A Aviação Agrícola sob a Lupa

A Drª. Maísa Santos Joaquim é Coordenadora do Núcleo em Atividades Aeroagrícolas – NEAAGRI/UnB, Pesquisadora e Professora da Universidade de Brasília e coordenadora de pesquisa da AMAG.

Desmistificando Mitos e Revelando o Futuro da Agricultura

A aviação agrícola é uma ferramenta fundamental para a modernização da agricultura, especialmente no Brasil, onde suas características territoriais e econômicas exigem soluções inovadoras para aumentar a produtividade e garantir a segurança alimentar.

É uma das ferramentas mais sofisticadas do agronegócio e frequentemente é vítima de uma dicotomia: enquanto impulsiona a produtividade com precisão cirúrgica, carrega o peso de mitos que a associam a danos ambientais e riscos à saúde. 

Este trabalho, apresentado como TCC, em março de 2025, na Universidade de Brasília, pela ex-aluna, hoje, Engenheira Agrônoma Geovanna Gama Bonifácio, orientada pela Professora Doutora Maísa Santos Joaquim (Coordenadora do Núcleo de Estudos em Atividades Aeroagrícolas – NEAAGRI), mergulhou fundo nesse paradoxo, revelando como a desinformação molda a percepção pública e como a realidade tecnológica do setor desafia esses estereótipos. A pesquisa destaca marcos importantes nas regulamentações internacionais que regem o setor, mostrando como essas normas são cruciais para o controle dos impactos ambientais e para a segurança operacional das atividades aéreas no campo. 

Para sentir o pulso da opinião pública sobre o tema, foi elaborado um questionário estruturado com perguntas fechadas e abertas, coletando dados sobre o conhecimento, percepções e mitos que cercam a aviação agrícola. O questionário se dividiu em três partes principais: o perfil sociodemográfico dos participantes, seu conhecimento sobre o setor, e as percepções em relação aos impactos da aviação agrícola. Com base em pesquisa bibliográfica, questionários aplicados a 60 participantes dos setores de educação, saúde, profissionais do agronegócio, estudantes universitários e análise de mídia, o estudo expôs um cenário intrigante: 70% dos entrevistados reconhecem a importância da aviação agrícola, mas 45% ainda acreditam em “contaminação generalizada” — um mito desmontado por regulamentações rigorosas e inovações como drones e GPS anti-deriva (SINDAG, 2023; Santos et al., 2021). 

A aviação agrícola não é mais a mesma dos anos 1950, nos últimos 10 anos evoluiu de maneira muito rápida, equipada com bicos anti-deriva, sensores hiperespectrais e drones, ela reduz em até 90% o desperdício de defensivos (Ferreira & Oliveira, 2022). O GPS, por exemplo, permite mapear lavouras com precisão milimétrica, enquanto drones pulverizam áreas inacessíveis sem riscos para trabalhadores rurais (Machado & Santos, 2022). O Brasil é referência em normas para o setor. A Lei nº 7.802/1989 e a Resolução ANAC nº 153/2015 estabelecem protocolos rígidos, como zonas de buffer para proteger comunidades e reservas ambientais (BRASIL, 1989; ANAC, 2020). 

Curiosamente, apenas 22% dos entrevistados conheciam essas leis — uma lacuna que alimenta desconfiança. A mídia tem um papel ambíguo. Reportagens como as do Senado Federal (2023) destacam riscos da pulverização aérea, mas ignoram que hortifrutigranjeiros (não tratados por aviões) lideram casos de resíduos químicos (INCA, 2015). Já a Revista Avag (2021) alerta: a aviação agrícola é vítima da “Espiral do Silêncio”, onde mitos ecoam mais que fatos. Os dados do questionário revelaram contradições fascinantes:

  • 60% veem impactos positivos (produtividade, sustentabilidade).
  • 25% temem contaminação, mesmo em regiões sem operações aéreas.
  • 80% nunca receberam informações técnicas sobre o tema.

A nuvem de palavras gerada no estudo (Figura 1) sintetiza o dilema: termos como “deriva” e “contaminação” dominam o discurso, enquanto “sustentabilidade” e “precisão” ficam em segundo plano.

Figura 1: Nuvem de Palavras Pesquisa Bibliográfica: Aviação Agrícola.  Autora: Bonifácio (2025)

Os resultados da pesquisa demonstraram um descompasso entre a realidade da aviação agrícola e a percepção pública. Embora mais de 60% reconheçam a importância da aviação para a produtividade agrícola, 25% associam a atividade a riscos de contaminação ambiental e deriva de defensivos. Esse medo é alimentado pela falta de informações precisas e campanhas educativas que poderiam esclarecer o papel da aviação agrícola e os avanços que mitigam esses riscos. Para transformar a percepção pública, o estudo propõe ações ousadas:

1.Campanhas Educativas em Escolas e Redes Sociais: Simplificar jargões técnicos com vídeos e infográficos.

2.Transparência Radical: Abrir as portas de operações aéreas para jornalistas e comunidades.

3.Aliança com a Mídia: Produzir documentários que mostrem como um drone evita a deriva ou como o GPS reduz o uso de agroquímicos.

“A aviação agrícola não é vilã nem heroína — é uma tecnologia que precisa de diálogo. Seu potencial para alimentar o mundo com menos recursos é inegável, mas só será plenamente aceita quando a sociedade enxergar além dos mitos.”  Bonifácio (2025).

Por que este trabalho surpreende?

  • Dados impactantes: Revela o abismo entre realidade e percepção.
  • Soluções práticas: Vai além da crítica, propondo ações viáveis.
  • Narrativa vibrante: Transforma um tema técnico em uma história de inovação e desafios.

Prepare-se: o futuro da agricultura está nos céus — e na palma da sua mão, através da informação.