou como uma típica startup – na garagem de seu cofundador Michael Norcia, em 2017, com o objetivo de tornar a aviação mais segura, limpa e econômica através da automação e eletrificação.
O Pelican é na verdade o terceiro modelo de aeronave agrícola da Pyka, sendo o Pelican 2 sua segunda geração. O Pelican começou a ser testado em janeiro de 2020, tendo entrado em produção em outubro de 2020, e em abril de 2021 já pulverizava bananas na Costa Rica. Ele também foi testado em Honduras, Equador e Guatemala, e já conquistou dois importantes clientes de lançamento, um nos EUA – a Heinen Brothers Agra Services, uma das maiores empresas aeroagrícolas dos Estados Unidos – e outro no Brasil com a SLC Agrícola, uma das maiores empresas agrícolas do mundo. Agora o Pelican 2 está pronto para ser vendido a produtores agrícolas e operadores aeroagrícolas comerciais.


O Pelican é uma aeronave agrícola autônoma, como o cofundador e CEO da Pyka Michael Norcia prefere chamá-lo, considerando a palavra “drone” por demais associada aos quadcópteros e hexacópteros de menor porte. A diferença mais visível entre a segunda e a primeira geração é o fato de que o Pelican 2 tem quatro motores de 25 Kw montados em dois conjuntos push-pull nas asas, para uma potência total de 100 Kw, enquanto os Pelican de primeira geração tinham apenas três motores, dois nas asas e um no estabilizador vertical. Há vários outros aprimoramentos da primeira para a segunda geração, incluindo um aumento na carga útil. O Pelican de primeira geração não é mais fabricado, mas as unidades existentes continuarão sendo utilizadas até o final de sua vida útil.



Apesar de ter aproximadamente o mesmo tamanho de um Piper Pawnee, o Pelican 2 tem cerca da metade do seu peso, com um peso máximo de decolagem de 599 kg, dado sua construção em peças de compósitos de fibra de carbono, componentes metálicos resistentes à corrosão e conjuntos impressos em 3D. Com uma carga útil de 300 kg, e tendo um peso vazio de 316 kg (234 kg sem suas baterias), ele carrega quase que seu próprio peso em defensivos.
O Pelican 2 voa como um avião convencional, usando flaps para decolar e pousar em uma pista de tamanho recomendado de 250 x 8 metros, a qual pode ser pavimentada, de cascalho, terra ou grama. Com uma velocidade de estol (com flaps) de 35 nós, ele pulveriza a velocidades entre 60 a 70 nós, com uma largura de faixa de 18 metros. Seu conjunto de baterias de íon de lítio de 100V e 6 KWh proporciona uma autonomia de 35 minutos, com 10 minutos de reserva. A Pyka afirma que o Pelican voa em média de duas a três cargas sem troca de baterias, a qual pode ser feita nos mesmos 5 minutos que leva para carregar seu tanque de defensivos. O Pelican 2 vem com cinco conjuntos de baterias, o que permite sua operação 24 horas por dia, 7 dias por semana, já que leva cerca de duas horas para carregar totalmente um conjunto de baterias, em um carregador ligado à uma rede monofásica ou em um gerador a diesel de 220 V e 150 Amps.

Com esses números, a Pyka estima uma produtividade de 121 hectares/hora aplicando a 5 lts/ha, 90 hectares/hora aplicando a 10 lts/ha ou 70 hectares/hora a 20 lts/ha. O Pelican possui um sistema spray especialmente projetado para ele. Ele tem barras de alumínio soldadas com 24 bicos hidráulicos de jato cônico, especialmente projetados para sua menor velocidade de aplicação, ou oito atomizadores rotativos acionados eletricamente, os quais podem variar sua rotação (e consequentemente o tamanho das gotas) de acordo com os requisitos e condições da aplicação. Devido à velocidade relativamente baixa do Pelican 2, não há pressão aerodinâmica suficiente para acionar uma bomba eólica, de modo que sua bomba de pulverização também é elétrica, sendo capaz de manter defensivos não-solúveis em agitação no tanque mesmo quando a aeronave está no solo. O seu tanque de defensivos é abastecido através de uma conexão especialmente projetada para evitar derramamentos. Não há previsão para aplicações de produtos sólidos pelo Pelican 2 no momento.



Devido a limitações regulatórias, o Pelican 2 não pode ser operado ou transladado além da linha de visada. Para transporte entre diferentes locais de operação, o Pelican é entregue com um reboque, no qual é transportado com asas e barras removidas. Chegando no local de operação, são necessários cerca de 10 a 15 minutos para seu procedimento de montagem ou desmontagem. Uma vez configurado e com o voo programado para a lavoura a ser pulverizada, o Pelican voa de forma totalmente autônoma, com seu sistema de navegação GPS e sensores laser e radar. Enquanto voa, o Pelican recebe e envia dados para uma estação terrestre situada a até 10 quilômetros de distância (ou o dobro disso se uma estação repetidora for usada), a qual por sua vez faz o upload de todos os dados da operação para a Internet. Michael Norcia diz que dois Pelicans podem operar simultaneamente na mesma pista de pouso. Mais do que isso não é recomendado, pois os pousos e decolagens frequentes podem criar conflitos de tráfego.



Só porque não é tripulado, não significa que não precise ser seguro; o Pelican 2 possui um conjunto de sensores e controle totalmente redundante, e robustos procedimentos pré-programados em caso de perda do link de dados. Nesta situação, o Pelican 2 abortará a operação e retornará à pista de pouso. Ele também é capaz de voar com três de seus quatro motores, caso um deles entre em pane, e também retornará prontamente à pista de pouso nesse caso.
Um operador humano é necessário para supervisionar a aplicação, principalmente para evitar conflitos de espaço aéreo com outras aeronaves (tripuladas ou não) e antecipar um eventual cancelamento de serviço devido à condições meteorológicas. O software do Pelican monitora continuamente os parâmetros climáticos e abortará automaticamente uma missão de pulverização se seus sensores detectarem condições como inversões de temperatura ou possíveis condições de deriva. Mas o ideal é que o operador humano interrompa a sua operação ao primeiro sinal de deterioração das condições, evitando aterrissagens carregadas e sobras de misturas de caldas no local da operação. O Pelican tem um componente máximo de vento de través demonstrado de 18 nós para pousos e decolagens, e a Pyka afirma que a maior vantagem do Pelican é sua capacidade de pulverizar à noite, quando as condições de aplicação geralmente são ideais.
A Pyka estima que se demore de uma a duas semanas para se treinar um operador de Pelican, dependendo de sua experiência anterior.

Como qualquer aeronave, o Pelican 2 possui requisitos de manutenção, com um intervalo de inspeções sugerido de 100 horas. As baterias são garantidas por três anos ou 1.000 ciclos (o equivalente a três anos com 1.000 horas de operação/ano). Elas foram testadas até 1.800 ciclos. Outros componentes como motores, hélices e peças do trem de pouso terão suas substituições demandadas conforme o desgaste operacional.
No momento, a Pyka não tem intenção de fazer uma versão maior do Pelican 2; Michael Norcia afirma que o foco da empresa é refinar seu projeto e torná-lo “extremamente fácil de usar e extremamente confiável”. A Synerjet Agro já tem encomendas para 20 Pelicans neste primeiro ano, com entregas previstas para 2026, e espera vender 100 unidades por ano depois disso. A princípio, a Synerjet Agro pretende focar inicialmente suas vendas no Brasil e posteriormente expandir para outros países da América Latina, à medida que sua experiência com o Pelican 2 amadurecer. Tanto Michael Norcia como Mateus Dallacqua destacam que a futura produção do Pelican 2 no Brasil é uma possibilidade.
