InícioInternacionalDicas da Neurocirurgiã: Aumente suas Chances de Sair Andando de um Acidente

Dicas da Neurocirurgiã: Aumente suas Chances de Sair Andando de um Acidente

pela Dra. Samantha Parker

Quando falamos de acidentes de motocicleta, costumamos dizer que “não é questão de se, mas de quando”. Infelizmente, o mesmo dito parece se aplicar a pilotos de aeronaves de pequeno porte, e em minha quase década atuando junto à comunidade aeronáutica, ainda não encontrei um único piloto que não tenha “derrubado” pelo menos um avião. Aplicadores aéreos trabalham em um ambiente com vários obstáculos, altitude mínima e tipicamente uma janela de frações de segundo nas transições de procedimentos normais para anormais ou de emergências potenciais.

Vamos comparar números? De acordo com a National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA – Administração Nacional para Segurança do Tráfego Rodoviário) e a National Transportation Safety Board (NTSB – Diretoria Nacional de Segurança nos Transportes), a ocorrência de fatalidades por 100.000 veículos registrados é de 127 para aeronaves da aviação geral, comparado com 58 em motocicletas e 11,9 em automóveis. Examinando especificamente os números da aviação, o CDC informa que a ocorrência de fatalidades entre pilotos agrícolas (em mortes por 100.000 horas de voo) é três vezes maior do que a de pilotos de outras aviações.

O melhor estudo até hoje foi realizado por Wiegmann et al.em 2003, no qual 559 autópsias foram realizadas para analisar os padrões das lesões sofridas por pilotos em acidentes na aviação geral. As lesões de maior ocorrência foram fraturas das costelas (72,3%), do crânio (55,1%), dos ossos da face (49,4%) e da pelve (36%). Os traumas por ação contundente resultaram em hemorragias internas, incluindo do fígado (48%), dos pulmões (37,6%), do coração (35%) e do cérebro (33%). 

Entre 70 a 80% das mortes foram atribuídas à desaceleração brusca da face ou da cabeça, também chamada de “segunda colisão”, na qual o corpo é jogado dentro da cabine.

Um segundo estudo realizado pela FAA em 2009, sobre autópsias em pilotos mortos no Alasca entre os anos de 2004 a 2009, sugeriu que pelo menos 33 vidas poderiam ter sido salvas pelo uso de capacetes.

Vamos recapitular. Acidentes ocorrem com maior frequência na aviação agrícola do que em praticamente qualquer outra atividade com veículos motorizados. A ocorrência de fatalidades ou de incapacidades severas (definidas como aquelas onde se fica dependente de terceiros para todas as atividades da vida cotidiana) em acidentes ocorridos na aviação agrícola se aproxima de 65%, e a grande maioria destas mortes são devidas a lesões na cabeça causadas pelas colisões do corpo do piloto com o interior da cabine durante a desaceleração. 

Assim, o que se pode fazer? 

  • Use um capacete com visor ou proteção ocular. Os capacetes absorvem o impacto da colisão, reduzindo o risco de lesões traumáticas cerebrais, as quais têm consequências de longo prazo. Mesmo que uma lesão ocorra, o uso do capacete pode reduzir significativamente sua severidade, com o potencial de tornar uma situação de risco de vida em uma com possibilidade de sobrevivência. Pilotos que usam capacete tem uma maior chance de sobreviver a acidentes, com menor necessidade de intervenções neurocirúrgicas.
  • Cintos de segurança de cinco pontos reduzem o risco do piloto ser jogado do assento contra o painel de instrumentos, o teto ou as janelas, o que é a principal causa de lesões por colisão secundária e do consequente trauma contundente a ossos e órgãos internos. 
  • A AmSafe oferece airbags de cinto de segurança, os quais se tornaram opções padrão na maior parte das aeronaves novas e podem ser facilmente retrofitados em assentos de aeronaves mais antigas, para prevenir ainda mais lesões por colisões secundárias e por “efeito chicote” da coluna cervical.

Então, por que ainda há pilotos que não usam capacetes e cintos de cinco pontos? 

Os motivos mais frequentemente alegados são a falta de conforto, a visibilidade reduzida, o custo e, sejamos francos, a vaidade. Há um padrão de capacete definido pela FAA para uso por pilotos dos modelos AT-504, AT-802 e AT0802A da Air Tractor, o qual segue as normas para capacetes DOI/USFS, Mil-Spec, e DOT. Embora a FAA não exija o uso de capacetes em outros modelos da Air Tractor, recomenda-se aos seus pilotos que usem um capacete de voo apropriado. Os capacetes modernos são projetados com o conforto em mente, tornando-os menos incômodos e mais provável que sejam usados frequentemente.

A aviação em geral é conhecida por ter os maiores padrões de segurança de qualquer atividade. É a aviação que a medicina emula em nossas tentativas de aumentar a segurança dos pacientes, incluindo checklists antes de cirurgias e procedimentos de comunicação com o cotejamento das mensagens. Lidere pelo exemplo, usando capacete e colocando e ajustando adequadamente seu cinto de segurança – isto gera um padrão que encoraja outros a adotar estas medidas, gerando uma cultura de segurança. 

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