Apesar do fato de Charles “Slim” Lindbergh ter popularizado a aviação no Meio-Oeste, especialmente em torno de Lincoln, Nebraska, e em seu estado natal de Minnesota nos anos 1920, a aviação agrícola chegou lá um pouco atrasada.
Isso é meio estranho, porque os magníficos campos a perder de vista do grande cinturão de soberbas terras aráveis entre Illinois e Montana eram e ainda são um sonho de piloto agrícola. Mas a hora da aviação agrícola lá ainda não tinha chegado. Empresas de defensivos agrícolas e agências de pesquisa agrícola governamentais simplesmente não tinham aparecido ainda com produtos adequados para o controle da maioria dos insetos e ervas invasoras do Meio-Oeste que prejudicavam os produtores daquela região. Como resultado, a aviação agrícola estava geralmente confinada ao sul e ao sudoeste, na Califórnia.
Isto não quer dizer que não havia nenhuma aplicação aérea. Aplicações esporádicas foram feitas por aviadores pioneiros em diferentes locais, e já em 1929, pelo menos uma tentativa de semeadura aérea tinha sido feita no Nebraska.
Harold Wickersham, que ainda vive em Seward, Nebraska (Nota do Tradutor: em 1985), e seu amigo piloto Don Wright, também de Seward, fizeram uma tentativa bem sucedida de semear colza em uma lavoura de milho, em julho de 1929. Conforme Wickersham, “Julho de 1929 foi muito quente e seco, típico dos vilões daquela era. Fazia quatro anos que eu tinha saído do segundo grau, e eu ainda estava ajudando na fazenda de meus pais. Nós vivíamos a 1 km do que era então chamado de Seção de Wake. Meu tio e meu primo cultivavam a metade norte da fazenda e nós a metade sul. A maior parte do serviço era feito com cavalos e alguns empregados contratados.
“Entre meus muitos amigos da escola, estava Don Wright. Don era uma exceção. Ele estava destinado a coisas maiores, assim ele foi para Chicago, comprou um biplano Waco usado e aprendeu a voá-lo lá, depois o transladou voando de volta para Nebraska. Um avião era uma coisa rara naqueles dias, especialmente um pilotado por um rapaz da região, assim todo mundo na comunidade regularmente visitava nossa pastagem, onde Don mantinha o avião estaqueado.
“Naquela época, havia uma planta parecida com o nabo, chamada de colza, que muitas vezes era plantada por criadores como forragem para porcos. A colza tinha sementes muito pequenas e muito duras, as quais só precisavam ser jogadas no chão. Com um pouco de chuva, elas germinavam e criavam raízes. As sementes de colza geravam uma planta com folhas verdes e largas, algo tipo um repolho, e era uma pastagem muito boa.
“Meu pai tinha uma lavoura de milho, a qual ele desejava semear com colza, mas o milho ainda estava com 1,5 m de altura, então ele não sabia como fazê-lo. Don e eu concebemos a ideia de espalhar as sementes de avião. Lembro bem do saco de 25 kg de sementes que eu tentava segurar entre meus joelhos e do balde de um galão de capacidade, previamente enchido com sementes as quais eu planejava jogar para fora do avião.
“Decolamos e sobrevoamos a lavoura a cerca de 10 m de altura, e eu comecei a tentar jogar a sementes que estavam no balde. As sementes do balde foram jogadas, mas aí descobri que eu não conseguia encher de novo o balde com as que estavam no saco. Enquanto circulávamos para fazer mais uma passada, joguei o balde fora, coloquei a boca do saco na borda da cabine e esperei! Quando chegamos em cima da lavoura, comecei a derramar as sementes direto do saco. Elas se espalharam bem, e depois de uma boa chuva alguns dias depois, todas germinaram. Meu pai e nossos porcos ganharam uma bela pastagem!”
O Seward Journal, o jornal do município, relata este ocorrido na sua edição de 18 de julho de 1929.
Nesta época, em Timmonsville, Carolina do Sul, o aviador pioneiro M.B. “Dusty” Huggins estava se iniciando na aviação. Antes de terminar sua carreira, Dusty teria um papel principal na difusão da aviação agrícola nos quatro cantos do Meio-Oeste.
A história de Dusty parece um conto de fadas. Tendo crescido na pequena cidade de Timmonsville, no coração da famosa região de Pee Dee, Dusty inicialmente se interessou por ferrovias na juventude, e jurou que se tornaria um maquinista de locomotiva. O pessoal da linha férrea local mais ou menos adotou o menino, deu a ele um boné e um macacão de maquinista e deixava que ele ficasse na cabine da locomotiva enquanto a equipe trocava vagões ou a abastecia de carvão e água.
Um dia, Dusty ultrapassou sua autoridade e subiu na cabine enquanto os maquinistas estavam fora dela, alcançando e soltando a alavanca do freio. O grande trem de carga deu um arranco para frente, assustando Dusty consideravelmente. Demonstrando notáveis reflexos, ele agarrou a alavanca do freio e a puxou violentamente, fazendo com que o trem parasse tão subitamente que os foguistas, que corriam para a cabine, caíram rolando dentro do vagão de carvão! Este incidente foi o fim da carreira ferroviária de Dusty. Ao crescer, ele decidiu passar a fazer algo mais fácil, como voar!
(Continua no próximo mês)