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Ivaí Aeroagrícola: Adaptando-se às mudanças!

O negócio da aviação agrícola frequentemente tem de enfrentar grandes mudanças, devido à flutuações do mercado e dos preços das commodities. Muitas vezes, o que era a safra principal em uma região alguns anos atrás deixa de ser, e as empresas aeroagrícolas locais se vêem com o desafio de se adaptar a estas mudanças de modo a sobreviver. Este foi o caso da Ivaí Aeroagrícola Ltda., uma empresa sediada na cidade de Engenheiro Beltrão, no Paraná, e batizada em homenagem ao Rio Ivaí, o qual banha uma considerável parte do estado.

Operada por Arnaldo Euclides Borges e sua esposa Silvana Coppo Borges, a história da Ivaí começou quando Arnaldo, que nasceu em uma família de agricultores e costumava trabalhar em uma oficina de automóveis, viu um avião agrícola operando em uma pista próxima. Ele tinha 17 anos na época, e na hora decidiu que era isso que queria fazer. Ele aproveitou a oportunidade para conversar com o piloto, perguntando como poderia se tornar um piloto agrícola também. Assim que pode, ele cursou piloto privado e comercial no Aeroclube de Londrina, depois fez horas lançando paraquedistas. Em 2003, Arnaldo se formou no CAVAG do Aeroclube de Ponta Grossa, ministrado pelo falecido Luiz Dell’Aglio.

Em sociedade com um amigo agricultor, Arnaldo então criou uma empresa chamada BW Aeroagrícola, adquirindo um Piper Pawnee 235 da Tangará Aeroagrícola Ltda, com o sr. Antônio Carlos da Silva, o “Carlito”.  No ano seguinte, eles compraram outro Pawnee, um Brave.  Apesar da empresa ter tido um razoável sucesso, em 2009 o sócio de Arnaldo decidiu sair da sociedade. Foi então que Arnaldo se associou a sua esposa Silvana para fundar a atual Ivaí Aeroagrícola. Além de cuidar das questões administrativas e legais, Silvana também é a Gestora de Segurança Operacional (GSO) da Ivaí Aeroagrícola e supervisiona a aplicação do programa de Boas Práticas Aeroagrícolas promovido pelo Ibravag.

Movida pelo trabalho duro do casal e pelo boom da cana-de-açúcar daquela época, a empresa cresceu, e em 2012 Arnaldo e Silvana concluíram que precisavam de um diferencial para a Ivaí Aeroagrícola se sobressair das outras empresas na concorrência pelos ambicionados contratos com as grandes usinas de cana-de-açúcar. Por isso, eles decidiram obter a certificação ISO 9001 para a Ivaí. Eles contrataram uma consultoria, que os auxiliou na introdução da metodologia 5S na Ivaí Aeroagrícola –  os “5 Sensos”: Senso de utilização, Senso de organização, Senso de limpeza, Senso de normatização e Senso de autodisciplina. Após isso, a Ivaí Aeroagrícola passou pelas cinco etapas necessárias para se obter a certificação, sendo a última uma auditoria por uma entidade certificadora.

A essa altura, a Ivaí Aeroagrícola estava operando cinco Piper Pawnees e dois Braves, e quase todo o seu trabalho era para uma grande usina de cana-de-açúcar da região. Arnaldo estava “namorando com medo”, como ele diz, um avião a turbina, preocupado com o tamanho deste passo, até que um amigo dele voou uma safra em um Air Tractor AT-402 e recomendou a Arnaldo que comprasse um.

Assim, em 2013 Arnaldo comprou um Air Tractor AT-402B da AeroGlobo Aeronaves, financiado. Sendo cauteloso com seu investimento, Arnaldo e outros dois pilotos da Ivaí fizeram o curso de conversão para turbina da AeroGlobo, em seu simulador de Air Tractor. Foi então que ocorreu a crise do mercado de cana-de-açúcar de 2014, e a usina que representava quase todo o serviço da Ivaí cessou suas atividades. Arnaldo e Silvana tinham um AT-402B para pagar e muito pouco serviço em vista.

Mais de uma empresa nesta situação fechou, ou pelo menos reduziu consideravelmente seu porte, mas não a Ivaí. Arnaldo e Silvana adaptaram-se à nova situação, mudaram o foco da empresa e passaram a visitar os pequenos produtores da região, os quais até então acreditavam que a aplicação aérea só servia para grandes áreas. Arnaldo e Silvana os fizeram ver que esse não era o caso, esclarecendo e mostrando a eles os benefícios da aplicação aérea mesmo em pequenas áreas. Desta forma, eles conquistaram cerca de 2.200 novos clientes. A maioria deles plantava em áreas de menos de 50 hectares, mas com a capacidade e a velocidade do AT-402B, a maioria destas aplicações podiam ser feitas com apenas uma carga, operando direto da base da Ivaí e evitando os custos de se deslocar pessoal e equipamento de apoio para pistas agrícolas.

Esta estratégia foi tão bem sucedida que, quando a crise da cana terminou, a Ivaí tinha os recursos para seu próximo grande passo: para poder atender as demandas tanto das usinas de cana que estavam retomando à atividade, e dos pequenos produtores que tinham mantido a empresa durante a crise, em 2020 Arnaldo e Silvana adquiriram dois Thrush 510P novos, em acréscimo ao AT-402B que já tinham. O primeiro foi entregue naquele mesmo ano e o segundo em 2021. Mais uma vez, Arnaldo decidiu proteger seu investimento e novamente foi com dois de seus pilotos para um curso de treinamento, desta vez na Thrush Aircraft do Brasil, também incluindo tempo em seu simulador de voo.

Hoje, Arnaldo não poderia estar mais satisfeito com os Thrush 510P, dizendo que eles se encaixaram muito bem na operação da Ivaí. Segundo ele, os dois Thrush conseguem fazer com folga o trabalho de quatro Pawnees, e Arnaldo diz que se a necessidade de ter mais um avião a turbina surgir, ele certamente será um Thrush. Além dos dois Thrush 510P e do Air Tractor AT-402B, a Ivaí hoje mantém um Piper Brave 375, para algum trabalho adicional.

Para apoiar estas aeronaves quando operam fora das bases, a Ivaí tem três caminhões e duas caminhonetes. Na região de Engenheiro Beltrão, a Ivaí opera em cerca de apenas dez pistas agrícolas, já que a maior parte das áreas pequenas são tratadas a partir da própria base da Ivaí, um aeródromo privado com uma pista de grama de 1.000 metros, com sua parte inicial, mas próxima do carregamento, em concreto. A Ivaí Aeroagrícola também tem uma base em Bela Vista do Paraíso, cerca de 160 km ao norte Engenheiro Beltrão, com um escritório e alojamento para o pessoal, quando necessitam operar em alguma das quatro ou cinco pistas agrícolas de lá, para seus clientes daquela região.

O senso de limpeza da metodologia 5S é levado muito a sério na Ivaí Aeroagrícola. Tudo – aviões, caminhões, instalações –  é mantido impecavelmente limpo. Até mesmo um antigo Grumman Ag-Cat pertencente ao falecido Cmdt. Sernai Giansante, um amigo de Arnaldo, que é mantido hangarado lá com seu motor removido, é mantido limpo e polido, parecendo que saiu da linha de montagem e está apenas aguardando a instalação do motor!

Enquanto que antes de 2014 quase 100% das aplicações da Ivaí Aeroagrícola eram na cana-de-açúcar, hoje, com a manutenção dos pequenos clientes, esta cultura compõe cerca de 50% do trabalho da Ivaí. O restante é dividido igualmente entre soja e milho, com exceção de um pouco de mandioca. Arnaldo diz com orgulho que neste ano a Ivaí não parou de voar, com as aplicações na cana ocorrendo o ano todo, apenas tendo havido uma redução nos meses entre julho e setembro. A fase mais movimentada do ano ocorre em dezembro, quando os tratamentos na soja se somam às aplicações na cana. A safra da soja termina em fevereiro, quando começa a safrinha do milho, que vai até abril.

Todos os aviões da Ivaí Aeroagrícola usam equipamentos de pulverização da Zanoni e unidades GPS da Travicar. Para as poucas aplicações de sólidos solicitadas, a Ivaí usa um Swathmaster da STOL em seu Piper Brave. As aplicações de líquidos na cana-de-açúcar são feitas na vazão de 30 litros por hectare, enquanto que as aplicações em soja e milho são feitas a 20 litros por hectare.

Arnaldo e Silvana dizem que hoje buscam “um crescimento contínuo, mas com os dois pés no chão” para a Ivaí Aeroagrícola. Tendo provado sua capacidade de se adaptar e mudar para enfrentar uma situação tão desafiadora como foi a crise da cana-de-açúcar de 2014, não temos dúvida de que eles conseguirão atingir este crescimento.

Vista aérea da base da Ivaí Aeroagrícola, de quando seu segundo hangar estava sendo construído, com seu Air Tractor AT-402B e dois Piper Braves em frente ao primeiro hangar.
A base auxiliar da Ivaí Aeroagrícola em Bela Vista do Paraíso-PR, com seu Air Tractor AT-402B.
Este venerável Grumman Ag-Cat pertencia ao falecido Cmdt. Sernai Giansante, um amigo de Arnaldo, e está hangarado na Ivaí com seu motor removido. É mantido tão limpo e polido que se poderia pensar que acabou de sair da linha de montagem e aguarda a instalação do motor! Os clássicos Jeep e Volkswagen 1300 de Arnaldo também são mantidos impecáveis.
Um dos Thrush 510P da Ivaí é retirado de um de seus dois hangares…
…enquanto que seu segundo Thrush aguarda em frente ao primeiro hangar da Ivaí.
O segundo Thrush 510P da Ivaí aguarda sua carga no pátio de carregamento, o qual tem um bem organizado equipamento de pré-mistura.
O Thrush branco e vermelho é o primeiro que a Ivaí recebeu. Arnaldo queria que ele fosse amarelo e azul como os demais aviões da empresa, mas isso atrasaria sua entrega em um mês e a Ivaí não podia esperar. Ele será pintado nas cores da empresa em sua próxima grande manutenção.
O Piper Brave 375, nas cores amarelo e azul da empresa.
A cabine do Brave 375, com a tela do GPS Travicar ao centro.
Um dos caminhões de apoio para os Thrushes, impecavelmente limpo como tudo o mais na Ivaí Aeroagrícola.
Arnaldo Euclides Borges e Silvana Coppo Borges, a força por trás da Ivaí Aeroagrícola.
Arnaldo e Silvana (no centro) com a altamente motivada equipe da Ivaí Aeroagrícola.
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