Todo piloto e operador aeroagrícola sabe o quão importante a aviação agrícola é como ferramenta de produção para a produção de alimentos e fibras. Mas geralmente a aviação agrícola é chamada por um produtor apenas quando a necessidade aparece – lagartas ou fungos aparecem na sua lavoura e ele chama o avião; raramente um produtor planeja suas lavouras pensando na aplicação aérea. Não é o caso da DB Agricultura e Pecuária, uma empresa familiar do interior de Minas Gerais, onde a diretoria e os engenheiros agrônomos aprenderam a planejar suas lavouras para obter o melhor uso de seus dois aviões agrícolas, maximizando sua eficiência.
A DB Agricultura e Pecuária foi fundada em abril de 1976 pelo gaúcho Décio Bruxel, que nasceu em Arroio do Meio, morou em Santa Catarina e foi para Minas Gerais para ajudar a introduzir a cultura da soja naquele estado. Mas seu sonho era criar uma empresa de suinocultura de ponta. Ele realizou este sonho na segunda fazenda que comprou, a Fazenda São João, em Varjão de Minas, uma pequena cidade a cerca de 60 km a leste de Patos de Minas, MG, onde hoje fica a sede administrativa da DB.
Para sua criação, Décio procurou por uma genética suína que rendesse reprodução abundante e boa produção de carne, além de ser dócil e fácil de manejar. Foi na distante Dinamarca que ele encontrou estas qualidades, em uma empresa melhorista de genética suína chamada de Danbred, com a qual fez uma parceria e que por uma feliz coincidência também pode ser abreviada como “DB”.
A DB Agricultura e Pecuária começou a plantar milho unicamente com o propósito de fazer ração para sua suinocultura – e logo descobriram que a aviação agrícola é fundamental para se obter uma boa produção deste cereal. Mas não sem resistência, como Daniel Bruxel, um dos filhos de Décio, relata: “No começo havia alguma resistência contra o avião, até pela desconfiança de suas razões mais baixas, mas depois que começou, não teve volta”. Hoje, Daniel, seu irmão Marcos e sua irmã Cristina ajudam seu pai Décio na gestão da empresa. A DB Agricultura e Pecuária inicialmente terceirizava a aplicação aérea com uma empresa aeroagrícola, mas acabaram ficando insatisfeitos com ela. Com o crescimento da área plantada, a DB passou a solicitar que a empresa deixasse um avião permanentemente à sua disposição na Fazenda São João, porém frequentemente a empresa tirava o avião de lá com a promessa de retornar em breve e demorava vários dias para voltar.
Assim, em 2013 a DB Agricultura e Pecuária decidiu comprar um Ipanema EMB-202 novo e dispensar a empresa terceirizada. Mas eles não tinham um piloto, até que Rodrigo Mesquita Bueno ouviu em uma conversa de aeroporto que uma fazenda estava precisando de alguém para transladar seu Ipanema zero da fábrica até a sua base. Rodrigo, que nasceu em São Paulo mas se criou e aprendeu a voar no Rio Grande do Sul, fez seu CAVAG na Aero Agrícola Santos Dumont em 2007. Quando entrou em contato com a DB, ele já era um piloto agrícola veterano, tendo feito sua primeira safra na Bahia em um Pawnee, três safras em Dom Pedrito, RS, em um Ipanema e um Cessna e duas safras no estado de Goiás.
Rodrigo conversou com Décio e Daniel e acertaram o translado. Ele pensava que apenas transladaria o avião para a fazenda e ajudaria o pessoal da DB a organizar sua operação, dado que estava contente com seu emprego em Goiás. Mas então Daniel lhe fez uma proposta de trabalho boa e desafiante do ponto de vista profissional, e Rodrigo está lá desde então, tendo levado sua família de Osório, RS, para morar em Patos de Minas, depois de um tempo.
Inicialmente, Rodrigo deveria tratar apenas de 7 mil hectares de milho, mas ao final de seu primeiro ano na DB, ele já tinha voado 42.000 hectares! No ano seguinte, com ajuda dos engenheiros agrônomos da empresa e através de meticulosos testes, eles reduziram a vazão da maioria das aplicações de 20 para 8 litros por hectare, “O que foi fundamental para aumentar o rendimento do Ipanema, além de poupar água”, disse Rodrigo. O sucesso das colheitas levou a DB Agricultura e Pecuária a aumentar a área plantada, adquirindo outras fazendas e plantando culturas adicionais. Hoje, além do milho (que continua todo destinado à ração animal), a DB planta soja, algodão, feijão, tomate, aveia, milheto, trigo mourisco, mamona, ervilha, seringueiras, café, milho doce e mais recentemente, uvas viníferas para a vinícola da empresa, a Casa Bruxel, aproveitando a altitude da fazenda, mais de 1.000 metros acima do nível do mar. “Só não plantamos cana e arroz”, diz Rodrigo. Estas culturas são plantadas em dez fazendas sob o nome São João na região de Patos/Varjão de Minas, e em mais três fazendas – Saco da Tapera, Saco do São Francisco e Extrema – no município de São Romão, também no estado de Minas, 254 km ao norte da Fazenda São João. Para completar, a DB Agricultura e Pecuária também cria gado bovino em confinamento, em sua operação em São Romão, onde ainda tem sua própria algodoeira.
Com o aumento de culturas e da área plantada, em três anos o Ipanema precisou fazer duas revisões gerais de motor! Claramente, o EMB-202 não estava à altura do volume de serviço. A DB Agricultura e Pecuária se viu comprando pulverizadores terrestres para tratar as áreas que o Ipanema não conseguia fazer a tempo, mas a experiência mostrou que suas aplicações eram inferiores às aplicações do avião. Assim, em 2017 a DB Agricultura e Pecuária trocou seu Ipanema por um Air Tractor AT-402B novo através da AgSur Brasil. Rodrigo elogia muito o apoio dado pela AgSur Brasil na sua conversão do Ipanema para o AT-402B. Após treinar no simulador de Air Tractor da AgSur, Rodrigo foi enviado para a Pachu Aviação Agrícola, onde fez um curso teórico com o saudoso Diego Preuss da DP Aviação e voou no Air Tractor AT-504 duplo-comando da Pachu, com Marcelo Amaral “China” como seu instrutor. E finalmente, Rodrigo foi mandado para os Estados Unidos, onde fez um curso na Covington Aircraft sobre o motor Pratt & Whitney PT6A-15AG do AT-402B.
A chegada do Air Tractor causou uma mudança radical na operação da DB Agricultura e Pecuária. A essa altura, os engenheiros agrônomos da empresa já tinham se dado conta da efetividade da aplicação aérea, e começaram a planejar as lavouras da DB desde a semeadura para otimizar seu uso. Eles buscaram alinhar lavouras de culturas similares (muitas delas em pivôs centrais) para resultar em “tiros” mais longos, de até 4 km; evitaram plantar culturas incompatíveis em quadros adjacentes e buscaram trocar fertilizantes sólidos por líquidos. As pistas agrícolas das fazendas foram ampliadas para ter 1.000 X 30 metros, tanques de combustível Jet A-1 foram instalados nas duas bases principais e os equipamentos de pré-mistura tiveram seus conectores trocados de duas para três polegadas.
Com isto e o desempenho do Air Tractor AT-402B, foi reduzida a necessidade de se operar em pistas fora das bases principais, evitando a movimentação da equipe de terra. Rodrigo cita como exemplo algumas aplicações que são feitas a 2 litros por hectare, como malathion no algodão; com a potência do motor PT6A-15AG do AT-402B, ele conseguia decolar com carga e combustível completos – e pulverizar 700 hectares em um único voo de duas horas e meia!
Em 2023, o AT-402B estava se aproximando das principais manutenções preventivas, tanto da célula como do motor, e inspirados por seu sucesso, os Bruxel decidiram trocá-lo por outro Air Tractor, um AT-502XP, escolhido por sua potência extra devido à altitude média das fazendas, de 3.000 pés ASL. Mas na última hora, eles decidiram manter os dois Air Tractors! O motivo foi a distância entre as fazendas São João em Varjão de Minas e as três fazendas da DB em São Romão: 254 km em linha reta (um translado de uma hora nos Air Tractor) e cerca de 450 km por rodovia. Como o clima nas duas localidades pode ser radicalmente diferente, acontecia frequentemente do avião estar retido por mau tempo em uma localidade enquanto na outra o tempo estava bom e havia necessidades prementes de aplicação aérea! O clima em São Romão é mais quente e seco do que em Varjão de Minas, o que favorece o desenvolvimento de pragas que demandam pulverização imediata para evitar perdas. Este clima seco faz com que todas as culturas em São Romão sejam plantadas em pivô central, 56 no total.
Assim, o AT-402B passou pelas revisões gerais de célula e motor e o piloto Rodrigo Dotti foi contratado para operá-lo na região de São Romão, enquanto que Rodrigo Mesquita Bueno segue voando o AT-502XP na Fazenda São João. As duas aeronaves fazem praticamente a totalidade das aplicações de defensivos nas fazendas da DB Agricultura e Pecuária, exceto por algumas áreas próximas a culturas sensíveis (geralmente pertencentes a vizinhos) ou de preservação ambiental, as quais são tratadas por pulverizadores terrestres.
Com a variedade de culturas cultivadas pela DB Agricultura e Pecuária, seus aviões voam praticamente o ano inteiro, com uma redução do serviço na Fazenda São João de julho a outubro e na Região de São Romão apenas no mês de setembro. O AT-402B em São Romão também é usado esporadicamente para combater incêndios, mas como isto não é muito frequente, a única mudança no equipamento do avião foi a instalação de um suspiro do hopper maior, da Zanoni, para melhorar a vazão de lançamento. A DB Agricultura e Pecuária faz parte de uma parceria feita pelos bombeiros do Estado de Minas Gerais com vários operadores de Air Tractor da região para combate aéreo a incêndios, em caso de necessidade.
Os dois Air Tractors estão equipados com sistemas agrícolas Zanoni em aço inox. Com tantas culturas e necessidades de aplicação diferentes, os aviões da DB Agricultura e Pecuária aplicam em vazões que vão de 2 a 30 litros por hectare, e Rodrigo destaca que só os atomizadores rotativos Zanoni conseguem entregar esta gama de vazões ao mesmo tempo em que permitem alterar o tamanho da gota de maneira rápida e fácil. Além disso, eles são praticamente livres de manutenção, com sua construção em aço inox resistindo até a defensivos altamente corrosivos que ocasionalmente são usados. Os atomizadores rotativos são usados para 90% de todas as aplicações de líquidos, as restantes 10% (em sua maioria herbicidas) sendo feitas com bicos CP Nozzles da Transland. As poucas aplicações de sólidos ainda necessárias são feitas com difusores Swathmasters da STOL.
Enquanto que o Air Tractor AT-402B mais antigo tem um sistema GPS Ag-Nav Guia com barra de luzes externa, o AT-502XP mais recente está equipado com um Ag-Nav Guia Platinum com a nova barra interna em OLED transparente. Usados juntamente com fluxômetros, eles garantem a precisão e qualidade das aplicações dos dois Air Tractors, as quais são todas verificadas pelos engenheiros agrônomos da DB Agricultura e Pecuária.
Tendo começado como “apenas” uma empresa de suinocultura, os gestores e os engenheiros agrônomos da DB Agricultura e Pecuária gradualmente aprenderam como usar efetivamente a aviação agrícola para aumentar a produtividade de suas lavouras, acrescentaram novas culturas ao seu portfólio de produtos e agora se valem da aplicação aérea como uma ferramenta chave para produzir uma grande gama de produtos alimentares, incluindo um café de alta qualidade e em breve, vinho. Esta operação modelo – e seu sucesso – prova o valor da aviação agrícola como um meio fundamental na produção de alimentos e fibras para um mundo cuja população não para de crescer.