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Papo de Cabine – O impensável aconteceu no Rio Grande do Sul

Se você está lendo isto em uma edição impressa, certamente está lendo atrasado. Isso é porque AgAir Update no Brasil fica sediada no estado do Rio Grande do Sul, e como todos aqui, fomos afetados pela pior cheia jamais ocorrida no estado, maior ainda do que a enchente de 1941 que costumava ser a referência histórica em cheias. Uma frente fria estacionária fez cair um terço da quantidade anual de chuva em apenas cinco dias, inundando toda a região central do estado, incluindo a capital Porto Alegre. Nossa edição impressa está atrasada porque os Correios no estado pararam com o serviço normal, para dar prioridade ao transporte de itens essenciais para os afetados pelas cheias, dado que meio milhão de pessoas tiveram de sair de suas casas e 80.000 delas não tem mais casas para retornar. Considerando o número de pessoas ainda desaparecidas, o número de mortos provavelmente passará dos duzentos. A tragédia está sendo comparada ao furacão Katrina que atingiu New Orleans em 2005.

Muitos corajosos cidadãos particulares se voluntariaram, e com seus barcos, jet skis e caminhonetes 4X4, começaram a socorrer vítimas que mal tiveram tempo para buscar refúgio em locais mais altos –  muitas vezes telhados e árvores. O mesmo fizeram muitos pilotos e empresários aeroagrícolas. Em todo o estado, pontes e rodovias foram arrastadas pela força das águas, deixando muitas cidades totalmente isoladas. Assim que a meteorologia permitiu, muitos operadores se valeram da capacidade de carga e de operar em pistas improvisadas de seus aviões agrícolas para transportar alimentos e água potável para aquelas comunidades isoladas. São muitos os que tiveram esta nobre iniciativa, demais para serem nomeados aqui sem o risco de esquecer algum. Graças a eles, muitas pessoas pelo menos tiveram alimento e água até que reparos emergenciais nos acessos rodoviários às suas cidades pudessem ser feitos. Você pode ler mais sobre isto na seção de Atualizações do Sindag, na página 36 desta edição.

Os efeitos deste evento na economia do estado se refletirão por anos, inclusive na agropecuária, posto que muitas lavouras e criações de animais foram perdidas nas águas. Até mesmo a capital Porto Alegre ficou quase completamente isolada, com os dois principais acessos rodoviários que a conectam ao estado totalmente inundados ou com pontes derrubadas pela força das águas. O Aeroporto Internacional Salgado Filho, situado em um dos bairros mais baixos da cidade, teve sua pista completamente submersa por quase três semanas e não se espera que volte a ficar operacional antes de setembro. No mesmo bairro, costumavam morar quinze colaboradores da Travicar. Eles perderam tudo que tinham em suas casas. Como você sabe, a Travicar é uma das mais tradicionais fornecedoras de equipamentos para aviação agrícolas no Brasil. Além de produzir uma linha completa de componentes para sistemas de aplicação, como comportas para hopper, bombas, barras, difusores de sólidos, filtros e outros, para praticamente todos os modelos de aviões agrícolas em operação hoje, a Travicar também produz um sistema GPS adotado por vários operadores no Brasil. É muito provável que você voa ou já voou em um avião equipado com algum produto da Travicar, fabricados pelas mãos destas pessoas que hoje perderam tudo na enchente. Você poderia considerar fazer uma demonstração de gratidão, através de uma doação pelo pix na página seguinte. Qualquer valor será muito bem recebido.

Mas enquanto tudo isso acontecia, a equipe de AgAir Update não deixou de trabalhar para trazer para você, leitor, o melhor conteúdo em aviação agrícola do mundo. Felizmente, nós já tínhamos o artigo de capa sobre a Águas Claras Aviação Agrícola pronto antes das chuvas começarem a cair. Como sempre, nós esperamos que você tire algum proveito da interessante história desta empresa. No mesmo dia em que a chuva começou a cair, eu estava viajando para a Flórida, onde visitei o “Mr. Baixo Volume” Alan McCracken. Na frente da sua garagem, sob o quente sol da Flórida, Alan me fez uma eloquente demonstração. Com um pequeno atomizador rotativo manual, Alan primeiro pulverizou água sobre um espelho. As gotículas desapareceram por evaporação em poucos segundos. Então Alan adicionou um óleo adjuvante à água do pulverizador e repetiu a aplicação no espelho. Vinte minutos depois, as gotículas continuavam lá –  e provavelmente permaneceram por muito mais tempo, mas tivemos de interromper nossa experiência para ir visitar uma empresa fabricante de drones. Alan é um dos mais reconhecidos e experientes especialistas em aplicação aérea no mundo, e é difícil de se discutir com o sucesso de seus inúmeros clientes em mais de cem países no mundo. Você pode ler o seu instigante artigo na página 16 desta edição.

Devido à inundação no aeroporto de Porto Alegre, não pudemos participar da Convenção Paranaense da Aviação Agrícola promovida pela Zanoni em Paranavaí, no Paraná. Mas Lucas Zanoni fez a gentileza de nos enviar um relato para que você saiba do que ela se tratou, na nossa página 40.

Junte-se a estes artigos o trabalho de nossos demais autores contribuintes e eu tenho certeza que você não ficará desapontado com esta edição.

Boa leitura!

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