Nos primeiros dias da 1ª Guerra Mundial, não existiam manuais sobre combate aéreo. Os aviões eram mal projetados para a missão. As células eram frágeis, os motores pouco confiáveis e o treinamento de voo era mínimo. (Isto lembra muito o início da aviação agrícola nos anos 1920).
Isto mudou radicalmente quando Oswald Boelcke, um ás da caça alemã, escreveu um livrinho sobre táticas aéreas chamado de Máximas de Boelcke (Dicta Boelcke no original em alemão). Tratava-se de uma lista de regras fundamentais, destinada a orientar pilotos quanto ao combate aéreo, e foi tão bem sucedida que Forças Aéreas de ambos os lados da guerra a adotaram. Ao longo do tempo, aqueles princípios de combate aéreo se expandiram até se tornarem a base do treinamento em combate aéreo nos EUA e no Canadá.
Formalizar táticas de combate aéreo foi revolucionário, em uma época na qual pilotos de reconhecimento de lados opostos trocavam acenos quando se cruzavam. As coisas mudaram rapidamente quando passaram a levar armas leves nos aviões, e logo depois, metralhadoras montadas na estrutura. As Máximas de Boelcke cobriam oito princípios fundamentais; um dos mais famosos era atacar com o sol por trás, essencialmente se escondendo de seu oponente no clarão do sol.
Esta parte da história da aviação certamente soa familiar quando lembramos do início e do crescimento da aplicação aérea. Não é surpresa que tenham sido pilotos militares a fazer as primeiras experiências no uso de aviões para tratar infestações em lavouras. Em 1921, um Curtiss JN4 do United States Army Air Service (Serviço Aéreo do Exército dos Estados Unidos, precursor da Força Aérea dos EUA), pilotado pelo Tenente John Macready, espalhou pó de arseniato de chumbo para combater mariposas que infestavam um reflorestamento de árvores catalpa, cultivadas para serem usadas como postes, no estado de Ohio.
De muitas maneiras, a aplicação aérea é uma espécie de combate, onde o inimigo é uma enorme variedade de pragas, incluindo ervas invasoras, insetos e fungos, e o sucesso em proteger as lavouras destas pragas é uma combinação do melhoramento das tecnologias de aplicação com um contínuo aprimoramento no treinamento de pilotos agrícolas. Isso levou ao estabelecimento de cursos profissionais de aviação agrícola, e de associações nacionais e estaduais para fornecer liderança ao desenvolvimento contínuo da atividade aeroagrícola.
Esse desenvolvimento tem registrado grandes avanços na formação abrangente, tanto inicial como continuada, dos pilotos agrícolas de hoje, incluindo a criação de regras escritas e não escritas para orientar pilotos, tanto novatos como experientes, nas suas atividades diárias de voo. Muitas destas regras já se tornaram procedimentos operacionais padrão bem estabelecidos na atividade de aplicação aérea.
Aqui estão algumas sugestões de máximas a serem incluídas nessa lista em evolução:
1. Segurança em primeiro lugar. Esta é uma regra sem exceção, que deve permanecer como a base para todas as empresas bem sucedidas. Um critério simples deve ser usado para avaliar cada voo. O voo será seguro? Será efetivo? Se a resposta para ambas as questões não for um imediato e inequívoco “Sim!”, é hora de repensar e replanejar o voo. Correr pela pista com aquela desconfortável sensação de se estar forçando demais os limites ou de se ter esquecido um elemento principal da inspeção pré-voo não é a maneira correta de se operar.
2. Conheça seu avião. Ser capaz de decolar e pousar um avião é apenas o início de onde você precisa estar no domínio de sua operação. Há uma necessidade de uma completa compreensão das características de voo de seu avião em diferentes condições de carga, incluindo características de estol, tanto em voo reto e nivelado como durante manobras. Entrar em um pré-estol ou estol completo a apenas 60 metros do chão é uma péssima maneira de se começar (ou terminar) as atividades do dia
Em uma nota pessoal, recebi mentoria de um piloto neozelandês altamente profissional e experiente no início de minha carreira na aviação agrícola. Sua regra básica quanto a adaptação a um novo avião era de que são necessárias 100 horas de voo para um piloto dominá-lo ao ponto de ser capaz de lidar com qualquer eventualidade. Lembre-se daquele ditado que diz que pilotos superiores são aqueles que usam julgamento superior para evitar situações que exijam habilidades superiores.
3. Conheça o seu equipamento. O equipamento de aplicação aéreo moderno tem hardware e software notáveis por sua capacidade de depositar defensivos na lavoura com uma precisão sem precedentes. Longe vão os dias de “bandeirinhas” na lavoura ou mesmo o uso de sinalizadores largados do avião para marcar as faixas já aplicadas. Mas como qualquer sistema informatizado, leva tempo e alguma prática para se tornar realmente familiarizado com eles e se operá-los com sucesso e segurança. Um excelente lugar para começar a conhecê-los é no solo, com um bom treinamento inicial repetido nas safras seguintes, para se retirar um pouco da “ferrugem” da entressafra.
4. Conheça a si mesmo. Uma das exigências da operação aeroagrícola é passar longas horas na cabine, muitas vezes com pouco sono e frequentemente em locais não familiares, onde as condições podem ser bem diferentes daquelas da base. É difícil ser objetivo quanto aos níveis de desempenho e habilidade de alguém, especialmente quando há muita pressão para se voar em condições marginais. Antes de se arriscar a fazer um trabalho inferior, tire uma folga do voo e volte quando as condições estiverem favoráveis. E esteja sempre alerta quanto ao excesso de confiança que surge quando suas habilidades de voo se tornam bem desenvolvidas. É muito fácil de se morder um pedaço maior do que se pode mastigar, justo quando os duendes da aviação agrícola atacam, na hora mais inoportuna.
5. Se mantenha informado quanto à meteorologia. Há poucos trabalhos na aviação onde a diferença entre um excelente serviço e algo não tão bom é a dinâmica da meteorologia. Mudanças de ventos, turbulências mecânica e térmica, altitude densidade, falsos horizontes, efeitos de vale, inversões… A lista vai longe. Lembre-se de se manter sempre ciente a respeito das condições atuais e das mudanças do tempo, particularmente quando você viaja para um local longe da base, onde o desempenho de seu avião pode ser seriamente reduzido.
6. Não voe de cara para o sol. Isso lembra uma das regras de Boelcke, de atacar com o sol por trás de você. É fácil não conseguir ver uma pequena torre, uma rede elétrica ou outros obstáculos quando se voa com o sol na cara, principalmente quando o sol está baixo e seu pára-brisa está precisando de uma boa limpeza. Eu já me vi com um pára-brisa cheio de insetos restringindo tanto a visibilidade na direção do sol que abortei um “tiro”, fechando o spray e voando aquela faixa em uma altura segura, dando a volta depois para fazê-la com o sol pelas costas.
Estas são apenas algumas sugestões, com o foco principal em terminar as operações aeroagrícolas do dia com segurança e efetividade. Lembre-se, você está lutando uma guerra todos os dias para proteger o suprimento alimentar de um mundo faminto, e você quer que todo mundo volte para casa em segurança no final do dia.